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DIANTE DE TEMPOS SOMBRIOS, LEMBREI DE GALEANO: A UTOPIA SERVE PARA QUE NÃO DEIXEMOS DE CAMINHAR...

Foto do escritor: Alexandre CostaAlexandre Costa

Um dos objetivos desta coluna é provocar reflexões e inquietações, por meio dos mais diversos temas e assuntos aqui postados. As informações são imprescindíveis no dia-a-dia dos jornalistas, que utilizam boa parte do seu tempo garimpando reportagens, artigos, notícias, crônicas, contos, poesias e outros tantos conteúdos que possam interessar a nós mesmos e aos leitores.

No Brasil de Bolsonaro, a violência se impõe por todos os lados e de diversas formas. Seja pela fome que atinge milhões de pessoas, pelo descumprimento à Constituição, por meio da censura que busca constranger a atividade intelectual e artística ou violando as leis trabalhistas, como fez recentemente o TikTok que contratou funcionários sem registro, pagando menos que um salário mínimo. Mas a violência se manifesta de muitas formas, em um jogo de futebol, com a agressão de um atleta a um árbitro; ou em um assassinato, após uma discussão sobre o preço da carne em um açougue localizado na região metropolitana de Porto Alegre. Por outro lado, temos a violência institucional, com dois exemplos em que a interpretação do conceito de Justiça parece totalmente equivocada. O primeiro é o caso da Casa de Referência Mulheres Mirabal, que acolhe mulheres vítimas de violência e que teve a energia elétrica cortada durante a pandemia de coronavírus, em razão da falta de pagamentos da conta. No segundo, a decisão que determinou prazo de 48 horas para os integrantes da Cozinha Solidária deixarem o imóvel, localizado na Avenida Azenha, impedindo desta forma que o projeto continue servindo diariamente e de forma gratuita as mais de 150 refeições à população necessitada. Com cerca de 600 mil mortes por covid-19, a pandemia no Brasil mostra a sua cor e realidade da violência estrutural, que mata mais homens negros que brancos, conforme matéria publicada pelo site Periferia em Movimento, no final de setembro. Em tempos de pandemia, cabe lembrar que não existe vacina para a miséria e a fome se propaga com a mesma velocidade do vírus. Feito um camaleão, a pobreza dispõe de uma espécie de mimetismo capaz de escondê-la ou de misturá-la ao cenário urbano, tornando-a invisível. Na terça-feira (5/10), no dia em que o Brasil comemorava os 33 anos da sua Constituição Federal, resolvemos falar do crescimento da fome no país, que atinge 14,5 milhões de brasileiros. O número de famílias na miséria, conforme dados registrados em abril de 2021, é o maior da série histórica do Ministério da Cidadania iniciada em agosto de 2012. O acesso à alimentação é um direito garantido pela Constituição. No entanto, a carta magna de 1988, que é a sétima do país e a sexta da República, não tem sido respeitada pelo estado, impedindo, desta forma, a garantia de um direito elementar à vida dos brasileiros. A cena de pessoas à procura de pés de galinhas nos mercados de norte a sul do país já faz parte da triste realidade destes tempos sombrios. Só é pior que a fila quilométrica para receber ossos em um açougue de Cuiabá, no Mato Grosso (maior Estado produtor e exportador de carne bovina do país); ou das pessoas garimpando restos de ossos e pelancas, descartados por supermercados no Rio de Janeiro. As imagens registradas recentemente pela grande mídia me fizeram lembrar de uma frase de Joseph Pulitzer: "com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma". Contrariando o Hino Rio-grandense, que diz: sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra, a violência tem sido motivo de vergonha e se faz cada vez mais presente no cotidiano dos gaúchos. Em Alvorada, Wagner de Oliveira Lovato, de 40 anos, foi espancado após reclamar do preço da carne em um estabelecimento da cidade, no sábado (2/10), mas não resistiu e morreu de traumatismo craniano no dia seguinte. No vídeo, publicado pelo G1, a vítima aparece saindo do local sem comprar nada. Na sequência, já do lado de fora, Wagner é levado por um dos agressores para o lado do açougue. Em seguida, ele começa a ser agredido por dois homens, um deles é o gerente do estabelecimento. Caído na calçada, um dos homens aparece tentando chutar a cabeça do vendedor. Na segunda-feira (4/10), o país do futebol ficou chocado com as cenas de violência protagonizadas pelo jogador William Ribeiro contra o árbitro Rodrigo Crivellaro Dias. O jogador do São Paulo de Rio Grande desferiu um soco e depois ainda chutou a cabeça do juiz, durante o jogo do seu time diante do Guarani de Venâncio Aires, pela Série A2 do Campeonato Gaúcho. O jogador foi preso e o árbitro foi conduzido a um hospital. Crivellaro foi liberado após fazer exames. O caso repercutiu em todo o Brasil.

Na quarta-feira (6/10), o ex-jogador Walter Casagrande fez uma bela síntese, relacionando a agressão cometida pelo jogador ao atual cenário político do país. A postagem do "Casão" foi um dos temas mais comentados no Twitter. Para Casagrande, a atitude do jogador William Ribeiro é resultado da “semente do ódio que foi plantada lá em 2018 e muita gente agarrou”, disse se referindo à eleição do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). “Aquilo que aconteceu no Sul é a semente do ódio que foi plantada lá em 2018 e muita gente agarrou. Então, o ódio está dentro da sociedade brasileira. Esse é um dos problemas que nós temos que acabar: é a sociedade que tem que acabar com o ódio”, afirmou. Confira a agressão covarde e brutal do jogador William Ribeiro, demitido pelo São Paulo imediatamente após o ocorrido.

Combater a violência não tem sido fácil, como aponta uma matéria publicada pelo site nonada.com.br, nesta quarta-feira (6/10), que tem como título Avança na Câmara projeto que transforma censura em improbidade administrativa. O texto informa sobre a aprovação de um projeto na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, que classifica como improbidade administrativa o ato de constranger ou impedir a expressão da atividade intelectual, artística, científica, de comunicação e religiosa, em desrespeito às liberdades expressas na Constituição. A proposta (PL 5499/19) é do deputado licenciado Marcelo Calero (RJ) e tem como mérito revogar a Lei 5.536/68, que regulamentou a censura de peças de teatros e obras cinematográficas durante a ditadura militar. Com a proposta, Marcelo Calero espera estabelecer uma norma clara que coíba a censura deliberada praticada por agentes públicos. “Ainda que tenha buscado proteger a liberdade de expressão, o ordenamento jurídico não conta com dispositivo para coibir a censura perpetrada por gestor público no exercício de sua função”, afirmou o parlamentar.

A aprovação foi pedida pela relatora, deputada Áurea Carolina (PSOL-MG). Segundo a parlamentar, a proposta vem “em boa hora” e assegura a liberdade de expressão prevista na Constituição. A deputada também afirmou que a revogação da Lei da Censura é uma medida necessária. “Essa lei não se coaduna com o novo espírito, inaugurado com a Constituição de 1988, que trouxe garantias constitucionais à livre expressão da atividade intelectual, científica e de comunicação e proibiu qualquer tipo de censura em nosso País”, disse Carolina. O projeto será analisado agora pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Depois seguirá para o Plenário da Câmara. O The Intercept Brasil publicou matéria denunciando o TikTok por contratar funcionários sem registro, pagando menos de um salário mínimo para jornadas de até 18 horas por dia. O jornalista Paulo Victor Ribeiro traz informações importantes sobre a violência no mundo do trabalho, que era exercida de forma remota, sem horários fixos e com pagamento em dólar. "Em um momento de crise econômica extrema, a oferta parecia irresistível. Felipe, desempregado, aceitou a proposta", escreveu Ribeiro. Porém, a matéria explica que a remuneração toda dependia do desempenho dos funcionários, e a promessa era a de que as melhores performances seriam contempladas com um bônus no final do trabalho. "O serviço tinha a duração pré-estabelecida de três meses: fevereiro, março e abril de 2021. Mas Felipe não aguentou uma semana. O que era para ser dinheiro rápido virou um inferno. O trabalho consistia em transcrever curtíssimos trechos de vídeos, de poucos segundos – por isso, para conseguir o vultoso pagamento combinado de 14 dólares por hora transcrita, era preciso trabalhar pelo menos 20 horas ouvindo vídeos". Convertido para a moeda brasileira com a cotação a R$ 5,50, valor real utilizado pelos gerentes para a conversão dos pagamentos de março, o pagamento por hora de trabalho era de cerca de R$ 3,85 – 77% do valor de uma hora pelo salário mínimo brasileiro. "Mas o trabalho era tão massacrante que Felipe acabou saindo antes, sem receber nada. Não foi o único", diz a reportagem. O jornalista Luís Gomes, do SUL21, publicou matérias tanto sobre a situação da Casa de Referência Mulheres Mirabal quanto sobre a decisão da Justiça que deu prazo de 48 horas para que o Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) desocupem o local onde funciona a Cozinha Solidária da Azenha, responsável pela preparação e distribuição de 150 refeições gratuitas por dia. O impeachment do presidente Jair Bolsonaro é tarefa tão difícil de ser viabilizada quanto será o processo de transformação do país, da sociedade civil, das instituições que compõem o Estado e do próprio povo brasileiro. Lembrei daquela conhecida frase do Eduardo Galeano: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

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