A GENIAL NATALIA OSIPOVA
- Alexandre Costa
- 26 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
por Nora Prado (*)

Esses dias assisti a um documentário sobre a vida de Natalia Osipova, bailarina russa considerada a maior da atualidade. Transitando com igual desenvoltura pelos papéis clássicos do Balet até as inovações mais despojadas da Dança Contemporânea esta exímia bailarina esbanja técnica admirável, beleza, graça, entrega e uma dramaticidade impressionante.
Iniciou a carreira despretensiosamente para tratar uma grave lesão nas costas provocada por uma queda durante treinos de ginástica e para corrigir problemas na postura, mas o seu foco era na ginástica olímpica. Acabou chamando atenção de todos os seus mestres e colegas, destacando-se em todas as produções, vencendo importantes concursos de dança e ascendendo, rapidamente, até consagrar-se primeira bailarina do Balé Bolshoi de Moscou. Excursionou pelas principais capitais da Europa encantando plateias extasiadas com sua exuberância e precisão técnica.
Em 2012 deixou o Bolshoi e foi promovida a principal dançarina do American Ballet Theater, no mesmo ano fez uma performance do Lago dos Cisnes com o The Royal Ballet, de Londres. Apaixonada pelo novo ambiente e pela cidade, Natalia deixou o American Ballet Theatre e se juntou ao Royal Ballet como a bailarina principal, estreando no Lago dos Cisnes.
Desde então tem arriscado a sua sólida carreira de bailarina clássica incursionando em projetos de coreógrafos independentes e artistas convidados que a desafiam a romper barreiras e aproximar os clássicos dos contemporâneos numa fértil e bem-vinda mescla de estilos e técnicas.
Sua disciplina e entrega de corpo a alma a cada um dos projetos propostos a colocam, igualmente, na vanguarda mundial da dança que aponta como um farol para novas possibilidades e abertura para o novo.
A exemplo de artistas seminais no universo da dança como Nijinsky, Isadora Duncan, Balanchine, Martha Graham, Pina Baush e Ohad Naharin que romperam paradigmas estabelecidos elevando a dança para novos territórios técnicos e expressivos, Natalia Osipova possui essa inquietação e fogo da genialidade que a colocam a frente de seu tempo investigando novas vias para a dança e abrindo espaço para os seus colegas.
Isso fica claro ao observarmos os ensaios de dois novos projetos em que Natalia contribui ativamente com sugestões e experimentando, sem reservas, tudo o que o trabalho e a direção sugerem. Incansável em sua busca por alargar os limites expressivos da linguagem da dança Natalia é uma intérprete ativa e se questiona constantemente para compreender profundamente cada papel a que se dedica com intensidade e sede de saber. Semelhante a uma criança encantada com os novos brinquedos a explorar ela vai, passo a passo, investigando as novas possibilidades de cada novo jogo sem preconceitos e de alma aberta. O resultado disso é uma bailarina vibrante e totalmente diferente a cada personagem que se apresenta transfigurada por insuspeitas psiques e atravessada pela vida que carrega e transparece pelos poros, no ritmo, musculatura, pernas e braços, na expressão de quem carrega o mistério e o fogo dos Deuses a cada apresentação.
Natalia Osipova é uma lenda viva no cenário mundial da dança que segue firme e potente como uma fada, feiticeira cuja alquimia com cada partner e coreógrafo a fazem alcançar patamares mais altos. Aclamada e adorada pelo público que a acompanha com entusiasmo e comovente admiração essa mulher fez da sua vida um altar da dança para a qual se entrega sem limites, num verdadeiro sacerdócio. Exemplo de dedicação e comprometimento com a arte da dança numa inspiração eletrizante para as futuras gerações de bailarinos.
Sua marca na história da dança e sua contribuição inestimável para o balet clássico e moderno é um fato incontestável. Sua paixão arrebatadora está impressa em cada personagem da sua formidável galeria e que podemos nos deleitar ao vivo ou pelo menos, apreciar através dos filmes.
Que sua carreira seja tão longa quanto o seu talento!
Porto Alegre, 25 de maio de 2021.
* Nora Prado é atriz, poeta, professora de interpretação para Teatro e Cinema, atuou na Escola das Artes do Palco - SP.