O comportamento da população brasileira diante da pandemia de coronavírus é inverso à realidade do país, que em pouco mais de cinco meses registrou números acima de 130 mil mortes e mais de 4 milhões de pessoas infectadas. Uma das maiores dificuldades tem sido manter o isolamento social e o respeito às regras para evitar que a proliferação da Covid-19 tenha um impacto ainda mais devastador para o Brasil. Na terça-feira (15/9), a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul registrou 94 óbitos em um período de 24 horas, o que representa o maior número de mortes desde o início da pandemia. Desde o início da pandemia, 4.713 pessoas já perderam a vida no estado.
Mesmo diante da gigantesca tragédia causada pela Covid-19, o brasileiros demonstram total desprezo aos riscos e às consequências impostas pelo coronavírus. No feriado de 7 de setembro, o que se viu foram multidões lotando as praias, bares e centros comerciais por todo o Brasil, ignorando a realidade das milhares de vidas perdidas e as recomendações para evitar aglomerações. No Rio de Janeiro, os mais de 70 quilômetros de praias foram ocupados por uma multidão de pessoas dispostas a lutar pela sua liberdade e pelo direito de violar regras e recomendações. Em São Paulo, mais de um milhão e meio de pessoas enfrentaram congestionamentos de horas e se deslocaram para praias do litoral, desconsiderando completamente as recomendações e os pedido das autoridades para manter o isolamento e evitar ao máximo sair de casa. Por todo o país, multidões ensandecidas em busca de um lugar ao sol. Na tentativa de conter o ímpeto de liberdade dos brasileiros, fiscais foram hostilizados, xingados e até agredidos.
AS FAÇANHAS CAÍRAM POR TERRA
No Rio Grande do Sul, estado que mantém vivo o orgulho pela sua história de lutas, eternizado no próprio hino que é idolatrado pelos gaúchos "sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra", o número de mortes pela Covid-19 demonstra que a situação é muito grave ainda. No início da pandemia, o Rio Grande do Sul apresentava um dos melhores resultados para combater o coronavírus, motivo de orgulho para os gaúchos. No entanto, a façanha ostentada no estado se mostrou frágil e inconsistente. A realidade demonstra que a situação no estado é muito semelhante à de todo o país.
GRENALIZAÇÃO DA PANDEMIA
O dilema sobre a volta ao "normal" divide os gaúchos, tal qual as próprias tradições do estado, ilustrada pelos embates entre Chimangos e maragatos, Grêmio e Internacional e as posições políticas que movem a esquerda e a direita. Parte da população defende as recomendações da Organização Mundial da Saúde e entende que ainda não é hora de retomar as atividades, entre elas o retorno às aulas. Outros, no entanto, entendem que manter isolamento atinge a economia do país e pode gerar consequências bem piores, colocando em risco a vida, não apenas de um percentual de brasileiros, mas de toda a população.
FALSO DILEMA
O dilema que remete a uma escolha "ou salvamos a economia ou salvamos a vida das pessoas" é falso. Infelizmente, gaúchos e brasileiros demonstram que a pandemia vai além do maniqueísmo que aponta para a saúde das pessoas ou para a econômica do país. O mais adequado seria que cada um fizesse uma autoanálise. Certamente essa reflexão individual pode responder sobre as decisões sobre o futuro do Brasil. Quem segue as medidas de proteção para evitar a propagação do vírus, assume uma posição de respeito ao próximo, de defesa da vida e de responsabilidade sobre o conjunto da sociedade. Quem decide não seguir as recomendações da organização Mundial da Saúde, age de forma individualista. Quem age somente a partir das suas próprias vontades, seja para usufruir das praias, jogar futebol, ir para a balada, não usar máscara e não respeitar as orientações em função da pandemia, demonstra egoismo e falta de senso de coletividade e de respeito à vida.