por Alexandre Coosta (*)
O convite do governador de São Paulo João Dória à ex-presidenta Dilma Rousseff, para que ela fosse vacinada com a Coronavac em Porto Alegre, no próximo dia 25 de janeiro, demonstra falta de pudor, de ética e um total desapego à democracia e desrespeito ao povo brasileiro.
Obviamente, Dilma se recusou a furar a fila. Aos 73 anos, não seria uma proposta "inocente" de um governador em busca de holofotes que mancharia a história desta mulher que suportou as bárbaras torturas impostas pela ditadura militar. A postura e a resposta da ex-presidenta ao convite inescrupuloso de Dória mostram claramente quem é quem no atual cenário político do país.
Dilma demonstrou a dignidade de sempre, seja diante das torturas ou daquele golpe fantasiado de impeachment que a destituiu da Presidência da República. Já o governador de São Paulo, que tem utilizado seus atritos com Bolsonaro como trampolim para a eleição presidencial, demonstra sua verdadeira face. Neste periodo conturbado da história política do Brasil, por vezes, é possível distinguir uns dos outros.
Por meio de um comunicado publicado em seu site, Dilma agradeceu o tucano e, como sempre, deixou bem claro seus valores ao afirmar ser “inaceitável furar a fila” de vacinação. “O Plano Nacional de Vacinação deve ser respeitado e, se é certo que a vacinação já começou, não há montante de vacinas disponível para que eu, agora, seja beneficiada. É inaceitável ‘furar a fila’, que deve ser estritamente respeitada por todos os brasileiros”, enfatizou a ex-presidenta. Dilma disse que quando puder, irá tomar a vacina. “Aguardarei pacientemente a minha vez e quero adiantar que já estou com o braço estendido para receber a CoronaVac.”
A nota pública da ex-presidenta colocou um pouco de luz na escuridão de um país que se rendeu ao fascismo e se curva frente ao negacionismo.
Em tempos de pandemia, as máscaras estão caindo. Dória e Bolsonaro estavam juntos, entrincheirados para golpear a democracia, por meio de um impeachment forjado. A inocência do convite do governador é a síntese da direita que derrubou Dilma e que tenta tomar para sí o Brasil que ela mesmo entregou recentemente aos militares e milicianos. A tentativa de aproximação de Dória, oferecendo uma espécie de "mimo" à ex-presidente, faz parte do cinismo reacionário e conservador do país, que pisoteou a democracia com apoio do judiciário e da grande mídia.
Novamente, a dignidade se impõe à sutil perversidade no cenário político do Brasil.
(*) Alexandre Costa é jornalista e responsável pelo www.esquinademocratica.com