As forças conservadoras e as críticas à reitora da UFRGS por sambar na cerimônia de posse, por Alexandre Costa*
- Alexandre Costa
- 8 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 9 de out. de 2024

O clima de alegria diante das transformações desafiadoras assumidas pela nova gestão da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) não lembra em nada os quatro anos de turbulência protagonizados pelo ex-reitor Carlos André Bulhões, nomeado pelo então presidente Jair Bolsonaro.
Após uma eleição histórica com voto paritário entre alunos, docentes e servidores, a reitora Marcia Barbosa, o vice-reitor Pedro Costa e os novos integrantes da gestão foram empossados, no dia 27 de setembro, em uma cerimônia que lotou o Salão de Atos. O evento terminou com a apresentação da Escola Imperadores do Samba, em ritmo de festa, com direito à dança dos novos reitores e da comunidade.
Menos de uma semana após a posse da reitora, setores conservadores da sociedade deram sinais de que a disputa pelos rumos e pelo futuro da UFRGS será uma constante, seja nos comentários que se espalham pelas redes sociais ou por notícias que ao invés de informar têm como objetivo deturpar fatos.
A divulgação de uma matéria publicada pelo site Poder 360, no dia 3 de outubro, sobre críticas de internautas à reitora da UFRGS, por sambar na cerimônia de posse, é uma demonstração do atraso da sociedade e do jornalismo que presta serviço às forças reacionárias e conservadoras espalhadas de norte a sul do Brasil. As críticas à reitora fazem parte da visão reacionária da elite conservadora, que não consegue enxergar a universidade com um espaço plural e do povo.
No dia anterior à posse, o mesmo Poder 360 publicou um artigo em que Carlos Bulhões reafirma seu legado à frente da Universidade. Mesmo que o ex-reitor biônico (um termo criado pela oposição à ditadura militar em referência aos senadores, governadores e prefeitos escolhidos pelo presidente, sem passar por eleições) tenha orgulho das conquistas frente à UFRGS, sua gestão estará sempre associada à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro.
PARIDADE DOS VOTOS
A luta da paridade dos votos na eleição para reitoria é uma demanda histórica na UFRGS, há mais de 30 anos. Até 2020, a etapa de consulta à comunidade acadêmica tinha peso maior no voto dos docentes – um cálculo de 70% para os professores, 15% no voto dos alunos e 15% no dos técnico-administrativos. Entretanto, uma resolução de 2023 do Conselho Universitário (Consun), reafirmada por outra resolução de 2024, instituiu a paridade no peso dos votos de docentes, estudantes e técnicos na consulta à comunidade acadêmica.
A NOVA UFRGS DIANTE DO ATAQUE AO CONHECIMENTO E À DEMOCRACIA
O discurso da reitora foi marcado pela ênfase na participação da comunidade na administração e na necessidade de ações para enfrentar as emergências climáticas. Professora de Física, Marcia Barbosa destacou que a universidade é o local onde se cria, protege e espalha o conhecimento. É onde revoluções nascem, e as pessoas se renovam. “A universidade precisa de uma transformação frente aos ataques ao conhecimento, que ocorrem justamente por meio de instrumento criado pela universidade, que é a internet. Esse instrumento vem sendo usado para atacar os cientistas, mas também a democracia”.
O vice-reitor Pedro Costa destacou que a gestão foi escolhida pela comunidade de forma paritária, democrática e autônoma e reiterou o compromisso social e a responsabilidade da universidade pública em um país com mazelas socioeconômicas e ambientais e com escalada de violência e preconceitos. “A UFRGS é referência em ciência, artes e humanidades e motivo de orgulho, mas não pode se acomodar no lugar de soberba, apartada das grandes questões contemporâneas e necessidades da sociedade”, afirmou.
A VOZ DOS ESTUDANTES
Durante o evento, estudantes da UFRGS fizeram pronunciamentos em nome da comunidade acadêmica. “Defendemos um projeto de universidade popular, que precisa estar no centro do desenvolvimento nacional, através da extensão, do ensino e da pesquisa. A universidade não pode seguir desligando os nossos colegas cotistas com o instrumento da matrícula precária. A eleição paritária desta reitoria precisa servir de instrumento para darmos um fim a lista tríplice”, afirmou Niara dy Luz.
O estudante Wellington Porto destacou o momento inédito e histórico da UFRGS. “Queremos construir a nova UFRGS, onde estudantes, técnicos, trabalhadores terceirizados e professores tenham voz e espaços na tomada de decisões de forma paritária e transparente. A paridade não pode ser retórica, mas uma prática cotidiana”, afirmou.
MÁRCIA E PEDRO
Marcia é professora do Instituto de Física da UFRGS e pesquisadora. É membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciências. De 2023 a 2024, foi Secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Pedro é professor da Escola de Administração. Ele ministra disciplinas sobre Administração de Organizações da Sociedade Civil e Administração Pública Social, Estado, Terceiro Setor e Organizações não governamentais.
OS INTEGRANTES DA GESTÃO
Membros da Gestão UFRGS 2024-2028
Reitora: Marcia Barbosa
Vice-reitor e pró-reitor de Coordenação Acadêmica: Pedro Costa
Chefe de Gabinete: Maria Luiza Saraiva Pereira
Pró-reitora de Graduação: Nádya Pesce da Silveira
Vice-pró-reitora de Graduação: Irma Antonieta Gramkow Bueno
Pró-reitora de Pós-Graduação: Claudia Wasserman
Vice-pró-reitor de Pós-Graduação: Edson Mendes da Silva Jr.
Pró-reitor de Pesquisa: Flavio Pereira Kapczinski
Vice-pró-reitora de Pesquisa: Patricia Augusta Pospichil Chaves Locatelli
Pró-reitora de Extensão: Daniela Borges Pavani
Vice-pró-reitora de Extensão: Patricia Helena Xavier dos Santos
Pró-reitor de Planejamento e Controladoria: Pedro Costa
Vice-pró-reitor de Planejamento e Controladoria: Diogo Joel Demarco
Pró-reitor de Gestão de Pessoas: Arthur Gustavo dos Santos Bloise
Vice-pró-reitor de Gestão de Pessoas: Cristian Theofilo Gonçalves Lopes
Pró-reitora de Assuntos Estudantis: Natalia Pietra Méndez
Vice-pró-reitor de Assuntos Estudantis: Igor Correa Pereira
Superintendente de Infraestrutura: Fábio Bortoli
Secretária de Avaliação Institucional: Nara Maria Emanuelli Magalhaes
Vice-secretária de Avaliação Institucional: Claudia Regina Parzianello
Secretário de Comunicação Social: Everton Terres Cardoso
Vice-secretário de Comunicação Social: Wagner Machado da Silva
Secretário de Educação a Distância: Lovois de Andrade Miguel
Vice-secretária de Educação a Distância: Marlise Bock Santos
Secretário de Desenvolvimento Tecnológico: Paulo Henrique Schneider
Vice-secretária de Desenvolvimento Tecnológico: Kelly Lissandra Bruch
Secretário de Relações Internacionais: Benito Bisso Schmidt
Vice-secretário de Relações Internacionais: Athos Munhoz Moreira da Silva
Coordenadora de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas: Rita de Cassia dos Santos Camisolão
Coordenador de Segurança: Mozarte Simões da Costa Junior
Diretor do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados: Francisco Marshall
Assessora do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados: Angela Fernandes da Silva
Diretor do Centro de Processamento de Dados: Rui de Quadros Ribeiro
Vice-diretora do Centro de Processamento de Dados: Fernanda Vieira Figueira
Diretor do Parque Zenit: Marcelo Favaro Borges
Presidente da Comissão Permanente de Seleção: Luis Mauro Gonçalves Rosa
Jornalista responsável pelo www.esquinademocratica.com.br