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O BAILE DA ILHA FISCAL E A ÚLTIMA DÚVIDA, POR JORGE BRANCO

Na semana em que é indiciado por nove crimes de alta gravidade, contra a humanidade, pelo relatório que vai à votação na CPI da Pandemia, Jair Bolsonaro anunciou um novo programa de assistência social. Trata-se do “auxílio Brasil”, programa criado para substituir o Bolsa Família, que pagará 400 reais mensais aos beneficiários até o fim de 2022.


"Governo Bolsonaro é uma espécie de 'Baile da Ilha Fiscal' continuado, onde as finas roupas foram desenhadas por Luciano Hang e Paulo Guedes e o tecido foi feito do couro dos trabalhadores" - Fonte: Museu Histórico Nacional/Reprodução


Ao mesmo tempo, o governo mergulha em nova crise, agora uma crise no interior do próprio bloco no poder. A partir do anúncio do auxílio aos trabalhadores mais pobres, quatro secretários do Ministério da Economia de Paulo Guedes pediram exoneração. A reação dos “zelosos” burocratas se deu em razão da disposição do desesperado governo Bolsonaro em romper com o “teto dos gastos”, dispositivo constitucional favorável ao mercado financeiro, que garante uma bilionária reserva de recursos públicos para o pagamento de serviços financeiros. A imposição de limites baixos ao investimento social em combinação ao sistema tributário regressivo, à liberdade de exportação de capital e à política monetária e cambial significam inominável expropriação da renda dos trabalhadores e desempregados em favor dos super-ricos.


O dilema de Bolsonaro está em decidir sobre a manutenção do pacto político com o capital financeiro e especuladores que lhe sustentam no governo - com base na influência dessa fração sobre a maioria do Congresso Nacional - ou acenar para a fração mais precarizada da classe trabalhadora, com o intuito de frear sua decomposição eleitoral e garantir a reeleição.


Racionalmente poderíamos suspeitar que o famoso “mercado” poderia fazer alguma concessão e apoiar medidas mais populares dedicadas a diminuir o desamparo no qual essa aliança jogou a maioria da população. Não parece ser tão fácil assim.


As grandes lideranças globais do capital financeiro parecem, progressivamente, chegar à conclusão de que Bolsonaro não reúne condições de estabilizar um governo capaz de aplicar uma política de longo prazo favorável aos investimentos globais. A burguesia dependente e periférica local, ao interpretar os recados da grande burguesia global, ao invés de abandonar o governo de extrema direita de Bolsonaro em busca de um novo pacto e um novo bloco, optou por uma política de rapina. Com o intuito de arrancar todos os excedentes de capital e toda a proteção possível, até o último dia do governo anti-humanitário do reacionário Jair Bolsonaro. Uma espécie de “Baile da Ilha Fiscal” continuado, onde as finas roupas foram desenhadas por Luciano Hang e Paulo Guedes e o tecido foi feito do couro dos trabalhadores.


A opção por diminuir a rejeição eleitoral, em crescimento constante, colocou Bolsonaro em rota de colisão com seus principais fiadores políticos. A imediata reação do “mercado financeiro”, provocando nova alta do dólar e queda dos índices da Bolsa de Valores de São Paulo, foi seguida pela reação política de seus intelectuais inseridos no governo. Esse dilema tático, que parece opor a sobrevivência política à sobrevivência eleitoral, elimina a última dúvida sobre qual fração da burguesia dirige ou dirigia efetivamente o governo Bolsonaro.


Bolsonaro é o governo do bloco fascista neoliberal, no entanto a direção política real desse governo não é dele, mas dos especuladores locais. A opção nítida é aproveitar até o último dia as possibilidades de ganhos oferecidas por esse governo. Enquanto bailam, os crimes contra a humanidade e o desalento dos trabalhadores vão dando os contornos do que pode ser o fim desse governo. Contudo, o fim do governo Bolsonaro não será a derrota do fascismo, muito menos do neoliberalismo.

 
 
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