por Alexandre Costa
A Associação de Ex-presos e Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul (AEPPP-RS) elegeu, na tarde de sábado (15/4), sua nova diretoria e os conselhos fiscal e deliberativo. Cerca de 100 pessoas participaram da assembleia geral realizada na Sala Adão Pretto (Salada Convergência), na Assembleia Legislativa. A eleição se deu por aclamação, com chapa única e tendo 39 membros integrantes do Conselho Deliberativo. A diretoria, que tem como novo presidente Sérgio Bittencourt, terá mandato de dois anos.
Confira a lista dos eleitos e a galeria de fotos, no pé da página.
Em conformidade com o estatuto, a entidade formou a assembleia eleitoral, que foi presidida pelo ex-deputado estadual Raul Carrion, tendo como secretário Rodrigo Barbosa. Carrion salientou que a eleição da nova diretoria marca a retomada da luta pelos direitos dos anistiados e contra o esquecimento dos crimes praticados durante a ditadura militar, além de restabelecer a defesa do Estado Democrático de Direito contra as ações da extrema direita no Brasil e no mundo.
Ícone na luta contra a ditadura, Jair krischke, um dos criadores do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), defendeu, durante o encontro, que as iniciativas de resgate das memórias da ditadura militar tenham o caráter de política pública, envolvendo a participação do Estado.
O ex-deputado e ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont afirmou que o crescimento do fascismo e da extrema direita chegaram ao ensino e às escolas, colocando em disputa a versão do que realmente aconteceu e o que foi a ditadura militar no Brasil. Ex-preso político e militante histórico, Pont advertiu que restabelecer a memória deste período é extremamente importante para que a sociedade jamais esqueça as atrocidades cometidas durante "os anos de chumbo".
Já o vereador de Porto Alegre e ex-deputado estadual Pedro Ruas lembrou que a capital gaúcha assumiu um papel de protagonismo no Movimento pela Legalidade. No entanto, Ruas criticou a ausência de referências sobre este fato histórico no conjunto da cidade. O vereador resgatou a disputa que se estabeleceu sobre um projeto de sua autoria que propunha a troca do nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade. Pedro Ruas lamentou que após quatro anos de disputa, a Justiça não acolheu a substituição desta que é uma das principais vias de Porto Alegre.
O encontro da Associação de Ex-presos e Perseguidos Políticos do Rio Grande do Sul contou também com a presença da deputada estadual Laura Sito, que é presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS e do vereador de Porto Alegre Giovani Culau. Também foram registradas as presenças de representantes do Senador Paulo Paim, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, da deputada estadual Bruna Rodrigues e da deputada federal Maria do Rosário.
SÉRGIO BITTENCOURT: UMA HISTÓRIA DE LUTAS
Nascido em Porto Alegre, no dia 2 de julho de 1952, o presidente da AEPPP-RS, Sérgio Bittencourt, estudou no Colégio Júlio de Castilhos (Julinho), onde iniciou sua participação política no Movimento Estudantil. Em 1969, lhe foi negada a matrícula e 1969 foi eleito dirigente União Brasileira de Estudantes Secundários – UBES. No ano seguinte, ingressou no Curso de Direito da UFRGS passou a militar na Ação Popular Marxista-Leninista (AP). Na época, estudava, trabalhava como vendedor de máquina na FACIT (empresa multinacional fabricante de produtos de escritório) e continuava militando politicamente.
Por motivos políticos, Bitencourt foi preso no dia 12 de abril de 1972, na frente da FACIT. Colocado em um fusca, foi levado para o DOPS, onde foi torturado. Na primeira sessão de tortura, que durou 12 horas, foi submetido a pau-de-arara, choques elétricos (maricota) nas orelhas, lábios e órgão genital, cadeira do dragão, estopa molhada no órgão genital para potencializar o choque, afogamentos, pirelli (tira de borracha), telefones (tapas nos ouvidos), espancamentos, tapas, socos, chutes, queimaduras com cigarro.
Sérgio Bitencourt relatou que as torturas eram geralmente conduzidas por Pedro Seelig e por Nilo Hervelha, com a participação de militares do III Exército. Também foi submetido a torturas psicológicas, sendo ameaçado de morte e de prenderem a sua irmã. Foi solto em junho de 1972. A partir de 1975, começou a participar, como integrante do MDB, das campanhas pela Anistia Ampla Geral Constituinte e por uma por uma Constituinte Exclusiva.
Em 1977, Bitencourt ajudou a fundar a Associação de Profissionais em Processamento de Dados (APPD), que mais tarde recebeu a carta sindical, tornando-se Sindicato dos Profissionais em Processamento de Dados. Se filiou ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), em 1983, quando começou a militar pelo Movimento Diretas Já. Em 1992, começa a militar no Movimento de Justiça e Direitos Humanos – MJDH. Em 1998, articula com outros companheiros e funda o Movimento de Ex-Presos e Perseguidos Políticos (MEPPP). Entre 2003 e 2007, foi eleito presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e, entre 2005 e 2015, foi um dos coordenadores do Movimento de Ex-Presos e Perseguidos Políticos.
HOMENAGENS O encontro da AEPPP-RS foi marcado por duas homenagens: para o seu último presidente, o Capitão José Wilson da Silva, mais conhecido por "Tenente Vermelho", que foi assassinado em 10 de dezembro de 2021, e para Nilce Cardoso, ex-diretora da AEPPP-RS.
OS MESMOS IDEAIS, APESAR DA DISTÂNCIA A presença do chinês, naturalizado brasileiro, Peter Peng, que foi preso e torturado durante a ditadura, e dos advogado Paulo Sérgio Turazza e Shigueru Sumida, que vieram de São Paulo para Porto Alegre exclusivamente para a reunião de sábado, demonstram a importância da retomada das atividades da AEPPP-RS. Paulo Sérgio Turazza, que fez questão de estar presente na homenagem da Associação ao Capitão Wilson, fez um breve relato das mudanças na Comissão da Anistia e nos Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos.
Já o chinês Peter Peng, que mora nos Estados Unidos, é o único membro do Conselho Deliberativo que reside fora do país. A ditadura subtraiu a documentação brasileira de Peter e o tratou como estrangeiro. Muitos anos depois, na Comissão da Anistia, Peter conseguiu reaver a nacionalidade brasileira.
DESMANTELAMENTO DA LUTA PELA MEMÓRIA Após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, a entidade passou a enfrentar inúmeras dificuldades. Os governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro praticamente desmantelaram com todo o sistema de luta dos movimentos de anistiados e de grupos que trabalham para recuperar a memória deste período e a responsabilização criminal dos agentes acusados de assassinatos e de violações de toda ordem. Por estas razões e em função da pandemia de COVID-19 e do assassinato em 2021 do Capitão Wilson, que era presidente da AEPPP-RS, os trabalhos foram interrompidos e a entidade não renovou a sua direção.
LEGADO DE ATROCIDADES A ditadura militar no Brasil deixou como legado memórias de dor e sofrimento. Popularmente chamada de "Anos de Chumbo", em função da brutal repressão aos opositores do regime, este período da história durou 21 anos e foi marcado por prisões políticas, torturas, assassinatos, supressão de direitos, perseguições, repressão e autoritarismo. As mudanças dos rumos do país começaram com o golpe de 1º de abril de 1964 e só acabaram em 1985 com a redemocratização do Brasil. A abertura do país foi construída a duras penas, com a anistia dos acusados de terem cometidos crimes políticos, permitindo o retorno dos exilados e com a recuperação das instituições democráticas, inexistentes durante o regime militar.
imagens (fotos e vídeos): divulgação AEPPP-RS
DIREÇÃO ELEITA DA AEPPP-RS
Presidente: Sérgio Luiz Bittencourt
1ª Vice: Jurema da Silva Mello
2º Vice: Jair Krischke
3º Vice: Raul Kroeff Machado Carrion
1º Secretário: Raul Jorge Anglada Pont
2ª Secretária: Antônia Mara Vieira Loguércio
1º Tesoureiro: Matilde Brodt dos Santos
2º Tesoureiro: Cláudio Antônio Weyne Gutierrez
Diretor de Relações Institucionais: Pedro Luiz Fagundes Ruas
Diretor de Comunicações: Ramiro Nodari Goulart
CONSELHO FISCAL
Titulares
- Carmen Martin Lopes
- Roger Vieira Barbosa
- José Aveline Neto
Suplentes
- Helenira Lopes
- Álvaro Alberto Aveline
- Jaci Andrade
CONSELHO DELIBERATIVO
Presidente: Reginaldo Ives da Rosa Barbosa
Vice-Presidenta: Márcia Prado Rotta
Secretário: Christopher Goulart
Abgail Pereira, Vereadora POA
Adão Domingos dos Santos
Aloísio Rosa de Mello
Bruna Liege da Silva Rodrigues, Dep. Estadual
Bruno Mendonça da Costa
Carlos Frederico Guazzeli, ex-Def Públ Geral
Daiana Santos, Dep. Federal
Eliza Kopplin Ferraretto
Eridan Magalhães
Fernanda Melchiona e Silva, Dep. Federal
Giovani Culau Oliveira, Vereador POA
Ignez Maria Serpa Ramminger
Ilgo João Kopplin
Jeferson Fernandes, Dep. Estadual
José Vieira Loguércio
José Paulo Giacomoni
Jussara Cony, ex-Dep. Estadual
Laura Sito, Dep. Estadual
Lino Brum
Luciana Krebs Genro, Dep. Estadual
Luís Alberto de Vargas, Desembargador
Luís Arthur Aveline de Oliveira
Maria do Rosário Nunes, Dep. Federal
Olívio de Oliveira Dutra, ex-Governador
Ony Teresinha
Oscar José Plentz Neto
Paulo de Tarso Carneiro
Paulo Renato Paim, Senador
Peter Ho Peng
Rodrigo Vieira Barbosa
Solon Eduardo Annes Viola
Stefan Emerim
Tarso Fernando Herz Genro, ex-Governador
Telismar da Silva Lemos Junior
Ubiratan Souza
Walmaro Tirso Zanca Paz
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