
Amazonense de 26 anos, estudante de Direito, integrante da União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Bruna Chaves Brelaz é a primeira presidente negra em 84 anos de história da União Nacional dos Estudantes (UNE). Além de participar ativamente na construção da principal campanha dos estudantes brasileiros durante a pandemia da Covid-19, o movimento “Vida, Pão, Vacina e Educação”, Bruna vem atuando ao lado dos principais movimentos sociais brasileiros na retomada das grandes manifestações populares de rua e na coordenação dos protestos de 29 de maio, 19 e 3 de julho que pedem o impeachment de Jair Bolsonaro.
Bruna considera necessário defender o legado das políticas públicas de inclusão que mudaram a cara do ensino superior na última década, como as cotas, por exemplo. “Gritamos Fora Bolsonaro, sobretudo, para interromper o processo violento de destruição das universidades, das escolas, do sistema educacional no país. A gente precisa reverter o corte de quase R$2 bilhões no orçamento da educação, a política desumana do teto de gastos, os ataques à autonomia universitária. Tem estudante que está passando fome, desempregado e a evasão do ensino superior é uma grande realidade”, afirma. Hoje em seu segundo curso de graduação, estudante de uma faculdade particular em São Paulo, ela se diz apreensiva também com a situação dessa parcela de alunos e alunas universitários que não têm garantias das instituições sobre as condições de retorno das aulas, ensino à distância precário e não contam com nenhuma forma de regulamentação ou diretriz por parte do governo federal.
A caminhada de Bruna até chegar à presidência da UNE não foi nada fácil. Foi conversando com estudantes de todo o seu estado, em algumas cidades onde só se chega de barco, que ela avançou no movimento estudantil, primeiro concorrendo à presidência do seu Diretório Acadêmico, na Universidade do Estado do Amazonas, depois ingressando na disputa pelo Diretório Central dos Estudantes e sendo eleita presidenta da União Estadual dos Estudantes do Amazonas, aos 21 anos de idade. Ao chegar à diretoria da UNE, como reconhecimento a todas lutas que liderou no estado, uma reviravolta completa no cotidiano. Foi escolhida para a área de Relações Institucionais e seguiu diretamente para Brasília. Sua rotina era conversar diariamente com deputados e senadores, principalmente das comissões de Educação e de outras áreas importantes para a UNE, acompanhando todas as votações e projetos de lei que envolvem a universidade brasileira. “Admito que no começo deu medo”, confessa, quando lembra da experiência de transitar naquele mundo de engravatados, gabinetes e interesses. Logo depois, na tesouraria da entidade, viveu a perseguição governo Bolsonaro e do ministro da Educação Abraham Weintraub com a tentativa de matar a UNE acabando com sua principal fonte de recursos, a sua carteira de estudante.
Dessa forma, apesar da pouca idade, Bruna já viveu um pouco de tudo na luta pela educação brasileira. No ano de 2020 ela militou e ajudou na campanha pelo adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que fez o bolsonarismo recuar pela pressão estudantil e também na conquista do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
A ex-aluna do Instituto de Educação em Manaus, que só aprendeu a circular para além do bairro em que morava quando conheceu o movimento estudantil, hoje viu o mundo se estender no horizonte. Promete rodar todos os 26 estados e o Distrito Federal na luta do Fora Bolsonaro, em defesa da democracia e da soberania do país. Para encher o peito e se preparar diante da mais devastadora conjuntura nacional desde a redemocratização, Bruna busca inspiração na história de vida da sua mãe. “Ela enfrentou muita coisa sozinha, assim como a minha avó que veio lá de Codajás, no interior do Amazonas e teve de se virar do jeito que dava em Manaus. Minha mãe criou duas filhas numa luta enorme, dormiu na fila pra fazer a minha matrícula em uma escola pública boa. São coisas que eu nunca vou conseguir imaginar como é. Essa é a minha referência”. Apaixonada por dona Dyla em cada sílaba do seu relato, Bruna Brelaz acaba descrevendo a vida das inúmeras mulheres chefes de família deste solo que operam milagres para ver suas meninas chegarem onde ela está hoje. E com isso, carrega para a UNE e para o futuro não somente a sua vida, mas as de milhões de brasileiras.

Bruna é a primeira mulher negra eleita para a UNE. Moara Correa Saboia, que também é negra, foi eleita em 2015 como vice-presidenta da entidade e assumiu o cargo em 2016, com a saída de Carina Vitral, que foi concorrer à prefeitura de Santos (SP).