PADRE JÚLIO LANCELLOTTI REGISTRA OCORRÊNCIA EM DELEGACIA DE POLÍCIA, APÓS SER XINGADO E AMEAÇADO
- Alexandre Costa
- 15 de set. de 2020
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A denúncia feita na manhã desta terça-feira (15/9) pelo padre Júlio Lancellotti, monsenhor e pároco da Igreja São Miguel Arcanjo no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo, de que está sofrendo ameaças é uma demonstração da atual realidade do Brasil. Reconhecido pelas ações sociais e pelo trabalho de caridade com os moradores de rua e a população mais pobre, o padre Lancellotti usou as redes sociais para relatar a ameaça. “Estou com os irmãos de rua e um homem passou numa moto gritando: padre filho da puta, que defende nóia”, relatou. Após denunciar a ameaça, o padre compareceu à Delegacia de Polícia para registrar a ocorrência. Em vídeo (abaixo), o padre contou que foi xingado de "padre filho da puta que defende nóia" e relatou que vem sofrendo recorrentes ameaças. “Se eu for atingido, vocês sabem de quem é a culpa”.

Diversas personalidades, como políticos, artistas e pensadores, manifestaram por rede social apoio ao religioso. "Caraca, tirem de dentro de vocês esse sentimento que transforma seres humanos em coisas. O Padre faz ações humanitárias com pessoas carentes. Reduzir isso a um 'filho da puta que ajuda nóia', é reduzir nossa capacidade de sermos uma sociedade, uma nação", escreveu o ator Bruno Gagliasso. Na delegacia, o padre foi acompanhado pelo pré-candidato a vereador em São Paulo pelo PT William De Lucca e por outras três pessoas.

Lancellotti mencionou que o homem na moto disse que, após “ataques de candidatos a prefeito contra mim, estou cada vez mais em risco”. O alerta do Padre Júlio Lancellotti pode estar relacionado à recentemente declaração do deputado estadual Arthur do Val, candidato a prefeito pelo Patriota e integrante do grupo Movimento Brasil Livre (MBL), que disse: “o trabalho de Lancellotti é destrutivo para São Paulo". Em entrevista ao El País Brasil, o candidato afirmou que “as pessoas acreditam que o padre conhece aquela realidade, mas não, ele aparece para dar marmita a serviço de ONGs, mas não soluciona o problema. Eu duvido que o padre tenha dado uma volta na cracolândia”.
Nas redes sociais, Arthur do Val chegou a chamar o padre de “cafetão da miséria” por constantemente divulgar seu trabalho com a população em situação de rua e acusou o padre e integrantes da organização Craco Resiste, que monitora a violência policial na região, de apoiarem ataques de usuários de drogas contra a Guarda Civil Metropolitana. Na pagina do MBL, uma matéria diz que “o deputado estadual prometeu desmascarar o padre que vive de explorar pessoas viciadas”.
AMEAÇAS
Não é a primeira vez que Lancellotti é ameaçado. No começo do ano, a corregedoria da Polícia Militar apurou denúncias envolvendo agentes que teriam dito a três jovens em situação de rua que “a hora do Padre Júlio Lancelotti vai chegar”. O padre disse que a ameaça foi feita durante uma ação da polícia para buscar suspeitos de roubo ou furto de celular de uma mulher.