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Foto do escritorAlexandre Costa

CENTENÁRIO DE ELOAR GUAZZELLI: ADVOGADO QUE MAIS DEFENDEU PRESOS POLÍTICOS NA DITADURA MILITAR NO RS


Na próxima sexta-feira, dia 12 de agosto, Eloar Guazzelli completaria 100 anos. "Mesmo que, em seus quase 72 anos de vida, tivesse exercido, com destaque, várias outras atividades e funções, advogado era o título que gostava de ostentar", relata um dos textos postado na página do facebook, criada pelos seus familiares para homenageá-lo. Filho de Francisco Guazzelli e de Virgulina Branco Guazzelli, Eloar nasceu em Vacaria, em 12 de agosto de 1922 e faleceu no dia 6 de julho de 1994, em consequência de dois acidentes vascular-cerebrais. Durante a ditadura militar, principalmente entre os anos 60 e 70, Eloar Guazzelli defendeu centenas de pessoas perseguidas pelo regime, o que fez dele um dos advogados com maior atuação em processos de presos políticos no período, em todo o país. Em 1974, foi eleito deputado federal pelo MDB, com quase 40 mil votos.


Aos treze anos, Eloar Guazzelli deixou Vacaria rumo a Porto Alegre, onde passou a residir com um casal de tios, completando os estudos secundários e preparatórios no Colégio Rosário. Em 1944, ingressou na Faculdade de Direito da então Universidade do Rio Grande do Sul, hoje UFRGS, dando início à atividade política como militante do Partido Comunista do Brasil, depois denominado Partido Comunista Brasileiro (PCB), sigla criada em 1922 e declarada ilegal durante todo o Estado Novo (1937-45). No período final da ditadura de Vargas, com a legalização do Partidão e ainda estudante, passou a atuar como advogado do partido.


Com a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial, Eloar Guazzelli, que já estava quite com as obrigações militares, decidiu alistar-se para combater o nazi-fascismo na Itália, onde a FEB (Força Expedicionária Brasileira) lutava junto com os norte-americanos para expulsar os alemães da Península.

Em 1943, um ano antes de entrar na Faculdade e de iniciar sua militância política, Eloar ingressou no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) de Porto Alegre, onde seguiu o Curso de Cavalaria, formando-se Aspirante no final do ano seguinte. Após um rápido estágio em Uruguaiana, engajou-se no Exército, já como 2º Tenente, tendo sido destacado para servir em Santiago, cidade missioneira, situada perto de São Borja, e então sede da 1ª Divisão de Cavalaria e que enviara efetivos para lutar na Europa. Era necessário recompor sua tropa, treiná-la e então reforçar o contingente da FEB com novos quadros, entre os quais ele pretendia estar. Eloar recebeu duas incumbências a serem cumpridas desde logo, ao chegar em Santiago. A primeira, oficial, apresentar-se ao Comandante do 4º Regimento de Cavalaria, onde iria servir dali por diante. E outra de ordem informal, na verdade, clandestina: procurar o chefe local do Partido Comunista, no qual militava desde que ingressara na Faculdade de Direito, no ano anterior.


Assim, nos primeiros dias, tratou de perguntar a dois de seus soldados, com os quais estabeleceu de saída relações amistosas, se conheciam o Dr. Oneron Dornelles, o advogado a quem fora recomendado por seus correligionários. Pois os soldados não só o conheciam

como, por coincidência, eram seus sobrinhos. e na primeira oportunidade, levaram-no à casa da matriarca da família, mãe da liderança comunista, e que funcionava como sede das tertúlias da intelectualidade local. Lá, Eloar conheceu Lizabel, com quem veio a casar em poucos anos. "Por isso, costumamos dizer que nós, seus quatro filhos, somos frutos do Exército Brasileiro e de uma tarefa do Partidão", explica um dos textos postados na página do facebook criada pela família para homenageá-lo.


Em 1948, formou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, passando a advogar na capital

gaúcha em escritório de advocacia no qual já atuava como solicitador (equivalente a estagiário, atualmente). Em 1949, casou com Lizabel Barcellos Guazzelli, sua companheira de toda a vida. Em 1955, já tendo nascido seus dois primeiros filhos, retornou à cidade natal, onde montou banca na qual se destacou como advogado, em toda a região, destacando-se sobretudo na advocacia criminal e na tribuna do júri. No final de 1962, depois do nascimento de mais uma filha e um filho, a família voltou a se fixar em Porto Alegre, onde Eloar abriu novo escritório de advocacia, dando continuidade ali à sua já exitosa carreira. Com a instauração da ditadura civil-militar de 1964, desde os primeiros dias ele se dedicou à defesa dos cidadãos por ela perseguidos, por sua ligação com o governo legítimo deposto – em especial, militares legalistas, trabalhistas, comunistas e sindicalistas.

Ao longo de todo o regime ditatorial, em particular durante o aprofundamento da repressão no final da década de 1960 e início da seguinte, Eloar Guazzelli atuou na defesa de centenas de pessoas, o que fez dele um dos advogados que mais defendeu presos políticos no período, em todo o país. Isto lhe rendeu popularidade e, depois de ter recusado o convite em 1974, aceitou concorrer para Deputado Federal pelo MDB, o partido de oposição legal à ditadura. Mesmo sem ter exercido antes qualquer cargo eletivo, logrou eleger-se com a expressiva votação de quase 40.000 votos, graças sobretudo ao prestígio grangeado na advocacia. Não por acaso, o lema usado na sua campanha era: “o advogado dos Direitos Humanos”.


Na Câmara dos Deputados, foi escalado por seu partido como membro titular da Comissão de Segurança Nacional e suplente nas comissões de Constituição e Justiça e de Trabalho e Legislação Social, dedicando-se de modo especial à apresentação de projetos de lei e pareceres em favor da ampliação dos direitos de cidadania, e contra a ampliação e legitimação do aparato repressivo do Estado ditatorial. Informações obtidas na página do Centenário de Eloar Guazzelli, no facebook.

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