O núcleo José Paulo Bisol, da Associação Juízas e Juízes para a Democracia, publicou nota
em que repudia veemente a intolerância e a violência simbólicas do enforcamento de um boneco, simbolizando uma pessoa negra, vestida com camiseta vermelha, com o número 13 e o nome do presidente Lula.
O fato ocorreu no sábado (25/11) pela manhã, em Pelotas, no Rio Grande do Sul, nas proximidades do trevo de acesso ao Capão do Leão, no final da avenida Duque de Caxias, e alcançou enorme repercussão junto às redes sociais, após a postagem de um vídeo em que um homem, em tom jocoso diz: “olha o que fizeram com o Lula, enforcaram o Lula”.
A ação criminosa foi realizada no mês da Consciência Negra - poucos dias após o 20 de Novembro, data que faz referência à luta pela libertação dos escravos e à resistência de Zumbi e Dandara de Palmares.
Após a realização de boletim de ocorrência, registrado pelo advogado Fábio Gonçalves, integrante da OAB Subseção de Pelotas e da Comissão de Igualdade Racial e por um representante do Conselho da Comunidade Negra em Pelotas, a Polícia investiga o caso e busca identificar a identidade dos autores do crime. O advogado Fábio Gonçalves disse à imprensa local "que na leitura feita pela comissão, assim como do Conselho da Comunidade Negra, não há casualidade e sim uma manifestação expressa de um crime de ódio".
OAB PEDE INVESTIGAÇÃO E RESPONSABILIZAÇÃO DOS AUTORES A Subseção de Pelotas da OAB/RS, por intermédio da Comissão de Igualdade Racial, se manifestou por meio de uma nota. "O enforcamento de um boneco negro é um ato repugnante, que fere não apenas os princípios éticos e humanitários, mas, também, agride profundamente a dignidade e os valores de igualdade racial que devem ser preservados e promovidos em nossa sociedade. É fundamental reforçar a importância da promoção da igualdade, do respeito e da valorização da diversidade", diz o texto.
No documento, a OAB Pelotas solicitou a imediata e rigorosa investigação, do que classificou com fato odioso, para que os responsáveis sejam devidamente identificados e responsabilizados perante a lei. "É imprescindível que a comunidade se una na luta contra qualquer forma de discriminação, reafirmando o compromisso com uma sociedade justa e inclusiva para todos. A OAB Pelotas, ciente do sofrimento continuado causado pelo ato de racismo, manifesta, ainda, o fraterno apoio e solidariedade à população atingida por esse ato abominável, reafirmando seu compromisso em defender os direitos humanos e combater qualquer manifestação de racismo ou intolerância", explica a nota da OAB.
COMBATE À NATURALIZAÇÃO E À IMPUNIDADE A nota do núcleo José Paulo Bisol, da Associação Juízas e Juízes para a Democracia, faz referência à estruturação do racismo sistematizado no Brasil, que sustenta-se na naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial atingindo duramente a população negra. "A cidade de Pelotas é um lócus exemplar para reflexão e resistência à conduta racista. Ao reafirmar indignação a ações desta natureza, sublinha a pertinência da luta antirracista e a necessidade do combate à violência sistemática que recai sobre a população negra cotidianamente. A Subseção de Pelotas e a Comissão de Igualdade Racial estão atentas ao desenvolvimento das investigações, na busca pela devida responsabilização", adverte o documento.
REGIÃO SUL TEM MAIOR INTOLERÂNCIA RACIAL O advogado Fábio Gonçalves adverte para o tipo de ação que foi preparada e das dificuldades que os executores tiveram para pendurar o boneco. "Sistemática e diuturnamente, enfrentamos situações que tratam de micro agressões até manifestações expressas de racismo. Nós recebemos um volume enorme de denúncias e nossa preocupação é que este tipo de conduta vá se agravando cada vez mais e as pessoas vão tendo a sensação de impunidade, tomando mais coragem. Se a gente não registrar, daqui a pouco vamos encontrar alguém, de fato, amarrado e açoitado no mato", advertiu, lembrando que a região Sul do Brasil apresenta o maior volume de células extremistas que manifestam a intolerância racial. "Para nós é uma realidade muito presente, cada vez mais próxima", revelou o advogado.
PT REPUDIA ATO DE VIOLÊNCIA
A presidente do Partido dos Trabalhadores em Pelotas, Ângela Vitória, salientou que a situação, junto ao partido, foi interpretada como uma manifestação desmesurada de ataque a pessoas que militam no PT e defendem o presidente Lula. “O PT é o maior partido do Brasil, tem amplo apoio de brasileiros, brasileiras e pelotenses de todas as etnias. Este tratamento agressivo precisa ser repudiado por todas as pessoas. Queremos entender quem fez e porque fez. Queremos que o poder público investigue e dê consequência às investigações para que atos como este não se repitam”.