O mundo mudou e muda a cada par de minutos. Em relação às tecnologias é um assombro que não se pode negar e nem sair por aí amaldiçoando ou apelando às aulas de datilografia e às cópias carimbadas e assinadas que iam e vinham dos arquivos de metal e que hoje residem em nuvens. Tudo deve ter começado com o danoninho que valia por um bifinho ou com a “chatice” dos direitos das mulheres, deve acusar algum saudosista da época da escravidão. Na medicina testemunhamos avanços maravilhosos. Lula fez uma intervenção cirúrgica e logo estava, digamos assim, saracoteando. Mas ao mesmo tempo em que nosso presidente usufrui dos avanços tecnológicos e de algumas mudanças positivas no mundo, parece desatento ou resistente às várias mudanças fundamentais que gritam por socorro e atenção por todos os lados. Meio ambiente e espaço político das mulheres nunca foram pautas significativas para nenhum perfil de partido e governo. Só palanque! Que o digam Marina Silva, Lilia Schwarcz e Eliane Brum. Sem falar das populações indígenas e ribeirinhas. Belo Monte e a ausência de mulheres nos poderes explicam. A exploração de petróleo na foz do Amazonas gerou uma crise interna no governo meses atrás. Mas o vil metal quase sempre vence o embate entre o PIB e o meio ambiente, prometendo garantias que não se cumprem, riscando do mapa biomas e ecossistemas, comprometendo a costa de diferentes regiões. Pois que se danem flora e fauna marinhas e populações costeiras. Lula está desatualizado: a exploração de petróleo vai na contramão das mudanças contemporâneas do mundo. É uma realidade que grita e Lula não quer ouvir. Energia limpa, senhor presidente. Atualize-se. Deixe a foz como está e a proteja. Ouça a sua ministra, dê atenção aos ambientalistas, informe-se. Belo Monte está na sua conta, lembra? Tragédia anunciada. Flávio Tavares, na ZH, revelou que os três senadores gaúchos, Heinze, Mourão e Paim, apresentaram projeto que estimula a extração e uso do carvão mineral. O congresso aprovou um pacote de medidas ambientais que privilegia as atividades poluidoras. O congresso, os três senadores agem sem medir as consequências ambientais. Desatualizados ou hipnotizados pelo vil metal? Em 2020, se não estou enganado, se tentou um empreendimento gigantesco de exploração de carvão a céu aberto nas imediações da capital que, felizmente, foi engavetado por pressão dos ecologistas, da ciência e das comunidades. As altas temperaturas que assolam o país, as enchentes que o estado sofre, a seca sobre a Amazônia, nada disso faz sentido para o governo, para deputados federais e para os senadores? O mesmo vil metal que sustenta e lucra com o narcotráfico, a guerra da Ucrânia, o trabalho escravo, a exploração de menores, a queima de florestas, é o vil metal que leva um governo, deputados federais e três senadores a deixarem de lado o sentido comunitário, de equilíbrio, de respeito à natureza, de razoabilidade, de justiça, amor e bondade. O que vocês estão fazendo, senhores do petróleo, da poluição e do carvão? A testosterona em excesso destrói o planeta e, também, freia mudanças importantes. Lula poderia indicar uma mulher negra para o STF, mas não, preferiu indicar um parceiro, como fez com a indicação de Zanin. Constrangedor é o silêncio da companheirada. Fosse outro presidente, estaria fazendo um escarcéu. As cuecas são solidárias no atraso e no desprezo a tudo que perturba os status quo. Marina, Lilia e Eliane, por favor, não desistam!
* Paulo Gaiger é artista, cronista, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), autor de A METÁFORA DAS FLORES (Ed.Viseu).