Uma imagem crítica à atuação do prefeito Sebastião Melo (MDB) durante a enchente de maio, pintada pela primeira vez no dia 8 de julho, em um muro da Praça Argentina, no Centro Histórico de Porto Alegre, deflagrou um embate político inusitado na disputa eleitoral na capital gaúcha.
A "guerra de tinta", como foi chamada pelo Sul21, em matéria de Bettina Gehm, publicada no dia 8 de agosto, descreve os primeiros episódios da batalha pelo direito à livre expressão da arte, protagonizada pela obra "Chimelo", do grafiteiro Filipe Harp. O assunto vive contornos de uma novela e vem conquistando espaço no cenário eleitoral, seja nas redes sociais, nas conversas de bar ou entre dirigentes das agremiações políticas.
Por considerar que a imagem grafitada funciona como propaganda eleitoral antecipada, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) determinou, no início da tarde de sexta-feira (16/8), que a pintura "Chimelo" fosse removida da fachada do Centro Cultural Casaverso, onde estava desde o 10 de agosto.
Se a intensão era retirar da campanha a imagem de Melo em meio à enchente, a ação ajuizada pela coligação Estamos Juntos Porto Alegre (MDB, PL, Podemos, PRD PSD e Solidariedade) pode ter sido um tiro no pé. Coibir "Chimelo", seja por meio de ação na Justiça ou cobrindo a obra com tinta, só fez crescer a propagação da imagem de um artista e sua luta pelo direito de se expressar.
Ao que parece, a decisão do TRE, que considera o grafite de Filipe Harp propaganda eleitoral antecipada, pode ser questionada. Porém, até onde se sabe, o grafiteiro não está identificado com nenhuma candidatura. Harp não parece disposto a recorrer da decisão que trata a obra como propaganda antecipada, quando o "Chimelo" é apenas uma crítica ao prefeito em função da sua atuação diante da enchente.
Na opinião de Harp, a obra-protesto “representa todo o descaso com as pessoas afetadas pela enchente”. Nas redes sociais, o grafiteiro registrou em vídeo o processo de criação da pintura e escreveu: “Que este grafite inspire todos nós a exigir mais de nossos líderes, a lutar por um futuro onde a vida humana seja realmente valorizada. Não esqueceremos. Não perdoaremos. A arte é nossa arma, e a justiça, nosso objetivo”
Pintada pela primeira vez no dia 8 de julho, em um muro da Praça Argentina, no Centro Histórico de Porto Alegre, a obra foi coberta por uma tinta azul. Pouco tempo depois, no mesmo local surgiu uma pichação com a frase “Melo chinelão”. A frase anônima também foi encoberta por uma camada de tinta. E, novamente, o muro amanheceu com outra declaração: “da memória ninguém apaga”. Os opositores ao atual prefeito Sebastião Melo, que preferem não se identificar, acham que ele não deveria se preocupar tanto com o "Chimelo", tendo assuntos muito mais graves como a corrupção na Smed, a morte de 11 pessoas na Pousada Garoa, sua omissão por não ter feito manutenção nas casas de bombas e no sistema de prevenção às cheias, entre outros. Enquanto as campanhas eleitorais seguem em frente, fica a indagação sobre qual será o próximo capítulo da novela "Chimelo"?
Sul21 publicou a foto do muro da Praça Argentina, com as mensagens pichadas, no mesmo local onde o "Chimelo" foi pintado pela primeira vez.
Pintura da fachada do Centro Cultural Casaverso, onde estava desde o 10/8, foi removida por determinação do TRE no dia 16/8.
Após o TRE determinar a retirada do "Chimelo" da fachada do Centro Cultural Casaverso, alguns cartazes críticos à decisão foram colocados no local, conforme publicou o site Matinal.
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