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Amor e sexo só existem em liberdade, por Paulo Gaiger*

Se esse amor ficar entre nós dois, vai ser tão pobre amor. Vai se gastar (A maça - Raul Seixas)

 

Virgínia Wolff, a grande escritora inglesa das primeiras décadas do século vinte, frequentava o Grupo Bloomsbury, conhecido pela sua posição de rejeição aos tabus sexuais. Uma postura arriscada para uma geração nascida e herdeira da moral vitoriana. Segundo os biógrafos de Wolff, a homossexualidade, o lesbianismo, o adultério, as ménages à trois, à quatre ou mais numerosas, eram não apenas debatidos, mas praticados sem dores de cabeça ou ciúmes doentios ou ressentimentos de possessão. Isso tudo pode nos parecer uma sem-vergonhice se pensarmos desde nossa herança da moral cristã, quase nunca investigada em suas raízes históricas e dificilmente questionada em seus reflexos sobre nossa sexualidade e humanidade. O corpo e o sexo sofreram todas as repressões de uma tirania religiosa (ou não) que se espalhou e dominou o mundo sem abrir mão de práticas de perseguição, tortura e genocídio. Às mulheres, especialmente, a condenação pelo despertar do desejo nos homens e por desviá-los, portanto, de uma vida que deveria ser somente dedicada a Deus. Não nos surpreende, então, que ainda hoje homens de igrejas e do legislativo queiram regrar as roupas que as mulheres podem usar; queiram culpar as mulheres pelo estupro sofrido e proibir o aborto em caso da terrível gravidez. É bem coisa de macho boçal. Uma curiosidade que desponta no panteão dos diversos deuses das diferentes mitologias, é a de que apenas o Deus judaico-cristão-islâmico é deserotizado, não tem parceria e, portanto, não faz sexo e não alcança o orgasmo, a energia vital que lhe faria bem. O casamento sacramentado foi, entre outras coisas, uma estratégia de controle dos impulsos e desejos sexuais. O sexo é sujo, diziam. A monogamia é uma invenção recente e garantiria certa pureza. Mais do que tudo, sem precisar recorrer a Foucault, se sabe de que é através da disciplina dos corpos e do sexo, da censura e da reprovação de tudo que pode colocar a perder as regras com seus grilhões, que mais facilmente se tem um povo tolhido e amedrontado na mão. Nem gregos nem romanos clássicos, embora fossem sociedades masculinistas, imaginariam que em pleno século XXI estaríamos tão atrás de seu tempo. No livro Novas formas de amar, de Regina Lins, temos acesso a nossa trajetória em termos de sexualidade e amor. Não é legal! No entanto, todo o muro cai, como o de Berlim. Hoje, novas formas libertárias de relação amorosa e sexual são experimentadas e as pessoas estão mais felizes. Poliamor, casamentos abertos, relações livres, triangulares e bissexuais alcançam muitos adeptos e curiosos que estão se repensando, libertando o corpo e o sexo. Não tem nada de sem-vergonhice, se pensarmos que qualquer moral tem de ser libertadora e o que importa é que não temos que julgar as escolhas e a felicidade dos outros. O sexo é bom assim como o amor. Podem estar juntos ou não. Para os casais que queiram abrir o casamento ou decidir por participar de swings, por exemplo, os especialistas advertem que a escolha implica que o casal esteja muito bem consigo mesmo, não pode estar em crise. Somos ainda imaturos! Virgínia Wolff era revolucionária em seu tempo. Experimente. Seja feliz! E larga do meu pé!

 

(*) Texto publicado no livro “Não vá ao supermercado nos domingos” (ed. Traços&Capturas – 2019) com o título “Amor e sexo só duram em liberdade”.


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