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A LUTA CONTRA A NEGAÇÃO ATIVA, POR JORGE BRANCO (*)

Foto do escritor: Alexandre CostaAlexandre Costa

Nesta semana fomos informados que o governo federal direcionou um serviço de denúncias sobre crimes contra os direitos humanos, inclusive para mulheres vítimas de violência, em canal para aqueles que se transformaram em ativistas antivacinas. Segundo o site Poder 360, o Ministério da Cidadania e da Família “afirmou que não se opõe à vacinação, mas defende a “liberdade individual” de decidir sobre a imunização”.

A matéria vai além e demonstra que a posição do ministério é de busca ativa por denunciantes sobre a vacina. Diz a matéria que o governo federal considera que a obrigatoriedade da vacinação é inconstitucional. Trata-se de uma postura ofensiva de combate à campanha de vacinação.

No fundamental, é a continuidade, em nova etapa, da mesma postura negacionista que, liderado pelo próprio Jair Bolsonaro, o governo expressou durante todo a pandemia e que teve consequências fatais diretas. O negacionismo deu base política para as desastrosas medidas e gestões do Ministério da Saúde.

O negacionismo, contudo, por mais que pareça absurdo – afinal como se opor à ciência e à saúde? – possui uma racionalidade objetiva e por ela o governo Bolsonaro e os agentes do bolsonarismo terão que ser julgados política e juridicamente. Uma dessas objetividades foi revelada pela CPI do Senado Federal que tratou da pandemia. A Comissão revelou que a rejeição à vacina estava relacionada à velha prática de oferecer dificuldades para vender facilidades. A obstaculização à aprovação das diferentes vacinas anti Covid era, em verdade, uma forma de posicionar agentes do governo em boas condições para exigir propinas para compras de vacinas. A racionalidade da corrupção que se vitaminou após a farsa da operação Lava Jato.

A outra racionalidade é a que dá base ideológica à negação como programa político. A negação assumiu uma certa dimensão de princípio político e tornou-se base de aglutinação e uniformização da ascendente extrema direita no país e no mundo. A negação à ciência se associa a negação às ideias iluministas e coletivistas. A negação como princípio permitiu que o fundamentalismo religioso e seu pensamento mágico convergisse com fascistas de diferentes tipologias para refutar ideias igualitaristas, o que deu base para uma atualização do tradicional anticomunismo da direita. O antipetismo, a antidemocracia, a refutação à organização sindical, aos direitos sociais e à educação emancipadora se ‘costurou” com o mais comezinho neoliberalismo para formar um combo perfeito: expropriação de direitos sociais e privatização selvagem com sustentação ideológica e política no senso comum.

A direita torna mais nítida sua dimensão e retórica reacionária. A negação à modernidade é a negação ao protagonismo das massas trabalhadoras e sua organização constituídas no processo de desenvolvimento do capitalismo e seu rompimento com o servilismo. A modernidade conferiu escala e tecnologia à expropriação dos trabalhadores e, paradoxalmente, os reuniu em grandes cidades, sindicatos, partidos de esquerda, associações de interesse, movimentos por direitos. Uma espécie de efeito colateral indesejado pelas classes dominantes e o empresariado.

À essa capacidade potencial revolucionária das classes trabalhadoras que a extrema direita reage, buscando obstruir o desenvolvimento da racionalidade. Trata-se de uma prestação de serviços objetiva para os poderosos. Em “Guerra pela eternidade”[1] Benjamim Teitelbaum classifica como tradicionalismo essa base antirracional e antimoderna que baseia a ascensão da direita no mundo.

A luta contra o negacionismo de Bolsonaro e da extrema direita de conjunto é uma luta imperativa, portanto. Não se trata de disputa eleitoral apenas, este é um campo fundamental para derrotá-los evidentemente, mas o combate ao negacionismo e à extrema direita é um combate por defender condições, como a democracia, a educação pública e universal, os direitos trabalhistas, o sistema de saúde pública, que permitam que haja em um futuro próximo uma nova onda progressiva, civilizatória, que ponha por terra o próprio neoliberalismo.

[1] TEITELBAUM, Benjamim. Guerra pela eternidade. Campinas: Editora da Unicamp, 2020.


(*) Jorge Branco é sociólogo, diretor executivo Instituto Novos Paradigmas e da Publicação Democracia e Direitos Fundamentais.

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