“Não é ignorância, é cálculo”, afirma o cientista político italiano Giuliano da Empoli sobre o funcionamento das redes de desinformação e ódio da extrema direita. Lembrei disso frente às agressões sofridas pelas vereadoras porto-alegrenses Bruna Rodrigues, Daiana Santos (Ambas do PCdoB) e Laura Sitto (PT). Muitas vezes ouvi que o ódio nas redes não teria impactos na vida real. Sabemos que isso não é verdade. Não impacta apenas quem não é vítima dele.
Dos violentos manifestantes na Câmara da Capital, dois são militantes do movimento cristão conservador do PTB. Não é casual que esse seja o partido de Roberto Jefferson, que numa recente manifestação sugeriu que invadissem plenários e atirassem em parlamentares de oposição. Aliás, essa sua manifestação de desprezo pela democracia e estimulo à violência política foi o que me fez procurar o Ministério Público para denunciá-lo e que resulta em nova investigação do Supremo.
Aliados aos algoritmos e às técnicas discursivas usadas pela extrema direita para criar o caos, o ódio e a truculência extrapolam as redes sociais e se materializam na nossa frente, na vida real. Esse caos – direcionado a grupos de minorias – é atravessadas por elementos carnavalescos e hedonísticos, atrelados ao que esses pequenos grupos acreditam. Tudo muito entrelaçado pelo viés da transgressividade e pela ruptura do que consideram tabus, como o do “politicamente correto”, que incomoda tantos extremistas. É um movimento que se aproveita da raiva de uma forma muito mais tecnológica, muito mais eficaz e muito mais dirigida a um público alvo do que se fazia no passado.
Às vezes, as histórias parecem repetitivas, mas é que elas de fato se repetem, são reaquecidas, ressuscitadas para reanimar o ódio contra alguns de nós. Por isso, a importância de identificar e punir quem produz e distribui os conteúdos falsos e de ódio. É assim que cortaremos o mal pela raiz.
(*) Jornalista, mestra em Políticas Publicas, escritora e Presidente do Instituto E Se Fosse Você?
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