Vivemos tempos alucinados, de desprezos, de asnices, de espertezas, de bandidagem, de empatia rarefeita, de vinganças e violências por qualquer vaidade arranhada ou ecos em cabeças vazias. Xingamentos, palavrões, ameaças, armas exibidas na cintura, delinquência institucionalizada no Planalto, em igrejas, em partidos políticos, agressões às mulheres, aos gays, aos trans, aos indígenas, aos pretos, milícias cristãs invadindo e destruindo terreiros de Umbanda, Batuque e Candomblé. Um juiz que prende sem provas, tergiversa, vira o defensor da moralidade, ele que esteve ao lado do imbecil que ameaçou uma mulher de estupro: “não merece (ser estuprada) porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria”; que foi ministro do imbecil que enaltece a tortura e os torturadores. Mas até os imbecis divergem entre si quanto às estratégias de como chegar ao pior, destruir a educação, as artes, a saúde, as reservas de proteção ambiental, a justiça, a liberdade, os direitos civis. E de como garantir impunidade e foro privilegiado para os filhinhos e amiguinhos, a multiplicação e concentração da riqueza nas contas das elites infames, o garimpo ilegal, o poder desmedido para as igrejas do engano e do ganho fácil. E ainda, de como preservar-se do remorso e da vergonha, como não sentir a dor pelos mais de 600 mil mortos pela covid e pelos parentese amigos. Acho que aí está a nascente da imbecilidade sem fim e do desumano: não há remorso, nem vergonha alguma, nenhum olhar para dentro de si, aridez mental e armas na mão: truculência, burrice e tirania. Uma mulher se deu conta disso e ficou indignada ao ver o imbecil às margens de uma rodovia. Vociferou um monte de palavras de baixo calão, tipo ¥∞∑∞@Ѿɷ, como relataram os que a ouviram. A vaidade do imbecil foi arranhada e ele pediu a PRF que prendesse a mulher. Como na inquisição, as mulheres eram queimadas mais para apavorar as ainda vivas e aparentemente livres. A mulher indignada era a bola da vez. Pior, é que a PRF obedeceu. Injúria. Fala sério! Então vamos lembrar de frases de baixo calão proferidas pelo imbecil: “Foram quatro homens. A quinta eu dei uma fraquejada, e veio uma mulher”; “Para mim é a morte. Digo mais: prefiro que morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”; “90% desses meninos adotados [por um casal gay] vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa com toda certeza”; “Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens”; “Fui num quilombola em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriadores servem mais”; “Quem usa cota, no meu entender, está assinando embaixo que é incompetente. Eu não entraria num avião pilotado por um cotista. Nem aceitaria ser operado por um médico cotista”; “Como eu estava solteiro na época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente”; “Por isso o cara paga menos para a mulher (porque ela engravida)”; "Para 90% da população, isso vai ser uma gripezinha ou nada”; "Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas"; “Aquele filho da puta do Barroso”; “Pessoas que tomaram duas doses do imunizante contra o novo coronavírus no Reino Unido estão desenvolvendo aids”. O imbecil que acenava à beira da rodovia disse esse monte de frases de baixo calão. PRF, prenda-o já.
(*) Paulo Gaiger é Artista professor do Centro de Artes - UFPel
👏👏👏👏👏👏