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NIXON GOES TO CHINA, POR JORGE BRANCO


A expressão em inglês Nixon goes to China quer dizer em português, literalmente, Nixon vai à China. Remete à visita do presidente estadunidense à República Popular da China em fevereiro de 1972. Recebido pelo então primeiro-ministro chinês Zhou Enlai, Richard Nixon deixou perplexa a sociedade política dos EUA, da esquerda à direita, dos democratas aos republicanos.

A partir de então, a expressão Nixon goes to China se incorporou ao vocabulário político e jornalístico dos EUA para designar movimentos em que um sujeito inverte suas posições passadas para fazer algo surpreendente. No Brasil equivaleria a dizer Fulano de Tal deu um cavalo de pau.

Nos últimos dias, um conjunto de notas e comentários, seguidos de postagens nas redes sociais, deram conta da possiblidade de Geraldo Alckmin deixar o ninho tucano e migrar para o PSB, a fim de compor a chapa de Lula da Silva como candidato à vice-presidente. Rapidamente tais notas evoluíram para a condição de matérias jornalísticas e troca de elogios entre ambos.

Essa movimentação, aparentemente, é um verdadeiro cavalo de pau nas articulações e alianças políticas brasileiras. Facilmente se aplicaria ao caso a expressão estadunidense, contudo não saberíamos bem distinguir quem é Nixon e quem é a China. Muito possivelmente, nessa aproximação ambos são China e Nixon simultaneamente.

Digo aparentemente porquê do ponto de vista institucional, ambos representaram polos partidários opostos em todas as eleições presidenciais desde 1994. Em tais eleições, PT e PSDB protagonizaram disputas de projetos e políticas econômicas diferentes e concorrentes, ainda que não contraditórias em muitos aspectos. A culminância desse confronto foi ao final da eleição de 2014, com o então candidato do PSDB e líder de direita dando a senha para o que viria a desembocar no fraudulento processo de impeachment de Dilma, em 2016.

Porém outros fatores a serem considerados nessa possibilidade de composição diminuem o seu aspecto surpreendente. No ângulo dos movimentos das frações de classe ela não surpreende tanto assim. Em artigo publicado em agosto deste ano já fazíamos referência a um relevante deslocamento de setores do grande capital internacionalizado, em busca de uma alternativa política progressista, a fim de travar a caminhada do bolsonarismo. Não se trata de nenhuma “iluminação” progressista ou humanista destas frações do capital. Trata-se da percepção da crise aguda na qual a política de extrema direita de Bolsonaro afundou o país, o que seria “ruim para os negócios”.

Lideranças do porte daquelas que se credenciam à presidência da República não se reduzem apenas à sua condição eleitoral ou ao conhecimento que a população tenha delas. São expressões reais de grupos e frações de classes sociais, e seus movimentos, para serem eficazes, precisam estar conectados às necessidades e estratégias dessas frações e precisam ser realmente orgânicos. A cogitação da aliança Lula/Alckmin, independentemente do desfecho, é o reconhecimento de que as frações dirigentes das classes que representam, em graus e por motivos diferentes, convergem no esforço de impugnar a continuidade de Bolsonaro.

Revela também que tais setores do capital consideram inviável a construção de uma alternativa “classista” da direita liberal - a terceira via - mais politicamente do que eleitoralmente. O cenário eleitoral progride para uma consolidação da polarização entre a centro-esquerda com Lula e a extrema direita com Bolsonaro. O cavalo de pau da grande burguesia internacionalizada tende a não ser acompanhado pela “massa de empresários” ideologicamente aderente ao bolsonarismo, mas de qualquer jeito parece cada vez mais consolidado, o que torna tal aliança uma possibilidade que não pode ser descartada. A transmutação de Alckmin de neoliberal à social-liberal é forte evidência de um desses movimentos de grande magnitude.

 
 
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