top of page

Investigações da Polícia Federal evidenciam monitoramento ilegal realizado pelo governo Bolsonaro

Foto do escritor: Alexandre CostaAlexandre Costa

A operação deflagrada pela Polícia Federal na última quinta-feira (11) sobre o esquema de monitoramento ilegal montado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), a Abin paralela, pode ter efeito negativo para aliados do ex-presidente nas eleições municipais. Políticos próximos a Bolsonaro temem, por exemplo, a divulgação do conteúdo do áudio citado pela PF que registra uma conversa entre ele e Alexandre Ramagem, diretor-geral da Abin na época.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) concluiu uma investigação interna sobre a atuação do general Mauro Lourena Cid, indicado por Jair Bolsonaro (PL) para o comando do escritório da agência em Miami, identificando uma série de desvios que teriam sido praticados por ele. Entre as irregularidades apontadas estão o afastamento das atividades inerentes ao cargo e o uso da estrutura da agência para negociações de joias que deveriam ter sido incorporadas ao patrimônio do Estado brasileiro, mas que Bolsonaro tentou se apropriar, além da defesa de pautas golpistas.


A investigação, baseada em depoimentos de 16 funcionários e ex-funcionários, além da análise de documentos, revelou que o general utilizou a estrutura da agência para visitar o acampamento golpista no quartel-general do Exército, em Brasília, no final de 2022. Lourena Cid manifestava aos funcionários sua convicção de que Jair Bolsonaro continuaria no poder mesmo após a derrota nas eleições.


Nomeado por Bolsonaro para chefiar o escritório da Apex em Miami em 2019, Lourena Cid, colega de turma do ex-mandatário na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), foi demitido em 3 de janeiro de 2023. Ele também está sob investigação da Polícia Federal (PF) por participar de negociações, nos Estados Unidos, para a venda de joias desviadas da Presidência da República. O general é pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que firmou um acordo de delação premiada com a PF.


A apuração da Apex revelou que o general usou o celular corporativo da agência para fotografar e compartilhar as joias por WhatsApp após sua demissão. As fotos foram tiradas nas dependências físicas da agência, mas não foi possível determinar se as joias foram levadas ao local. Lourena Cid demorou a devolver os equipamentos corporativos, como o celular e o notebook, com a devolução do celular ocorrendo somente em 7 de fevereiro.

A Apex concluiu que o general adotou um "comportamento desviante" na sua agenda de trabalho, sem realizar atividades para a captação de investimentos ou promoção de exportações. Foi também identificada a falta de controle sobre o trabalho dos funcionários e o desempenho do escritório.


As conclusões da comissão serão enviadas à Polícia Federal e ao Tribunal de Contas da União (TCU), que pode abrir processo para solicitar a devolução de valores caso identifique desvios. A defesa do general Cid não se manifestou sobre o assunto.


Com um orçamento de R$ 1,3 bilhão em 2022, a Apex, apesar de ser uma entidade de direito privado abastecida com recursos do sistema S, é auditada pelo TCU e precisa prestar contas à corte.


Dependendo do conteúdo dos áudios, a força política de Jair Bolsonaro pode ser afetada nas eleições municipais, atrapalhando seu papel como cabo eleitoral em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. "Grampo de inimigo já é complicado, agora, grampo de um amigo é muito pior", analisa um aliado do ex-presidente da República no Congresso Nacional. De acordo com um interlocutor de Bolsonaro, uma eventual conversa vazada do então presidente tentando ajudar, de forma irregular, seu filho, Flávio Bolsonaro (PL), pode ter um efeito explosivo. 


Quem também deve sofrer danos em sua candidatura é o próprio Alexandre Ramagem, pré-candidato à prefeitura do Rio. Ele foi lançado ao cargo por Bolsonaro, mas a cúpula do PL avalia se ainda faz sentido manter o nome do ex-diretor-geral da Abin na disputa eleitoral.

A existência de uma gravação de uma conversa entre Bolsonaro e Ramagem também causa desconfiança em relação ao comportamento do pré-candidato a prefeito. Na reunião, eles teriam discutido uma estratégia para anular um processo contra Flávio e perseguir auditores que atuaram no caso.


"Por que Ramagem não destruiu esse áudio? Qual era o objetivo dele? Por que ele fez a gravação?" são algumas das perguntas nas conversas entre bolsonaristas de alto escalão.

bottom of page