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A REPÚBLICA NÃO COMPARECEU, POR JORGE BRANCO (*)


As manifestações bolsonaristas neste Sete de Setembro foram do tamanho correspondente ao apoio eleitoral de Bolsonaro. A principal dessas manifestações no Rio de Janeiro, organizada com apoio disfarçado das Forças Armadas e do erário público, restringiu-se aos setores abertamente fiéis ao Bolsonarismo. Setores médios, em bairro de setores médios, pautados por bandeiras golpistas e antidemocráticas, eram a quase totalidade dos presentes.

Bolsonaro e suas pautas reacionárias não iludem mais aos trabalhadores pobres do país. As mulheres pobres, as negras, que vivem o desemprego, a fome e a violência contra seus filhos, não se mostram dispostas sequer a ouvir os argumentos de Bolsonaro. Essa impermeabilidade parece estar assentada no reconhecimento de que durante mais de ¾ de seu governo, Bolsonaro não ajudou a combater a pobreza, a violência e a fome. As medidas do tipo “Auxílio Brasil” não repercutem eleitoralmente. A mais recente pesquisa de intenção de voto, realizada pelo IPESP e divulgada pela Globonews, demonstra a sólida e ampla rejeição de Bolsonaro entre as pessoas que ganham até dois salários mínimos e entre mulheres.


Este quadro político refletiu-se no desfile institucional, oficial, das comemorações do ducentenário da independência do Brasil. A redução política de Bolsonaro aos seus apoiadores foi expressa pelas gritantes ausências dos presidentes dos demais poderes da República: presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira/Progressistas, do Senado Federal, Rodrigo Pacheco/PSD e do Supremo Tribunal Federal, Luis Fux. A República começa a consolidar o isolamento e confinamento político de Bolsonaro.


As razões das ausências são diferentes, evidentemente, mas confluem para o mesmo sentido. O fato da maioria da população rejeitar Bolsonaro repercutiu nos setores e partidos de centro que começam a separar sua imagem do candidato reacionário, ainda que tenham compartilhado o governo e as políticas econômicas até aqui. O mergulho que Bolsonaro faz no sentido da extrema direita afastou setores da elite e do centro liberal, que passaram a temer por seu próprio futuro político, empurra várias destas lideranças, como a maioria do STF, no sentido de defender a Constituição e a democracia.


Muito possivelmente este Sete de Setembro marque um ponto sem retorno na derrota política e eleitoral de Bolsonaro. O que para muitos da extrema direita deveria ser um ponto de inflexão, quase desesperado, para reverter o quadro das intenções de voto solidamente favoráveis à candidatura de Lula, se tornou um bloqueio insuperável para Bolsonaro. O candidato reacionário mostrou-se incapaz de ampliar para além de determinadas frações dos setores médios, setores da cultura militar e das lideranças e organizações da própria direita e do fundamentalismo cristão. Seus discursos foram incapazes de se dirigir ao que não era o próprio espelho de sua política e de seus valores.


Contudo, um terço do eleitorado não é desprezível. Ainda mais sendo um campo político não subordinado às leis e à democracia. O mundo já pagou, e continua pagando, um preço demasiado por desprezar a extrema direita organizada, liderada por psicopatas. O desprezo pela vida, pela lei, faz deste campo político um bando que pode chegar a longínquos pontos uma vez que desapegados de freios ético-morais em relação a vida em comum.


A democracia brasileira, inconclusa e distante da maioria da população em função de que em nome dela muito se lhe tirou, precisa não só derrotar o bolsonarismo como vigiar para que este não venha a lhe golpear adiante. O desapego pela Constituição e pela lei que Bolsonaro demonstrou neste réquiem de Sete de Setembro, não pode deixar nenhum trabalhador, nenhum democrata, nenhum defensor dos direitos humanos, desatento mesmo com a vitória popular nas eleições.


(*) Jorge Branco é Sociólogo, Mestre e doutorando em Ciência Política. Diretor Executivo da Democracia e Direitos Fundamentais.

 
 
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