
O indigenista licenciado da Funai Bruno Araújo Pereira e o repórter Dom Philips, colaborador do britânico The Guardian, desapareceram durante uma expedição no Vale do Javari, na região oeste do Amazonas. Eles navegavam desde sexta-feira (3/6) em uma área considerada de risco, que é explorada por traficantes de drogas e por garimpeiros.
O desaparecimento de Bruno e de Philips pode ter sido uma represália dos criminosos que atuam na região, em função dos registros que o jornalista e o indigenista teriam feito. As imagens mostram os locais de invasões da Terra Indígena Vale do Javari, o que contrariou criminosos ligados ao tráfico de drogas. De acordo com testemunhas, os dois já haviam sido ameaçados antes de chegar à comunidade São Rafael, presidida pelo ribeirinho “Churrasco”. Ele é responsável pelo manejo de pescado e é suspeito de se beneficiar da pesca ilegal e invasões na TI Vale do Javari.
Pereira acompanhava o jornalista em uma visita à região, onde comunidades indígenas e ribeirinhas distantes de centros urbanos têm sido alvo de invasões cada vez mais frequentes.
O desaparecimento ocorreu no domingo (5/6), após a tentativa de encontrar uma liderança local. Como não tiveram êxito, decidiram seguir para a cidade de Atalaia do Norte. No entanto, não chegaram ao destino, localizado a cerca de duas horas da comunidade São Rafael.
A União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) emitiram um comunicado, denunciando as ameaças sofridas por Bruno e Philips. “Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relato dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo”. Outros relatos de intimidação nos últimos dias já haviam sido denunciados pela organização indígena à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público Federal (MPF), ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e à ONG Indigenous Peoples Rights International.

O Ministério Público Federal (MPF) disse em nota que atua para solucionar o caso com agilidade. "O MPF instaurou um procedimento administrativo para apuração e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas de Nova York se pronunciou em comunicado dizendo que o desaparecimento do jornalista era ‘extremamente preocupante’ e pediu às autoridades brasileiras que localizem os dois homens rapidamente.
O Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha entrou em contato com as autoridades brasileiras pedindo celeridade nas buscas. A esposa de Dom Phillips, através do jornal The Guardian, fez apelo para que as autoridades brasileiras atuem, pois ‘cada minuto conta’. Alessandra Sampaio, que mora com o marido em Salvador, apelou às autoridades, dizendo que as famílias estão desesperadas.
SUSPEITOS PRESOS Dois homens identificados como “Churrasco”, presidente da Associação da Comunidade São Rafael, e “Janeo” foram detidos para prestar depoimentos pela Polícia Civil, que os liberou na noite de segunda-feira (6). De acordo com Polícia Federal (PF), os dois, que são pescadores e ligados a crimes ambientais, foram ouvidos porque tiveram contato com Bruno Pereira e Dom Phillips antes do desaparecimento da dupla. Outras três pessoas identificadas como “Pelado”, “Nei” e “Caboclo” também estariam sendo procuradas.