por Claudia Schiedeck (*)
Andava eu muito triste, quase depressiva, nas últimas semanas. Não aguento mais abrir as redes sociais e ver amigos, familiares, familiares de amigos e amigos de familiares postando luto. Some-se a isso o número crescente de mortos todos os dias. Ainda temos todos os dias o deboche, o desprezo, o desrespeito e a infâmia escarrada do despresidente e seus asseclas. É o quadro da dor na moldura do desespero. E o que dizer do gado bolsonarista? Ficam repetindo que tudo tem que estar aberto, que o tal ‘tratamento precoce’ deve ser administrado porque funciona (sic), que tudo é culpa dos governadores e não do ‘minto’ que eles ajudaram a eleger. Enquanto isso a pobreza aumenta, as pessoas não têm o que comer, milhares morrem na fila dos hospitais disputando uma vaga na UTI e nós não podemos ir para a rua. Não precisa nem ser inteligente para perceber a loucura que se instalou nesse país. Basta ter bom senso para compreender que as coisas estão abaixo de péssimas.
Estava preparada para a segunda-feira começar com os números assustadores da pandemia e para qualquer pronunciamento imbecilizante do despresidente, já tentando me vacinar para conter a vontade de entrar pela TV e surrar o traste até virá-lo pelo avesso, porque convenhamos que é assim que a gente se sente. Ele desperta nossos instintos mais primitivos.
De repente, as notificações no computador começaram a bombar, os grupos de zap também. Até achei que tinha alguma pegadinha. Corri para a televisão e dali para frente confesso que já não lembro de muita coisa. Fiquei cabreira, achei que tinha casca de banana nessa função de anular os processos de Lula em Curitiba. Não acreditava. Só pensava que o Fachin não é confiável. E ainda penso.
Quando achava que nada podia ser melhor do que isso, veio a terça-feira e os votos de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski no julgamento da suspeição de Moro. Brilhantes! Empolgantes! Disseram tudo o que estava engasgado na garganta de muitos de nós. A vontade que eu tinha era de ir para a janela do apartamento e gritar ao mundo: eu já sabia, seus babacas.
Contudo, jamais imaginei que a quarta-feira podia me trazer algo ainda melhor: o que passei a chamar não de Efeito Lula, mas de Efeito Esperança. Não existe nada que eu possa escrever que consiga qualificar o discurso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Não só pelo que ele disse, mas pelo abalo causado nas estruturas apodrecidas dessa república.
Comecemos pela grande mídia: olhos brilhando, sorrisos, empolgação. Pela primeira vez em um ano, os analistas tinham algo de positivo para comentar. Pela primeira vez desde o início da pandemia, eles podiam falar de posturas corretas, de empatia, de bons sentimentos e de um futuro para todos os brasileiros. E me emocionei.
Meus olhos se encheram de lágrimas porque eu via, através dos comentários nas redes sociais e na mídia, os rostos de pessoas que foram beneficiadas pelas políticas sociais de Lula – estudantes, pobres, pequenos empreendedores e empresários, mulheres, jovens e tantos outros. Eu via algo que tínhamos perdido ao longo de todos esses anos lutando pela liberdade de Lula: a esperança.
Vi em cada expressão facial dos adversários de Lula a expectativa de que podemos ser mais do que temos sido nesses dois anos de terror. Foi como o transbordamento de uma barragem. Todos os sentimentos, todos os desejos inconfessos, toda a crença de que o Brasil de Bolsonaro não é majoritário e que ele precisa ser parado irromperam naquelas análises e posts.
Eles falam em Efeito Lula. Eu falo em Efeito Esperança. As palavras de Lula ecoaram nos corações de milhões de brasileiros e brasileiras, trazendo luz para as trevas e fazendo com que as pessoas pudessem imaginar um Brasil sem Bolsonaro e terem motivo para acreditar. Ainda temos alguns obstáculos, mas esse país está mais perto. Para isso, precisamos enraizar essa esperança na sociedade brasileira. Sem medo de sermos felizes, poderemos mobilizar amor e capacidade de articulação contra o ódio e a destruição. É assim que derrotaremos Bolsonaro. Ainda teremos muita luta pela frente, mas vamos fazê-lo.
Sinto apenas pelos companheiros que perdemos nessa jornada e se encontram em outro plano, em especial minha querida amiga Michele Sandri da Costa que faleceu de COVID exatamente na segunda-feira passada. Mas tenho certeza de que onde quer que eles estejam estão gritando junto conosco: LULA LIVRE. E nós lutaremos até a vitória por eles.
(*) Claudia Schiedeck é ex-reitora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).