Perda de rumo?, por Artur Barcelos*
- Alexandre Costa
- 2 de out. de 2023
- 2 min de leitura

A Argentina teve ontem seu primeiro debate presidencial para as eleições que vão ocorrer dia 22/10.
Assisti com tristeza, da mesma forma que assistimos debates aqui no Brasil desde ao menos 2014.
Nos últimos 20 anos, a partir de minha percepção e de pessoas que leio, vimos um crescimento agudo de visões de mundo ultraconservadoras, desumanas, individualistas e retrógradas.
Como resposta a isso, parte da esquerda institucional, ou seja, aquela que se organiza em torno de partidos para disputar eleições, passou a afastar-se claramente das críticas ao modo de produção capitalista e acomodou-se em uma posição social-democrata.
Aderiu ao reformismo e selou alianças com setores da direita.
Desde o fim da URSS, em 1991, se fabricou a ideia de uma crise nas esquerdas, pois teriam ficado sem um exemplo de alternativa.
Foi o caminho para que alguns partidos autodeclarados socialistas e/ou comunistas em seus nomes e programas abandonassem esse conceito.
Sem uma perspectiva clara de alternativa às democracias liberais burguesas, quase todas forças políticas de esquerda se adaptaram à ideia do capitalismo humanizado. E isso levou à "certeza" de que há uma direita e uma esquerda liberais e capitalistas. O movimento chinês de capitalismo de Estado com economia planejada e partido único ainda não se apresentou como modelo a seguir. E a China, diferente das democracias ocidentais, não exige que adotem sua organização política e social para estabelecer negócios.
Assim, vemos que as eleições no ocidente ficaram restritas a discutir quem irá administrar melhor o capitalismo em seus respectivos países.
Ontem, vimos a Myriam Bregman ser a única a usar, com coragem, o termo socialismo. Mas já como uma forma de marcar posição.
A consequência mais visível desse processo de disputa interna do capitalismo é o discurso triunfalista dos capitalistas e seus defensores. Qualquer alusão de oposição ao
empreendedorismo desmedido, desregulamentação das relações de trabalho, desmonte do Estado, é imediatamente rebatida com a alcunha de Comunismo.
E isso, meus caros e caras, é facilmente assimilado por amplas maiorias do povo.
Enfim, esse foi o caminho que levou a Tese do "menos pior", que tem sido usada em praticamente todas as eleições do ocidente nos últimos anos.
Fiquei feliz em ver ao menos Myriam Bregman conseguindo em poucos segundos alertar para a falácia que é Javier Milei. Mas uma felicidade contida, quase um paliativo, pois o que nos reserva o futuro é um mundo mais egoísta, mais individualista, mais violento.
Chegaremos à guerra de todos contra todos de que falava Thomas Hobbes.
*Artur Barcelos é Historiador.
