A face brutal do racismo vai muito além de atitudes e palavras preconceituosas e se revela cruel tanto quanto foi o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, agredido até a morte no estacionamento do Carrefour, no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre, na noite de quinta-feira (19/11). O crime ocorreu na véspera de uma data simbólica, que é o 20 de novembro, uma referência a Zumbi de Palmares, em que é comemorado o Dia da Consciência Negra no Brasil. , As circunstâncias do assassinato estão sendo apuradas pela Polícia Civil. Até o momento, as informações que chegaram à imprensa é de que após uma discussão dentro do estabelecimento, João Alberto entrou em luta corporal com os dois seguranças do Carrefour, sendo brutalmente agredido com socos no rosto. Logo em seguida, foi imobilizado com um golpe chamado de "mata-leão" e morreu no local.
Porto Alegre é uma das cidades mais racistas do Brasil. Em menos de uma semana, a capital gaúcha protagonizou um crime de injúria racial. Na segunda-feira (16/11), Valter Nagelstein (PSD), candidato à prefeitura de Porto Alegre nas eleições municipais deste ano, fez comentários de cunho racista sobre os vereadores eleitos do PSOL para a Câmara da Capital. "Basta a gente ver a composição da Câmara, cinco vereadores do PSOL. Muitos deles, jovens, negros. (...) Sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal". Derrotado na eleição municipal do dia 15 de novembro, Nagelstein diz que agora, para o segundo turno, apoia Sebastião Melo (MDB) na disputa contra Manuela D'Ávila (PCdoB).
O segurança Magno Braz Borges e o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva foram detidos em flagrante. O policial é lotado no Departamento de Comando e Controle Integrado da Secretaria da Segurança Pública e, no momento, se encontra recolhido no presídio da Brigada Militar. O segurança da empresa terceirizada será encaminhado ao Presídio Central. O caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre. Em nota, o Carrefour disse que romperá o contrato com a empresa responsável pelos seguranças que cometeram a “agressão” e informa que o estabelecimento ficará fechado e dará o “suporte necessário” à família da vítima.
CARREFOUR
“O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento desse inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente”, diz a nota do Carrefour, que completa: “Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como essa aconteçam”.
BRIGADA MILITAR
Também em nota, a Brigada Militar explica ter ter sido acionada para atendimento de ocorrência no Carrefour, tendo prendido os envolvidos, “inclusive o PM temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei”.
“Cabe destacar ainda que o PM Temporário não estava em serviço policial, uma vez que suas atribuições são restritas, conforme a legislação, à execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento, e, ainda, mediante convênio ou instrumento congênere, guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos”, explica a BM. Freitas teria se irritado com a situação e dado um soco em um dos guardas. Os vigilantes revidaram e o homem acabou sendo dominado e agredido ainda nas dependências do hipermercado. Os dois suspeitos foram presos em flagrante. Conforme a Brigada Militar, um deles é policial militar temporário. Vídeos mostram Freitas sendo agredido com vários socos na cabeça, mesmo após ter sido imobilizado.
MANIFESTAÇÃO
Os cinco vereadores eleitos no último dia 15 de novembro, que formam a bancada negra para a próxima legislatura da Câmara de Porto Alegre realizaram uma manifestação em frente ao Carrefour na manhã desta sexta-feira (20/11). Karen Santos (PSOL), Matheus Gomes (PSOL), Laura Sito (PT), Daiana Santos (PCdoB) e Bruna Rodrigues (PCdoB) demonstraram sua indignação com o crime, na véspera do Dia da Consciência Negra. No meio da tarde, diversas pessoas entraram no Carrefour, portanto cartazes e faixas e realizaram um protesto no interior da loja. Os movimentos sociais organizaram um protesto em frente ao hipermercado a partir das 18 horas.