A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao programa "Timeline", da Rádio Gaúcha, na manhã desta quinta-feira (9/7), gerou uma verdadeira enxurrada de comentários nas redes sociais, muito mais pela postura dos jornalistas do que pelo conteúdo originado a partir dos questionamentos de Kelly Matos e Luciano Potter, propriamente dito. O ex-presidente Lula respondeu todas as perguntas elaboradas pelos apresentadores e não demorou muito para tomar conta do espaço, a partir de argumentos sobre o papel político da Operação Lava Jato e a forma como atuou.
Lula fez uma cronologia dos fatos, desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Ele salientou que Dilma não cometeu nenhuma irregularidade e que as chamadas "pedaladas fiscais" fazem parte de procedimentos comuns na administração pública, não configurando-se como crime de responsabilidade. O ex-presidente explicou em seguida como a Lava Jatou agiu para incriminá-lo, como foram obtidas as provas, juridicamente irregular e portanto criminosa.
Lula afirmou categoricamente que foi perseguido pela Lava Jato e que a sua prisão teve como principal objetivo retirá-lo da disputa presidencial. O ex-presidente chamou Sérgio Moro de mentiroso e desafiou a Rádio Gaúcha a promover um debate entre ele e o ex-juiz. Lula também mencionou a imparcialidade da imprensa, principalmente da Rede Globo, que atuou decisivamente no processo de desestabilização da democracia, a partir de 2016, com o golpe que derrubou Dilma.
Ao invés de entrevistar, de perguntar e questionar, Luciano Potter resolveu afirmar que existe uma semelhança entre os discursos de Lula e de Bolsonaro . "Como são parecidos os discursos do senhor e de Jair Bolsonaro. Vocês dois odeiam a Globo. A Globo quer derrubar todo presidente da República", comentou Potter. Sem exitar, Lula respondeu: "A Globo trata diferentemente as pessoas. Ela não gosta de Bolsonaro, mas adora a política de Guedes, a privatização, tirar direitos dos trabalhadores". Em seguida, Kelly Matos pede a palavra: "Quando as pessoas falam que os comportamentos são parecidos, uma simetria ou falsa simetria, como alguns falam, entre o senhor e o presidente, que vocês reclamam da Globo, de jornalistas... Os dois polos se encontram? O senhor é parecido com ele?". "Alguém que fale que há semelhança ou é ignorante ou é má-fé", rebateu o ex-presidente.
Pouco antes, quando Lula chamou Moro de mentiroso, a apresentadora usou da ironia, aparentemente de forma despretensiosa. "Presidente, você está rancoroso, fui pesquisar seu signo, está focado no Moro". Comentário completamente fora de contexto e desrespeitoso. "Você só pode ter uma relação caso de amor com Moro, só fala dele". As provocações continuaram: "mas por que a segunda instância lhe condenou, presidente?". Lula respondeu de forma serena, "porque votou no que Moro escreveu". Sem argumentos, mais uma vez o jornalismo deu lugar à ironia: "Mas é muita gente contra o senhor", voltou a alfinetar o entrevistador. Ao tentar fazer jornalismo com irreverência, o "Timeline" acabou demonstrando desrespeito. Mas o ex-presidente não se desestabilizou. "Não tenho ódio, agora não posso deixar de tratar um cidadão que me acusou de chefe de quadrilha (Dallagnol)". "Eu duvido que vocês perdoariam", complementou.
O ex-presidente Lula percebeu logo que o objetivo das ironias e dos questionamentos era apenas uma tentativa de demonstrar que Lula e Bolsonaro estão em pólos opostos, mas têm semelhanças. Uma forma encontrada pelos apresentadores para "vender" a ideia de que o Brasil precisa de um caminho nem à esquerda e nem à direita, ideia que vem se proliferando, principalmente entre aqueles que apoiaram Bolsonaro e se arrependeram. Lula foi enfático e não admitiu semelhanças com o atual presidente. Mais uma vez, o apresentador Luciano Potter resolveu apresentar suas verdades, sem ao menos mencionar de onde tirou a informação ou qual foi a relação que estabeleceu para fazer tal associação. Ele afirmou que "a rejeição ao PT ajudou Bolsonaro a ganhar a eleição". "O PT vai se retirar (das eleições de 2022)?", questionou. O apresentador prosseguiu: "É o maior partido da democracia recente brasileira. Por isso pergunto, porque que há rejeição? A rejeição colabora com o Bolsonaro, então o senhor está elogiando o Bolsonaro. Se a rejeição ao PT não colaborou com o Bolsonaro, o senhor está fazendo o maior elogio a história do Bolsonaro". O ex-presidente respondeu afirmando que "quem ajudou Bolsonaro foram as pessoas que não quiseram votar no PT".
Por fim, Potter questionou sobre uma possibilidade, que possivelmente vem de um desejo seu, como cidadão, porém sem qualquer nexo com a atual realidade política: "se no segundo turno apontarem Bolsonaro e Moro, quem o senhor ajuda?". "Eu votaria em branco. Isso (disputa entre os dois) não vai acontecer", respondeu o ex-presidente. "Dizer que o PT é responsável pelo Bolsonaro é uma heresia. Lembro sempre que no dia seguinte da eleição do Trump muita gente foi pra rua protestar. E o Trump disse: por que essas pessoas não foram votar na Hillary? O dado é que 8 milhões de americanos deixaram de votar", afirmou ainda Lula.