Os sucessivos aumentos dos combustíveis, em especial do diesel, pode ser o estopim de uma greve dos caminhoneiros que, assim como em 2018, poderá parar o Brasil. Além da redução do preço do diesel, a categoria reivindica o piso mínimo do frete e o retorno da aposentadoria especial, após 25 anos de contribuição ao INSS. Identificados com as políticas do governo Bolsonaro, os caminhoneiros representaram uma força importante para a eleição do atual presidente. Faltando um ano para as eleições, parece que a lua-de-mel entre Bolsonaro e os caminhoneiros está chegando ao fim. As associações de motoristas decidiram declarar 'estado de greve' de 15 dias e ameaçam paralisar suas atividades, a partir do dia 1º de novembro.
No acumulado deste ano até agosto, o preço da gasolina já avançou 31,09%, enquanto o do diesel acumula alta de 28,02%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No governo Michel Temer, a Petrobras alterou a sua política de preços de combustíveis para seguir a paridade com o mercado internacional. Os preços de venda dos combustíveis praticados pela estatal passaram a seguir o valor do petróleo no mercado internacional e a variação cambial. Dessa forma, uma cotação mais elevada da commodity e/ou uma desvalorização do real têm potencial para contribuir com uma alta de preços no Brasil, por exemplo. Nos postos do país, a escalada é evidente. Levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que o preço médio do litro da gasolina se aproximou de R$ 6. O diesel atingiu R$ 4,616 por litro. A alta dos combustíveis já levou 25% dos motoristas de aplicativo a desistir de trabalhar nas plataformas.
Os preços cobrados nas bombas viraram motivo de embate entre o presidente e os governadores. Bolsonaro tem cobrado publicamente que os estados reduzam o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para que, dessa forma, os preços da gasolina e do diesel recuem. Uma das principais acusações correntes sobre a alta de preços está relacionada ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – o ICMS. O imposto estadual, de fato, tem grande peso sobre o valor na bomba. A alíquota varia entre os estados: no caso da gasolina, chega a 30% em alguns locais. Porém, as alíquotas não subiram – mas o valor pago pelos consumidores sim. O imposto é cobrado em cima de uma estimativa de preço médio pago pelos consumidores. Se o preço sobe na bomba, os governos estaduais podem subir a estimativa de preço médio sobre o qual o ICMS incide. De fevereiro para cá, embora o valor pago em ICMS tenha subido, a participação do tributo no preço total da gasolina caiu: ela representava 29% de todo o valor pago na bomba, em fevereiro e em agosto,ficou em 27,5%, segundo dados da Petrobras. No caso do diesel, no entanto, essa participação subiu, passando de de 14% para 15,9%, no período citado.
Em maio de 2018, os caminhoneiros bloquearam as principais rodovias do país e deram início a uma greve que durou cerca de dez dias. Motivados pelo aumento do preço do diesel, a categoria paralisou os serviços e interrompeu o o trânsito em rodovias de pelo menos 17 estados. O aumento do combustível está associado ao aumento do dólar e do petróleo no mercado internacional. O impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, foi determinante para que a Petrobrás adotasse uma mudança e que, em 2017, levaram a estatal a decidir aumentar a frequência nos ajustes de um mês para "a qualquer momento, inclusive diariamente". Os reflexos da greve nos postos de combustíveis foram percebidos de Norte a Sul do país. Levantamento da Fecombustíveis revelou, na época, que mais de 90% dos postos ficaram sem produtos para venda aos consumidores. Durante a greve, o país conviveu com a ameaça constante de desabastecimento, o que gerou filas quilométricas nos postos de combustíveis.
Como todos sabem, o Brasil não é para amadores. Aos poucos, a greve foi perdendo a força e logo surgiram denúncias de cobranças abusivas nos postos de combustíveis. A atuação das Forças Armadas e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) eliminaram praticamente todos os pontos de concentração de caminhoneiros nas estradas. Enquanto a paralisação dos caminhoneiros chegava ao fim, os petroleiros davam início a uma greve de 72 horas contra a nova política de preços da Petrobras - a Justiça do Trabalho julgou a paralisação como ilegal, mas os trabalhadores mantiveram a decisão de cruzar os braços. Na época, a greve dos caminhoneiros representou um prejuízo de mais de R$ 126 bilhões em valor de mercado em questão de dias, de acordo com levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economatica.
Os aumentos dos preços dos combustíveis são consequência do impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e, consequentemente, da transferência da renda do petróleo brasileiro da sociedade nacional para acionistas privados da estatal. É bom lembrar que a grande imprensa, tradicionalmente apoiadora dos interesses da direita e da extrema direita no país, está e sempre esteve atrelada aos interesses externos e ao capital internacional. Por isso, a mídia conservadora apoiou o golpe contra Dilma, enalteceu a prisão de Lula e fez campanha aberta contra o candidato do PT, Fernando Haddad, sendo parte determinante na eleição de Jair Bolsonaro. Assim como no golpe de 1964 e em todo período da ditadura militar no Brasil, o jornalismo das grandes empresas dificilmente terá a dignidade de fazer autocrítica. Não se trata apenas de assumir erros e sim de revelar seus reais interesses, escondidos por uma imparcialidade que jamais existiu.