por Claudia Schiedeck (*)

Sou uma pessoa que adora ditos populares. Acho que eles são a tradução oral do que nossos antepassados conseguiam perceber na vida cotidiana, com toda a sabedoria que só o empirismo pode trazer.
Observo muito os jornais da grande mídia, embora não seja assinante de nenhum. Analistas de todos os tipos dizem que tal ministro precisa ser substituído, esperando que o outro ministro que assume traga soluções para a crise sanitária, ambiental e econômica que o Brasil enfrenta.
O caso do Ministério da Saúde e do Ministério das Relações Exteriores foram emblemáticos.
Quando pediram a cabeça do Pezaduello, a mídia tradicional enfileirava suas análises sobre a necessidade de mudança na forma de enfrentamento ao COVID-19. Defendem lockdown, campanhas de uso de máscaras e mudança no comportamento das autoridades públicas, além de se empenharem em defender o SUS, mais orçamento para a saúde e educação. Convidam especialistas vinculados a essa corrente de pensamento todos os dias. O caso do fritamento público de Ernesto Araújo também é emblemático: “O Brasil precisa de uma alteração de 180o nos rumos da sua política externa, saindo do extremismo e das expressões ideológicas estapafúrdias”, diziam esses comentaristas.
Lembrei-me, então, de um amigo, colega de IFRS, que me disse esses dias, num outro contexto: não se pode esperar que uma macieira dê bananas.
Trago essa fala para o cenário político brasileiro. É possível esperar que um desgoverno como esse, marcado pela ideologia da extrema direita e pelo negacionismo em todas as esferas da gestão, se mostre como equilibrado, centrado ou mesmo, humano? Como disse meu amigo, esperar que uma macieira dê bananas não é crível. Não faz o menor sentido.
A verdade verdadeira é que todos estamos precisando de alívio. Precisamos de pessoas que nos tragam uma certa noção de normalidade, de tranquilidade, que nos mostrem que as decisões tomadas são coerentes com o que a ciência diz. E o exemplo é o novo ministro da saúde. Queiroga parece um bom moço. Uma fala mansa, preocupada com a tragédia do COVID. Defende máscaras, distanciamento social, tudo o que gostaríamos de ouvir (embora um pouco fora de tempo). Não traz um certo alento ouvir alguém normal entrar nas nossas casas? Contudo, nenhuma normalidade é possível num governo de morte, de destruição, com tendências autoritárias e sociopatas.
Precisamos de um basta nessa doideira toda que nos envolve diariamente. Mas esse bálsamo não virá desse mesmo governo que nos mata um pouquinho todos os dias, levando nossos amigos, parentes e pessoas amadas. Isso por que eles não podem ofertar ao país aquilo que eles não têm: empatia, senso de responsabilidade, solidariedade, competência etc. Ao contrário, eles só podem oferecer morte, destruição, totalitarismo, armas e ódio.
E assim, a pouca estabilidade que ainda nos resta vai adoecendo, não só de COVID, mas pelo horror, pelo desprazer, pela angústia e pelo sangue de milhares de brasileiros que perdem suas vidas diariamente. Não sei vocês, mas eu confesso que estou depressiva. Não parece haver luz no fim do túnel. Me sinto meio George Floyd gritando: I can’t breathe. É uma sensação de sufocamento, de ausência de ar.
Precisamos urgente nos livrar disso para que possamos respirar. E não adianta tirar e botar ministro, porque a maçã podre está na raiz: Bolsonaro e suas milícias.
Estou topando qualquer coisa: impeachment, interdição, nova eleição. Precisamos alterar o curso dessa história. O Brasil não aguenta mais. Eu não aguento mais. Para que uma árvore nos dê o fruto correto só há um remédio: ter uma planta sã, bem regada e bem nutrida. Não há qualquer outra possibilidade que não seja essa.
(*) Claudia Schiedeck é ex-reitora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).