A entrevista de Marco Weissheimer, do portal Sul 21, com o indigenista Ricardo Henrique Rao, publicada na quarta-feira (15/6), é uma peça importante para compreendermos o contexto do bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips. Para além do faro afinado do jornalista, a entrevista com Rao é uma demonstração do descaso das autoridades brasileiras em relação à atuação do crime organizado na Amazônia.
As revelações de Rao na entrevista concedida ao Sul21 são extremamente graves. Bruno e Dom foram vítimas do crime organizado que cresce a cada dia. O garimpo, o comércio ilegal de madeiras e de animais silvestres, a pesca predatória e o tráfico de drogas são parte do cenário caótico da floresta. Não é por acaso que instituições, órgãos públicos e governos têm sido incapazes de deter a devastação do meio ambiente, a destruição da cultura e do povo indígena. É neste contexto que precisamos analisar a miséria da população ribeirinha, a contaminação dos rios por mercúrio, o desmatamento e as queimadas.
A denúncia que Ricardo Rao fez à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, em setembro de 2019, fez com que ele pedisse asilo diplomático à Noruega. Caso tivesse permanecido no Brasil, certamente Rao faria parte da triste estatística que faz do Brasil o quarto país no mundo e o terceiro na América Latina em número de mortes de ambientalistas e de direitos por terras. O crime organizado e suas ramificações têm muita força, o que explica o fato das autoridades políticas não ter dado andamento ao documento “Atuação miliciana conectada ao crime organizado madeireiro, ao narcotráfico e a homicídios cometidos contra os povos indígenas do Maranhão – Um breve dossiê”.
Além de explicar o seu trabalho como indigenista na Funai, Rao falou sobre os crimes que denunciou e o ambiente instaurado no trabalho da Fundação, a partir do governo Bolsonaro. A própria narrativa do presidente Jair Bolsonaro, afirmando que a região do Vale do Javari é "bastante isolada" e que "muita gente não gostava" de Dom indicam que "Pelado" e "Dos Santos" não estavam sozinhos. A ordem para matá-los faz parte de uma organização robusta, invisível e dispersa e seus defensores estão espalhados pelos três poderes. As declarações do presidente Bolsonaro, por si só, explicam a passividade do estado diante da força do crime organizado. "Esse inglês, ele era malvisto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental... Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão.
Parabéns ao Sul21 e ao jornalista Marco Weissheimer pela entrevista com o indigenista Ricardo Henrique Rao. O trabalho é mais um exemplo da importância dos veículos independentes e da imprensa alternativa em nosso país. Leia e entrevista no link abaixo