A Agência Pública de Jornalismo mapeou os casos de violência relacionados às eleições no Brasil entre 16 de agosto e 2 de outubro. Assinada por uma dúzia de jornalistas, a reportagem exclusiva foi publicada na quarta-feira (5/10) e revelou que durante este período ocorreram ao menos 148 casos de violência eleitoral, com uma média diária de três ocorrências envolvendo eleitores, candidatos, jornalistas e trabalhadores de institutos de pesquisa. No total, seis pessoas foram mortas por motivos políticos durante a campanha, que teve também outros nove atentados ou tentativas de assassinato.
A violência política contra mulheres aparece em 58 dos casos mapeados desde o início da campanha. Os agressores foram predominantemente homens – em 110 casos (74% do total), pelo menos um agressor era do sexo masculino. Registramos ainda três casos de violência sexual durante as eleições. Também foram registrados 11 casos de teor racista. Outro dado importante está relacionado aos trabalhadores de institutos de pesquisa, como Datafolha, Ipec e Quaest. No total, o mapeamento feito pela Pública identificou 32 casos nos quais estes profissionais foram vítimas de violência, o que representa 22% do total. Como não poderia deixar de ser, a polarização entre petistas e bolsonaristas aparece no mapeamento da Agência Pública. Em mais de um terço dos casos, os agressores eram apoiadores de Bolsonaro, enquanto outros 8% são atribuídos a apoiadores de Lula.
Chama a atenção a violência dos ataques e a forte presença de armas de fogo. A morte do petista Marcelo Arruda, no Paraná, não foi incluída no levantamento, pois ocorreu antes de 16 agosto. Dos 148 casos mapeados, 25 envolveram armas de fogo (17% do total) e quatro ataques foram feitos com facas ou objetos cortantes, sendo que três das pessoas assassinadas foram esfaqueadas. Quase metade dos casos – 73 – envolveram violência física. Casos de violência psicológica ou moral, ou seja, ofensas e ameaças, totalizaram 99 das ocorrências. Em 29 casos houve violência patrimonial, como ataques a carros ou comitês de campanha, por exemplo.
Mais de 50% dos casos de violência foram motivados por discordância política entre vítima e agressor. Em 36% das situações, o ataque foi cometido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 8%, os agressores eram apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já em 61% dos casos não foi possível identificar os agressores e não há registros de casos de ataques envolvendo apoiadores de Simone Tebet (MDB) e de Ciro Gomes (PDT).
A violência eleitoral se fez presente em todas as regiões do Brasil, mas o Sudeste concentrou o maior número de ocorrências, 45% do total. Somente em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, aconteceram 21% dos casos. O volume pode estar relacionado tanto à dimensão populacional – a capital paulista é a cidade mais populosa do Brasil –, quanto à concentração de veículos de mídia na região, o que pode impactar o monitoramento, em parte baseado no levantamento de notícias sobre as ocorrências.
Há ainda 54 ataques direcionados a políticos ou candidatos, 32 ataques a pesquisadores de institutos de pesquisas, 10 ataques a jornalistas e dois contra agentes públicos, como mesários, por exemplo. No levantamento, a Agência Pública considerou apenas ataques presenciais, excluindo ataques por telefone, por email e pelas redes sociais.
A reportagem "Exclusivo: eleição teve ao menos 3 casos de violência por dia e 6 assassinatos" é assinada por Anna Beatriz Anjos, Caio de Freitas Paes, Clarissa Levy, Giulia Afiune, José Cícero, Júlia Rohden, Laura Scofield, Mariama Correia, Matheus Santino, Nathallia Fonseca, Rafael Oliveira e Yolanda Pires. Assim como fez em 2018 e 2020, a Pública informou que continuará monitorando os casos de violência eleitoral até o segundo turno. Se você presenciar algum caso, conte para a Pública neste questionário, mande um WhatsApp para (11) 98886-9401 ou envie email para participe@apublica.org.