
A situação dramática da pandemia e o número de mortes por covid-19 no Brasil fazem com que o impacto sobre os crimes cometidos pela operação lava jato sejam pífios ou quase invisíveis. A repercussão sobre este grave episódio da história recente do país está sendo ofuscada pelas notícias da tragédia do coronavírus. O caos do sistema de saúde, as mais de 250 mil mortes e falta de vacinas para conter a proliferação do vírus tornam notícias que deveriam ser bombásticas em notinhas de rodapé. Desta forma, a imprensa brasileira se exime de culpas e da conivência com o golpe que derrubou Dilma Rousseff e prendeu o ex-presidente Lula para que não pudesse concorrer à presidência da República. Cabe ressaltar que o www.esquinademocratica.com considera fundamental e extremamente necessário o trabalho realizado pelos jornalistas sobre a covid-19. A cobertura da imprensa deve ser intensa e as informações publicadas são imprescindíveis para mostrar a realidade atual do Brasil e também para orientar a população em relação à necessidade de manter distanciamento, evitar aglomerações e usar máscaras para preservar e salvar vidas.
Após esta breve explicação, voltamos à lava jato.
A operação que deveria combater a corrupção e acabar com a impunidade de criminosos, acabou sendo ‘sequestrada’ por um grupo (liderado por um juiz e por um procurador do Ministério Público Federal) com interesses políticos e econômicos bem definidos.
Os diálogos publicados pelo The Intercept Brasil e por outros veículos da imprensa revelam que Sergio Moro, então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, e Dalton Dallagnol, procurador do Ministério Público Federal (MPF), consolidaram um esquema criminoso para usar o Judiciário em favor próprio. A troca de mensagens foi obtida por hackers que invadiram celulares de autoridades brasileiras, como de Moro e procuradores. Tanto o ex-juiz, quanto os membros do MPF (Ministério Público Federal) negam a autenticidade dos diálogos.
Após decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), as conversas entre procuradores da operação lava jato e o ex-juiz federal Sergio Moro, apreendidas na operação Spoofing, tornaram-se públicas. No dia 25 de janeiro, Lewandowski autorizou o acesso ao conteúdo apreendido à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no dia 1º de fevereiro, o magistrado acabou derrubando o sigilo das conversas. Ao todo, o documento tem tem 50 páginas e reúne diálogos no período de 3 de setembro de 2015 a 8 de agosto de 2017. O material é assinado pelo perito Cláudio Wagner.
SUICÍDIO DO REITOR DA UFSC
Um dos episódios mais dramáticos e tristes da operação lava jato foi protagonizado pela delegada da Polícia Federal, Erika Marena e a citação do reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina, que o levou ao suicídio. Na época, Cancellier não suportou a vergonha, não só de ter sido citado, mas, ao ser preso o reitor passou por revista e procedimentos em que ficou nu em público, entre outras humilhações. O caso fez com que houvesse diversos questionamentos sobre os métodos utilizados pela lava jato O vazamento dos diálogos da operação lava jato revelaram que os depoimentos que levaram à prisão de Cancellier teriam sido forjados pela delegada Marena. O objetivo era criar fatos e escândalos contra os governos petistas.
PRISÃO DE LULA
Durante o período da operação lava jato, os advogados do ex-presidente Lula apontaram irregularidades nas investigações e questionaram a atuação das autoridades envolvidas. Os diálogos que foram liberados pela Justiça e que vieram a público revelam que Moro orientou os procuradores sobre como apresentar a denúncia contra o petista no caso do tríplex do Guarujá. Diversos outros diálogos também já haviam sido tornados públicos por meio da chamada “Vaza Jato“, série de reportagens do The Intercept Brasil, algumas feitas em parceria com outros veículos, com base também nestes mesmos diálogos.
CONDENAÇÃO DE VACCARIA
Na última segunda-feira (1/3), o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi condenado a seis anos e seis meses em regime semiaberto por lavagem de dinheiro em um processo sobre publicidade, envolvendo uma revista da Editora Gráfica Atitude. A revista existiu, as reportagens de interesse de uma empresa foram publicadas, notas fiscais foram emitidas e a transferência de recursos ocorreu pelo sistema bancário nacional. Vaccari foi condenado com base unicamente na palavra de um delator, Augusto Mendonça, dono da Toyo Setal, um dos primeiros a assinar acordo de delação e que não passou um dia sequer preso. Em seu acordo, assinado em outubro de 2014, foi representado por Beatriz Catta Preta, hoje milionária, na época advogada desconhecida.
ADVOGADA FICOU MILIONÁRIA Formada por uma faculdade de segunda linha, Catta Preta tinha escritório em São Paulo e entre 2014 e 2015 conseguiu fechar nove acordos de delação em Curitiba. Além de Mendonça, representou Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Júlio Camargo, delatores que, ao lado de Alberto Youssef, colocaram de pé a lava jato. Em meados de 2015, deixou o Brasil para morar nos Estados Unidos e divulgou a versão de que havia sido ameaçada — nunca disse nomes ou deu pistas concretas de quem seriam os autores das ameaças.
CRIMES DA LAVA JATO
Os diálogos publicados pelo The Intercept Brasil e apreendidos na operação Spoofing revelam o esquema criminoso da lava jato. No dia 11 de fevereiro, o jornal O Globo publicou informações sobre o procurador regional Orlando Martello, ex-integrante da autointitulada "força-tarefa da lava jato", que enviou um e-mail aos seus colegas de Ministério Público Federal desabafando sobre a divulgação dos diálogos hackeados apreendidos na operação "spoofing". No texto, ele diz que o Telegram, local em que ocorreram as conversas, era uma "área livre, uma área de descarrego em que expressamos emoção, indignação, protesto, brincadeiras… muitas vezes infantis" e que, por isso, os procuradores podem "ter extrapolado muitas vezes". Essa foi a primeira vez que um integrante da "lava jato" comentou o teor das mensagens admitindo a autenticidade dos diálogos.
CONVERSAS DE BOTEQUIM Segundo o procurador, os grupos de Telegram se assemelhavam a um "ambiente de botequim". "Eram (ou são) os nossos 'nudes', uma área em que os pensamentos são externados livremente e sem censura, entre amigos, alguns de mais de décadas. Expostos a terceiros, causa vergonha." Orlando Martello é figura carimbada nos diálogos revelados pelo The Intercept e, mais recentemente, levados pela defesa do ex-presidente Lula aos autos da Reclamação 43.007, que tramita no Supremo Tribunal Federal. Em uma das mensagens ele sugere, por exemplo, que áudios de Lula sejam vazados para a imprensa se a escalada contra a "lava jato" continuasse a ganhar força.
PARTICIPAÇÃO DOS EUA Martello incentivou que autoridades norte-americanos fizessem entrevistas com delatores diretamente nos Estados Unidos, driblando as restrições brasileiras que colocam o Ministério da Justiça como autoridade central de colaboração entre os dois países. Ele também integra o grupo de oito procuradores que tentou barrar o acesso de Lula às mensagens apreendidas na "spoofing". Uma conversa de 4 de novembro de 2015, apresentada na página 4 do documento, indica que a força-tarefa da lava jato e Sergio Moro trocavam informações e buscavam orientações de procuradores norte-americanos. A troca de mensagens mostra que Moro pede a Deltan Dallagnol para fazer “contato direto” com autoridades dos Estados Unidos e colocar procuradores norte-americanos para “trabalhar” em uma ação da Justiça em relação a um processo da Lava Jato.