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Foto do escritorAlexandre Costa

BOLSONARO SE REFERE A ONGS QUE DEFENDEM MEIO AMBIENTE COMO CÂNCER QUE ELE AINDA NÃO CONSEGUIU MATAR


Durante transmissão semanal nas redes sociais, o presidente Jairo Bolsonaro chamou as Organizações não Governamentais (ONGs) que atuam na área da proteção ambiental de "câncer". Com Bolsonaro na presidência da República, aumentaram as queimadas das florestas, cresceram os garimpos clandestinos e, em consequências, a contaminação dos rios por mercúrio e as denúncias de perseguição e ameaças a indígenas e a ambientalistas se multiplicaram. Aos olhos do mundo, a imagem do Brasil é de um país que degrada, polui e destrói a natureza.


O Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, aponta que 796 km2 de floresta foram derrubados nos três primeiros meses do ano. Um terço da devastação ocorreu em terras públicas, como florestas nacionais e unidades de conservação, alvo da cobiça de grileiros em geral. De acordo com o instituto, o aumento nos alertas de desmatamento entre janeiro e março foi de 51% na comparação com 2019. Os focos de incêndios na Amazônia aumentaram 28% em julho, em relação ao mesmo período de 2019, ano considerado pela agência espacial norte-americana Nasa como o mais devastador em relação a queimadas na região.


No primeiro trimestre deste ano, o Centro Nacional dos Estados Unidos para Informação Ambiental notou que a floresta amazônica sofreu com temperaturas muito acima da média esperada para a época. Monitoramentos da Nasa também sugerem que grandes áreas da Amazônia estão com seus lençóis freáticos mais secos que o normal. Além disso, a floresta já vem sofrendo com estações chuvosas mais fracas que o habitual.


DECLARAÇÃO INOPORTUNA

Por tudo isso, as declarações de Bolsonaro durante a live semanal estão na contramão do desenvolvimento sustentável. "Você sabe que as ONGs, em grande parte, não têm vez comigo. Eu boto para quebrar em cima desse pessoal lá, não consigo matar esse câncer, em grande parte, chamado ONG", disse o presidente durante transmissão semanal nas redes sociais. Na live, Bolsonaro ironizou os questionamentos sobre os aumentos recordes das queimadas na região da Amazônia e do Pantanal desde o ano passado. "O pessoal acha que está pegando fogo não sei onde e é só chegar lá e apagar, com um abafador, dar uma cuspida em cima da fogueira", disse. Ele também minimizou o monitoramento feito por satélite dos focos de incêndio e afirmou que até "fogueira de São João" é contabilizada.

O presidente reclamou que recebe "pancada o tempo todo" em cima do governo sobre a questão ambiental e disse que "canalhas" estão fazem campanha como se ele estivesse "colocando fogo na Amazônia". Bolsonaro também rejeitou a possibilidade de ampliar a demarcação de terras indígenas para chegar a 20% do território. "Já imaginou? O país não aguenta. A gente acaba com o agronegócio nosso", declarou sobre o assunto. Ele voltou a dizer que quer desenvolver economicamente a Amazônia e repetiu que está disposto a receber capital externo para concretizar o plano, mas frisou que, enquanto for presidente, é ele quem vai decidir quais países iriam injetar recursos. "Nós estamos fazendo o possível para integrar a Amazônia, mas não é fácil", afirmou.


BOICOTE AO BRASIL

O Brasil sofre uma campanha de boicote aos seus produtos, promovida por empresas internacionais que têm uma clientela cada vez mais preocupada com a mudança climática. Empresas comoa H&M, VFcorp, Vans e The North Face anunciaram em 2019 que deixariam de comprar couro brasileiro. Mas a crise ambiental provocada pelo aumento dos incêndios na Amazônia brasileira repercutiu também no mercado financeiro. Em setembro de 2019, 230 fundos de investimento internacionais que juntos administram 16 trilhões de dólares (cerca de 65 trilhões de reais) – valor equivalente a cerca de nove vezes o PIB do país em 2018– publicaram um manifesto, pressionando o governo Bolsonaro para apresentar medidas efetivas de proteção à floresta amazônica. O manifesto foi divulgado no mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas (ONU) vetou o discurso do presidente Jair Bolsonaro ou de um representante brasileiro na cúpula do clima realizada em setembro de 2019 em Nova York. A justificativa foi de que o Brasil não apresentou um plano concreto e inspirador de aumento do compromisso de enfrentar a mudança climática.

Em um contexto de aumento da degradação e de debilidade na fiscalização ambiental no Brasil, empresas e fundos de investimento manifestaram preocupação com o impacto financeiro que o desmatamento na Amazônia pode ter nas empresas nas quais possuem participações, o que poderia aumentar os riscos de reputação, operacionais e regulatórios. Os 230 fundos de investimento que colocaram mais pressão no governo Bolsonaro nesta quarta-feira pedem às empresas que “redobrem seus esforços e demonstrem um claro compromisso de eliminar o desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento”. Trata-se de um grupo grande que investe um valor em torno de nove vezes o PIB brasileiro do ano passado. Nesse sentido, seu manifesto pode ter uma força importante para alertar as empresas que são coniventes com o desmatamento.


AUMENTO DE FOCOS INCÊNDIOS NO BRASIL A responsabilidade ambiental, social e de governança (conhecida sob a sigla em inglês ESG) é um critério crescente nas carteiras de fundos de investimento em todo o mundo, como reflexo dos grupos de pressão na sociedade organizados em torno da luta contra a mudança climática. O Brasil registrou entre janeiro e a terceira semana de agosto de 2019 um total de 71.497 focos de incêndio, o maior número do mesmo período nos últimos sete anos, e pouco mais da metade ocorreu na maior floresta tropical do mundo. “Considerando o aumento das taxas de desmatamento e os recentes incêndios na Amazônia, estamos preocupados que as empresas expostas ao possível desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento brasileiras tenham cada vez mais dificuldades para ter acesso aos mercados internacionais”, dizia a nota conjunta dos 230 fundos de investimento.

O presidente minimizou a mudança climática e o desmatamento ilegal, assim como rejeitou as críticas de países como França e Alemanha. Sem um plano ambicioso para enfrentar a mudança climática, o presidente não pode sequer poderá discursar na cúpula da ONU, realizada em setembro do ano passado. A Organização havia solicitado aos países que apresentassem um plano com seus compromissos climáticos e selecionou os 63 que tinham os discursos mais inspiradores. O Brasil ficou fora dessa lista, assim como os Estados Unidos e outros países.


BOLSONARO FOI CRITICADO NA ASSEMBLEIA DA ONU

Diversas ONGs que lutam pela defesa do meio ambiente reagiram ao discurso agressivo do presidente Jair Bolsonaro durante a 74ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro do ano passado. Em seu discurso para os 192 países membros da ONU, o presidente insistiu na ideia de que a crise da Amazônia é contaminada por interesses econômicos estrangeiros, além de negar as recentes queimadas na floresta, embora ele mesmo tenha enviado tropas militares para ajudar a combater o fogo.

"A fala do presidente sobre meio ambiente foi uma farsa. Bolsonaro tentou convencer o mundo de que protege a Amazônia, quando, na verdade, promove o desmonte da área socioambiental, negocia terras indígenas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate ao crime florestal", disse Marcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace. Para a WWF-Brasil, o discurso de Bolsonaro foi contra o espírito de colaboração da ONU, acentuando o "divisionismo e a polarização, apontando inimigos imaginários e deixando de reconhecer problemas urgentes do Brasil, bem como sua responsabilidade, como presidente, para solucioná-los". Já o Observatório do Clima chamou o discurso de Bolsonaro de "ecocídio", afirmando que o presidente "envergonhou o Brasil no exterior ao abdicar da tradicional liderança do país na área ambiental em nome de sua ideologia".

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