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DOCUMENTÁRIO QUESTIONA FACADA EM BOLSONARO E DEIXA UMA SÉRIE DE PERGUNTAS SEM RESPOSTAS


A facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira no então candidato e hoje presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora, Minas Gerais, gerou inúmeros questionamentos em relação à veracidade e os interesses por trás do suposto atentado. O fato acabou sendo decisivo para a eleição de Bolsonaro em 2018. O documentário “Bolsonaro e Adélio: uma fakeada no coração do Brasil”, lançado no dia 12 de setembro, alcançou 500 mil visualizações logo nas primeiras horas e uma semana passou de um milhão de acessos.


Além de apontar as fragilidades em relação ao suposto atentado, o filme derruba algumas versões no mínimo intrigantes, como a relação entre Carlos Bolsonaro e a Adélio e o encontro deles em clube de tiro em Florianópolis, em Santa Catarina. Esta é apenas uma entre as muitas coincidências apresentadas no documentário, que traz à tona também questionamentos em relação à atuação dos seguranças, da Polícia Federal, dos advogados de Adélio, dos trâmites processuais e dos procedimentos médicos e hospitalares.


A repercussão em relação ao documentário do jornalista Joaquim Carvalho acabou gerando discussões e debates nas redes sociais, tanto nos grupos de opositores ao presidente quanto entre os próprios apoiadores de Bolsonaro. Apesar da total falta de consenso sobre o filme, é sensato afirmar que, mesmo sem apresentar provas irrefutáveis, o documentário é instigante e deve, ou pelo menos deveria, impulsionar os órgãos competentes a promover uma ampla reavaliação em todas as instâncias.


Por outro lado, “Bolsonaro e Adélio: uma fakeada no coração do Brasil” mostra a verdadeira face da imprensa tradicional brasileira. As manifestações de alguns dos maiores grupos de comunicação do país, como é o caso da Folha de São Paulo e do grupo Globo, que classificaram o documentário de fantasioso, demonstram o quanto é medíocre e covarde a nossa imprensa. O ataque ao documentário de Joaquim Carvalho é apenas uma tentativa de esconder a apatia do jornalismo tradicional. Após assistir o documentário, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) anunciou que iria protocolar um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a facada. “Bolsonaro tinha 8 segundos de televisão e passou a ter 24 horas […]. Foi na facada que ele ganhou as eleições”, afirmou o deputado.


O trabalho de Joaquim de Carvalho traz um encadeamento cronológico que facilita a compreensão dos detalhes do episódio de 6 de setembro de 2018. A equipe foi à Juiz de Fora, cidade mineira onde ocorreu a facada, e entrevistou uma série de personagens envolvidos no incidente, como um colega de profissão, um fotógrafo, um garçom onde o então candidato almoçou no dia do atentado e um atendente da lanchonete onde Bolsonaro foi estirado após sofrer a facada, entre outros personagens. Atualmente, Adelio cumpre, então, “medida de segurança de internação” na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, por “sua alta periculosidade.” De acordo com a legislação, Adélio deveria ser transferido para um hospital psiquiátrico de custódia e tratamento. O Ministério da Justiça afirma que existe, em tal estabelecimento, unidade básica de saúde e de atendimento psiquiátrico adequadas ao tratamento que lhe fora imposto.


ASSISTA O DOCUMENTÁRIO

Seja como for, o documentário coloca a história oficial em xeque e deixa ao menos dez pontos relevantes sem respostas.

1) O que determinou que a segurança de Bolsonaro em Juiz de Fora fosse diferente dos demais esquemas de proteção, realizados em outras viagens? A viagem de Bolsonaro à cidade mineira não teve a presença da chefia da segurança do presidente. No carro que o levou do Rio de Janeiro a Juiz de Fora, não estava presentes o Tenente Sérgio Cordeiro e Max Guilherme, sargento do BOPE, responsáveis pela escolta. Os dois até hoje trabalham com o presidente, como assessores especiais do Palácio do Planalto. 2) O que motivou Carlos Bolsonaro a mudar o padrão adotado em outras viagens e optar por viajar para o evento de campanha do pai na cidade mineira? A presença de Carlos Bolsonaro na viagem à cidade mineira fugiu do padrão dos outros compromissos de campanha do presidente. Segundo o então presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, que liderava o partido de Bolsonaro à época, Carlos não havia viajado para nenhum outro lugar ao lado do pai. 3) O que motivou a recusa do então candidato a vestir o colete à prova de balas? O depoimento do presidente da Associação Comercial de Juiz de Fora ao jornalista Joaquim de Carvalho aponta que havia um colete à prova de balas no carro que levou Bolsonaro ao Parque Halfeld, seu último compromisso antes da facada. Segundo o empresário, Bolsonaro optou por não usá-la. 4) Qual é a exata relação de Carlos Bolsonaro e Adélio Bispo de Oliveira? A visita de Adélio a um clube de tiro em Florianópolis, em julho de 2018, no mesmo dia em que Carlos Bolsonaro esteve no espaço, foi explorada pelo filme. A peça ressalta que a dona do espaço negou a informação à imprensa, inicialmente, mas em depoimento à PF voltou atrás. Outro detalhe é uma tentativa de Adélio ir na direção de Carlos poucos minutos antes do atentado. Ao perceber a abordagem, Carlos muda de direção e entra dentro do carro da comitiva. 5) Como Adélio conseguiu pagar a entrada no clube de tiro, a viagem a Juiz de Fora e a hospedagem? O filme mostra também que Adélio vivia em condições quase miseráveis. Ele tinha dificuldade para pagar as contas e dormia em hospedarias e albergues. Contudo, chama a atenção ele ter reunido recursos para pagar todos os custos com dinheiro vivo. 6) Por que o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior segue como tutor de Adélio e quem custeou seus honorários? O advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior é “tutor” de Adélio, que foi considerado inimputável depois que sua defesa comprovou uma suposta insanidade mental. O filme mostra que a irmã de Adélio disse que ele pediu que ela trocasse o advogado, mas ela não tem dinheiro para bancar a substituição. Até o momento, não se sabe quem custeia os honorários de Zanone. 7) Quais foram os remédios ingeridos por Bolsonaro durante evento em Juiz de Fora? Durante entrevista coletiva em Juiz de Fora, o presidente tomou dois remédios em frente à imprensa. Um deles era efervescente. O outro, um comprimido. O filme, ao cogitar a possibilidade de um auto-atentado, ressalta a possibilidade de ingestão de um anestesiante. 8) Por qual motivo o hospital não entregou prontuário à Polícia Federal? De acordo com o filme, o Hospital Albert Einstein não entregou o prontuário de Bolsonaro à Polícia Federal. O médico do presidente, Antônio Macedo, que era um dos principais oncologistas da casa, não integra mais o quadro de funcionários do hospital. O Brasil de Fato enviou questionamento ao Albert Einstein. Até o momento, não houve retorno. 9) Bolsonaro, de fato, “comemorou” a facada em fala para Paulo Marinho e “previu” o episódio em conversa com Joyce Hasselmann? O empresário Paulo Marinho, um dos principais articuladores da campanha de Bolsonaro, revelou que o então candidato disse que estaria eleito após sofrer atentado a faca durante campanha em Juiz de Fora (MG). A cena ocorreu na primeira visita de Marinho ao hospital após o atentado. Em uma transmissão ao vivo do Diário do Centro do Mundo, Joyce Hasselmann disse que revelou que o chefe do Executivo federal disse a ela, dias antes das disputa presidencial de 2018, que “se tomasse uma facada, ganharia a eleição”. De acordo com reportagem da BBC Brasil, Steve Bannon disse, em agosto de 2018, em encontro realizado com Eduardo Bolsonaro, que previa a possibilidade de seu pai sofrer um atentado. “[O risco] não tem a ver com seus oponentes políticos, é sobre a natureza da anarquia no Brasil”, disse o estadunidense. As falas, isoladamente, passam muito longe de provar algo, mas um auto-atentado não pode ser descartado, pelo menos como uma linha de investigação que deveria ter sido considerada pelas autoridades policiais. 10) Por que a família Bolsonaro não recorreu de decisão judicial? Em julho de 2019, Adélio foi considerado inimputável. A decisão poderia ter sido questionada por Bolsonaro, mas foi sacramentada depois que o Ministério Público Federal e a própria defesa do presidente desistiram de recorrer no processo.

 
 
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