por Alexandre Costa

As ameaças de Jair Bolsonaro à Constituição e às instâncias democráticas do Brasil crescem na mesma proporção em que o presidente perde o apoio de eleitores e tem sua credibilidade abalada junto à imprensa e à opinião pública. Antes mesmo da eleição de 2018, corriam boatos, de que caso Bolsonaro não se elegesse, o poder seria tomado na "marra" ou na "bala". No dia 21 de outubro daquele ano, faltando exatamente uma semana para a votação do segundo turno, um vídeo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), passou a circular nas redes sociais. Eduardo afirmava que "se quiser fechar o STF [...] manda um soldado e um cabo". O vídeo, em tom de ameaça, foi registrado durante uma palestra feita antes do primeiro turno das eleições. Se o STF impugnar a candidatura do pai “terá que pagar para ver o que acontece". "Será que eles vão ter essa força mesmo?", perguntava na época o filho do presidente, reeleito deputado federal, com 1 843 735 votos, sendo o mais votado da história do país.
As recentes declarações do cantor Sérgio Reis, afirmando que os caminhoneiros iriam parar o país em setembro, caso o Senado não afastasse os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), são semelhantes às declarações de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, preso na sexta-feira (13/8), acusado de integrar uma milícia digital voltada a ataques à democracia. As ameaças são prática frequente para os apoiadores de Bolsonaro. Porém, o Brasil ainda não conseguiu decifrar o sentido real das intimidações proferidas pelo Clã Bolsonarista: se são blefe, se fazem parte de uma estratégia de marketing, se são uma espécie de mimetismo para desviar a atenção da opinião pública para temas mais relevantes ligados a interesses internacionais e à geopolítica ou se são movimentos políticos ilusórios e regidos por grave patologia.
Da campanha presidencial até os dias de hoje, o governo Bolsonaro pouco apresentou em termos de crescimento do país, de pontos positivos em função das suas políticas, de crescimento econômico, de obras significativas ou de projetos sociais ou culturais. Além dos crimes contra os direitos humanos cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro na gestão da pandemia, que serão denunciados pela CPI da Covid ao alto comissariado da ONU e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o seu governo chama a atenção pela série de medidas autoritárias, lances midiáticos, denúncias de corrupção, permanência da crise econômica e instabilidade das instituições democráticas.
É preciso enfatizar que a presença de um grande número de militares no governo Bolsonaro determinou uma significativa mudança na vida política do país, desde a redemocratização. Também seria oportuno uma breve reflexão sobre as investigações que levantaram uma série de suspeitas da proximidade de Bolsonaro com as milícias envolvidas no assassinato de Marille Franco. Estas duas questões que parecem não ter ligação alguma, são emblemáticas podem indicar o rumo a ser tomado pelo país.
É difícil estabelecer previsões sobre o futuro do Brasil. Se Jair Bolsonaro será deposto por impeachment, se completará seu mandato, se a democracia será preservada ou se um eventual segundo mandato levará a suspensão da legalidade democrática e institucional do Brasil, com o fortalecimento das milícias no país, de maneira generalizada. Diante deste tema, não podemos deixar de registrar um fato importante: Bolsonaro mente ou, para ser mais respeitoso, falta com o verdade. Não se trata de opinião, basta analisar os números. O site Aos Fatos publicou levantamento interessante. "Em 955 dias como presidente, Bolsonaro deu 3627 declarações falsas ou distorcidas. Esta base agrega todas as declarações de Bolsonaro feitas a partir do dia de sua posse como presidente. As checagens são feitas pela equipe do Aos Fatos semanalmente. Os dados foram atualizados no dia 13 de Agosto, 2021.
Seja como for, o Brasil está diante de uma incógnita: as ameaças são blefe ou fazem parte das inúmeras mentiras proferidas por Bolsonaro e seus apoiadores?