Mais uma vez, Jair Bolsonaro (Sem Partido) envergonha o Brasil. Em viagem oficial para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas durante esta semana, em Nova York (EUA), o presidente vem "pagando mico" desde a sua chegada, no domingo (19/9). A participação de Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) tem sido cercada de polêmica desde que o presidente declarou sua condição de não vacinado, o que viola o mandato interno de vacinação de Nova York. O comportamento do presidente é uma demonstração de desrespeito à ciência e coloca em risco a delegação de outros países e todas as pessoas com quem ele entra em contato, desde funcionários de hotéis e restaurantes a delegados e funcionários da ONU.
Como se negou a tomar a vacina, contrariando as recomendações científicas, Bolsonaro não pode entrar em nenhum restaurante de Nova York e teve que comer pizza na calçada. É que o município exige comprovante de vacinação para a entrada em restaurantes e outros estabelecimentos de acesso público. Logo que a comitiva brasileira chegou ao hotel, sentiu o clima hostil contra o presidente. Bolsonaro teve que entrar pela portas dos fundos no hotel onde está hospedado, por ordem do Serviço Secreto dos EUA (responsável pela segurança de autoridades internacionais), evitando passar pela entrada principal do estabelecimento, onde havia uma manifestação contrária ao presidente brasileiro, com a presença da imprensa internacional. Além disso, um diplomata da comitiva brasileira testou positivo para covid-19, segundo informou a correspondente da Globo News em Washigton, Raquel Krahenbuhl.
Na véspera do discurso de Jair Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA), ativistas projetaram imagens ao lado da ponte do Brooklyn, alertando sobre os perigos da chegada do presidente não-vacinado. As imagens destacam a agenda anti-ambiental de Bolsonaro, que levou à destruição generalizada da floresta amazônica, aos ataques sistemáticos aos direitos dos povos indígenas no país, ao manejo inadequado da pandemia e ao enfraquecimento das instituições democráticas no Brasil. Ativistas e aliados brasileiros estão convocando os líderes mundiais e a comunidade global para responsabilizar Bolsonaro pelas múltiplas crises que seu governo causou não apenas no Brasil, mas também globalmente. O Comitê Defend Democracy in Brazil (DDB-NY) está organizando uma série de atos e fez parceria com The Illuminator e Greenpeace USA para projetar as imagens às vésperas da Assembleia. Os protestos de rua estão sendo organizados com grupos de base de ação climática, antifascistas e de brasileiros em Nova York.
DISCURSO ESTARRECEDOR DE BOLSONARO ENVERGONHA OS BRASILEIROS
No seu discurso na 76ª Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (29/9), Jair Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce contra o coronavírus, criticou o que ele chama de “ditadura bolivariana” na Venezuela, afirmou que medidas de isolamento e lockdown deixaram um “legado de inflação” no Brasil, em especial nos gêneros alimentícios e responsabilizou governadores e prefeitos pela decisão de obrigar as pessoas a ficarem em casa durante e pandemia. O discurso estarrecedor do presidente brasileiro durou pouco mais de 10 minutos e um dos temas que mais chamou a atenção foi a afirmação de que ele mesmo havia feito o tratamento precoce. Bolsonaro declarou respeitar a relação “médico-paciente” na decisão da medicação a ser utilizada contra a covid-19, defendendo inclusive o uso fora dos termos prescritos em bula. “Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”, questionou, argumentando que “A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”.
Sobre a vacinação, Jair Bolsonaro afirmou que 140 milhões de brasileiros já receberam a primeira dose, o que corresponde a 90% da população adulta. “Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos”, garantiu. O presidente afirmou que o seu governo é “contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina“.
CORRUPÇÃO E DESRESPEITO À DEMOCRACIA
Uma das afirmações mais contestadas pelos opositores de Bolsonaro, é de que o Brasil está há dois anos e oito meses sem qualquer “caso concreto de corrupção”. O presidente brasileiro resolveu omitir o trabalho realizado pelos senadores que estão investigando tratativas para a compra superfaturada da vacina Covaxin, além de dezenas de outros casos que já foram noticiados na imprensa e que não fazem parte das investigações da CPI da Covid . Bolsonaro também destacou as manifestações contra o STF realizadas por seus apoiadores no último dia 7 de setembro, como sendo a “maior de nossa história”, o que não é verdade. Jair Bolsonaro afirmou que “milhões de brasileiros” foram às ruas, “de forma pacífica e patriótica”, para demonstrar suposto apreço pela democracia e pelas liberdades individuais, além de manifestarem apoio ao seu governo.
MEIO AMBIENTE
Em relação ao meio ambiente, o discurso de Bolsonaro seguiu a linha de completo desacordo com a realidade. o presidente afirmou o desmatamento na Amazônia caiu 32% em agosto, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. O presidente omitiu os dados do sistema Deter mostra um aumento de 70%, comparando os últimos três anos (2019, 2020 e 2021) com o acumulado dos três anos anteriores. Além disso, Bolsonaro disse que seu governo “dobrou” investimentos em recursos humanos e financeiros destinados a “zerar o desmatamento ilegal”. “Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?”, questionou o presidente brasileiro. Mesmo em meio à ameaça de apagão e dos preços elevados da tarifa, Bolsonaro afirmou que o Brasil é exemplo de geração de energia, com 83% da matriz energética composta por fontes renováveis. Também prometeu alcançar a “neutralidade climática” até 2050 e convidando líderes mundiais a visitarem a Amazônia, afirmando que o futuro do “emprego verde” está no Brasil, “com energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo”.
AFEGANISTÃO, COMUNISTAS E BOLIVARIANOS
Bolsonaro repudiou o terrorismo “em todas as suas formas, ao lembrar dos 20 anos dos atentados contra os Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, e afirmou que o futuro do Afeganistão causa “profunda apreensão”, prometendo visto humanitário “para cristãos, mulheres, crianças e jovens afegãos”. No seu discurso na ONU, o presidente brasileiro atacou “comunistas” e “bolivarianos” e afirmou que acredita em Deus, na família e na Constituição e respeita os seus militares. “Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.” Nesse sentido, o presidente também afirmou que o BNDES financiou “obras em países comunistas, sem garantia”. O presidente argumentou que o Brasil recebeu, como refugiados, 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela “ditadura bolivariana”.
Bolsonaro afirmou que “nosso país sempre acolheu refugiados. Em nossa fronteira com a vizinha Venezuela, a Operação Acolhida, do Governo Federal, já recebeu 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana”.
THE NEW YORK TIMES Mais importante jornal dos Estados Unidos, o The New York Times criticou o pronunciamento de Jair Bolsonaro feito na Assembleia-Geral da ONU. "O presidente Jair Bolsonaro do Brasil deu início à Assembleia Geral das Nações Unidas na terça-feira, defendendo o uso de drogas ineficazes para tratar o coronavírus e resistindo às críticas ao desempenho ambiental de seu governo", destacou a reportagem. De acordo com a publicação, Bolsonaro "liderou uma das respostas mais criticadas do mundo à pandemia". "Bolsonaro minimizou repetidamente a ameaça que o vírus representava, criticou as medidas de quarentena e foi multado por se recusar a usar máscara na capital", disse o NYT.