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MOISÉS MENDES: OS URUGUAIOS NÃO DEIXAM OS TORTURADORES EM PAZ

Foto do escritor: Alexandre CostaAlexandre Costa


O sempre atento Moisés Mendes escreveu no seu blog sobre um sequestro, durante os anos de chumbo, que ficou marcado na história política das ditaduras militares da América Latina. A informação de que o Tribunal de Apelações liberou, na quinta-feira (15/4), um dos mais bárbaros torturadores da ditadura uruguaia, merece uma profunda reflexão sobre a forma como o Brasil tratou casos semelhantes. Moisés Mondes citou a obra do jornalista Luiz Cláudio Cunha, que testemunhou a operação clandestina realizada na Rua Botafogo, no bairro Azenha, em Porto Alegre, no ano de 1978. Esta e outras revelações estão no livro “Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios” (L&PM).


A Operação Condor foi uma aliança político-militar formada pelos governos militares de vários países da América Latina, como Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, com presença esporádica de Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, amparada pela CIA, por meio do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Henry Kissinger foi o ideólogo do plano estratégico durante o período da Guerra Fria, que teve como marca a promoção de ditaduras militares nos países citados para suprimir setores políticos de esquerda.



O Tribunal de Apelações liberou um dos mais bárbaros torturadores da ditadura uruguaia, e o criminoso irá cumprir prisão preventiva em casa. Ferro era capitão e tinha 31 anos quando chefiou o sequestro dos uruguaios, no dia 12 de novembro de 1978.

Lilian e Universindo eram militantes de esquerda, fugiram da ditadura e vieram morar clandestinamente em Porto Alegre, na Rua Botafogo, bairro Menino Deus.

Foram levados de volta à força para Montevidéu com os dois filhos dela, Camilo, sete anos, e Francesca, de três, que os policiais sequestradores entregaram à avó em Montevidéu. O casal, torturado em Porto Alegre e no Uruguai, só foi libertado em 1984.

Ferro estava foragido da Justiça desde 2017, como réu em um processo por envolvimento no desaparecimento do militante comunista Oscar Tassino, nos anos 80. Viajou para a Espanha e foi preso naquele mesmo ano, mas logo libertado.

O jornal La Diaria, de Montevidéu, conta que o torturador foi preso de novo, em Valencia, em 27 de janeiro deste ano. Deixou pistas de onde estava ao tentar receber na Espanha o valor mensal da aposentadoria.

No dia 27 de março, Ferro estava de volta ao Uruguai, como extraditado. Ficou preso 20 dias e agora está em casa. Mas pelo menos está acossado.

O jornalista Luiz Cláudio Cunha, testemunha da operação clandestina de 1978 em Porto Alegre, contada em detalhes no livro “Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios” (L&PM), lembra que ele usava os codinomes ‘Oscar’, ‘Guillermo’ ou ‘Toto’.

Era faixa preta de caratê, forte, entroncado, com um vasto bigode preto, olhos verdes. No Uruguai, Ferro torturou Lilian e Universindo na Fortaleza de Santa Teresa, um dos pontos turísticos do país.

Ferro é investigado pelo sequestro dos uruguaios, processado pelo desaparecimento de Tassino e deve sofrer outros inquéritos por muitas outras acusações.

Era um dos comandantes da Operação Condor, que integrava as ações articuladas de repressão, perseguição e assassinatos das ditaduras na América do Sul, nos anos 70 e 80.

Em Porto Alegre, agiu em 1978 em conluio com policiais do Dops liderados pelo delegado gaúcho Pedro Selig, até hoje impune.

O que seu caso mostra aos brasileiros é que os uruguaios continuam tentando enquadrar torturadores e assassinos da ditadura (1973-1985) em crimes de lesa humanidade, ao contrário do que aconteceu no Brasil.

Apesar da anistia deles (que chamam de Lei da Caducidade, de 1986), uma outra lei, de número 18.831, aprovada em 27 de outubro de 2011, permite a reabertura de casos de lesa humanidade, mesmo que os processos sejam depois questionados e derrubados na Suprema Corte.

O Ministério Público e os juízes de primeira instância conseguem pelo menos constranger os torturadores, como acontece agora com Ferro e muitos outros militares.

A diferença básica em relação ao Brasil é que os policiais brasileiros envolvidos no sequestro dos uruguaios nunca foram ameaçados de punição. E Brilhante Ustra, o mais furioso dos torturadores, é ídolo de Bolsonaro e de Hamilton Mourão.

No Brasil, ditadores e torturadores são exaltados pela extrema direita no poder, algo inimaginável na Argentina, no Uruguai e no Chile.

(Abaixo, o link de uma reportagem no Sul 21 em que Luiz Cláudio Cunha descreve Eduardo Ferro. A reportagem tem, um trecho impactante: o dia em que Lilian encontrou o torturador na rua).

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