por Moisés Mendes (*) / publicado originalmente no blog do autor
O que pode ter acontecido com Eduardo Pazuello, que foi dado como demitido durante a tarde de domingo e à noite voltou a ser ministro? No início da tarde, Pazuello era um homem doente, que pretendia ir embora para cuidar da saúde dele, porque da saúde dos brasileiros ele não soube cuidar. À noite, era um ministro inteiro, sem doenças, sem cansaços, sem nada que pudesse levá-lo a pedir demissão.
Uma hipótese para o que aconteceu. Bolsonaro reuniu-se no sábado com os ministros militares e Pazuello, no hotel militar em que Pazuello mora em Brasília. No domingo, conversou só com Pazuello no Alvorada. Pode ter acontecido o seguinte. Ficou combinado com os militares que Bolsonaro mandaria avisar aos jornalistas confiáveis que Pazuello estava adoentado e que iria embora.
O Globo largou a notícia, e logo Folha e Estadão correram atrás e deram a mesma especulação. Era um recado para que Pazuello pedisse demissão, para que Bolsonaro não tivesse que dispensá-lo. A história da doença seria uma boa desculpa. Mas algo deu errado na combinação, e Pazuello mandou soltar uma nota com a informação de que não pretendia sair. Sairia se Bolsonaro mandasse.
Outra hipótese. Bolsonaro soltou a notícia da vontade de Pazuello de saltar fora e largou em cima a informação de que teria se reunido com a cardiologista Ludhmila Hajjar, cotada para o cargo.
A extrema direita massacrou Ludhmila nas redes sociais. Estava feito o teste: não queriam a médica. O ministério poder acabar ficando com um doutor Luizinho qualquer.
Pazuello está agarrado ao pé de guanxuma e cai a qualquer momento por vários motivos. Primeiro, para que Bolsonaro tenha um culpado pelas mortes que não seja ele mesmo.
Segundo, para que o desgaste da gestão da pandemia e da saúde pública não continue contaminando as Forças Armadas. Terceiro porque o centrão quer o ministério. E quarto porque Bolsonaro precisa aderir, com gestos concretos, aos apelos pela vacinação.
Pazuello não é o cara para conseguir as vacinas e armar um esquema eficiente de vacinação, quando a coisa ficar mais complexa com a imunização de gente abaixo dos 60 anos. É muita gente.
Bolsonaro ficou sabendo pelas pesquisas que hoje 89% dos brasileiros querem se vacinar. É dos mais altos índices do mundo. Como ele vai continuar sabotando a vacina, se as pessoas estão desesperadas na fila de espera?
Como não há protestos para que o governo ofereça vacinas, Bolsonaro achava que o povo havia entrado na sua conversa de que a imunização é uma bobagem. Não é isso. O povo está resignado, acomodado, mas deseja se vacinar.
Pazuello cai fora, Bolsonaro renova a imagem do governo com um novo ministro, abandona a cloroquina e tenta recuperar o tempo perdido.
O problema é que há uma dúzia de inquéritos contra Pazuello por omissões e delitos cometidos como ministro no combate à pandemia.
Ele sai, livra-se de algo que não sabe fazer, mas terá de dar explicações à Justiça. A demissão de Pazuelo é mais uma questão militar do que de saúde pública.
É preciso atenuar os danos da saída, mas tudo se resolve. Bolsonaro já demitiu 16 generais, não custa nada demitir mais um. Os militares só fazem o que Bolsonaro manda que façam. Todos são cúmplices do sujeito.
Pazuello será apenas mais um general usado e humilhado por Bolsonaro. É uma pena que vá embora sem conseguir provar que é bom mesmo em logística.
(*) Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Escreve também para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim). Foi colunista e editor especial de Zero Hora.