DISCURSO DE BOLSONARO NA ASSEMBLEIA GERAL DA ONU SOBRE O 5G NO BRASIL PROVOCA REAÇÃO DA CHINA
- Alexandre Costa
- 23 de set. de 2020
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A China reagiu às afirmações do presidente Jair Bolsonaro no discurso na Assembleia Geral da ONU sobre o instalação do 5G no Brasil. Após Bolsonaro indicar que pretende excluir a China da disputa pelo novo mercado, o país oriental respondeu que espera que as regras sejam objetivas, transparentes, não discriminatórias e que respeitem as normas básicas do sistema econômico mundial. A retirada dos chineses da disputa pelo mercado do 5G no Brasil reduziria a cobertura e elevaria o preço da nova tecnologia, tendo em vista que os equipamentos americanos são 30% mais caros. Os EUA segue fazendo seu lobby no Brasil, com objetivo de atingir a empresa chinesa Huawei.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a previsão é que a retirada das empresas chinesas seja feita pelo exército brasileiro, através da área técnica e por meio de restrições à compra de equipamentos daquele país. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, já afirmou que a decisão sobre os rumos do 5G no Brasil será do presidente Bolsonaro. A posição oficial dos Estados Unidos tem como objetivo proteger o país e seus aliados de eventuais espionagens por parte da China. A acusação dos norte-americanos está presente nos discursos de Trump, ainda que sem provas ou indícios de que os chineses tenham cometido alguma violação neste sentido. A evolução tecnológica da China é visível, porém o país ainda depende de fornecedores internacionais. Por isso, as empresas chinesas estão trabalhando no desenvolvimento de tecnologias próprias para evitar a dependência junto ao mercado americano.
GUERRA COMERCIAL
No ano passado, o cenário mundial já apontava para a desaceleração da economia norte-americana e uma possível recessão, conforme relatórios do FMI que projetavam cada vez mais para baixo o crescimento do PIB global. A queda na taxa de crescimento do produto da indústria de transformação dos EUA teve uma queda considerável, passando de 1,6% no 1º trimestre de 2019 para 0,4% no trimestre seguinte. Com a pandemia do coronavírus, os EUA está ainda mais vulnerável que a China, que ano passado também registrou queda na taxa de crescimento, passando de 6,6% para 5,8% no mesmo período.
A disputa comercial entre China e Estados Unidos vem causando preocupações em todo o mundo desde o começo de 2018, quando o presidente norte-americano, Donald Trump, fez o primeiro anúncio de tarifas impostas sobre produtos chineses. No entanto, a China desvalorizou fortemente sua moeda, o iuan. Com o argumento de que busca proteger os produtores norte-americanos e reverter o déficit comercial que os Estados Unidos tem com a China, Trump vem anunciando desde 2018 tarifas sobre produtos importados do país asiático. O objetivo é dificultar a chegada de produtos chineses aos Estados Unidos, o que estimularia a produção interna. O governo da China, por sua vez, tem reagido a esses anúncios com retaliações, chegando a impor também tarifas sobre produtos norte-americanos.
SITUAÇÃO DO BRASIL
A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode afetar o Brasil, pois o mercado chinês é o primeiro destino dos três principais produtos brasileiros exportados, a soja, o petróleo e o minério de ferro. Antes da guerra comercial, os EUA eram o segundo maior fornecedor de soja da China. As importações caíram após o governo chinês ter adotado tarifas de 25% sobre as cargas norte-americanas. Caso a China reduza a compra de soja dos Estados Unidos, o Brasil pode se beneficiar aumentando a exportação para os chineses. No caso de guerra cambial, a consequência seria queda nas bolsas, o que atinge o Brasil e muitos outros países.
QUEM É QUEM Seria um equívoco analisar as desavenças entre China e EUA apenas a partir das relações econômicas. A guerra comercial faz parte da disputa geopolítica entre as duas maior potências mundiais, que é resultado do crescimento rápido da China nas últimas décadas e o reordenamento da lógica dos mercados consumidores e da produção em todo o mundo. Aos que tudo indica, apesar das reações dos EUA a ascensão da China é irreversível. As discussões sobre o 5G e as supostas acusações de espionagem direcionada aos chineses demonstram o desespero dos norte-americanos em relação ao cenário econômico. Basta comparar os discursos dos dois líderes na Assembleia Geral da ONU de terça-feira(22/9) para saber quem é quem nesta guerra.