As imagens da ação criminosa da Polícia Militar na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, que resultou na morte de nove pessoas e deixou outras 20 pessoas feridas, na madrugada do último domingo (1º/12), geraram protestos e indignação em todo Brasil. A violência brutal da PM paulista contra jovens que participavam do Baile da 17, evento que reúne em média cinco mil pessoas, foi gravada por moradores e frequentadores que estavam próximos ao local e serviu para desmentir a versão apresentada à imprensa. O Comitê Paulista por Memória, Verdade e Justiça (CPMVJ) e a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) se posicionaram em relação aos fatos.
Diante das imagens e dos relatos dos moradores, ficou impossível sustentar a versão de que os nove mortos e os 20 feridos haviam sido pisoteados, após um tumulto generalizado. As imagens comprovam a truculência e o uso da violência por parte da PM, que invadiu o local, chegou atirando e encurralou e espancou inúmeras pessoas. O porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Masseira, disse que as imagens divulgadas nas redes sociais sobre a ação dos policiais “sugerem excessos” e que "todas as imagens estão incluídas no inquérito policial militar para serem analisadas. Segundo ele, o rigor da apuração vai responsabilizar quem eventualmente cometeu algum excesso, algum abuso.
Na noite desta terça-feira (3/12), o Comitê Paulista por Memória, Verdade e Justiça (CPMVJ) promove uma reunião de “articulação e denúncia contra o Estado genocida”, tendo como pauta principal o massacre de Paraisópolis, no auditório Vladimir Herzog, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. O Comitê também irá discutir como o Estado de exceção é a regra a ser imposta nas periferias.
Na segunda-feira (2/12), a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) divulgou nota repudiando ação da Polícia Militar de São Paulo e a postura do governador João Doria (PSDB), que ao saber do episódio lamentou as mortes pelas redes sociais e que duas horas depois passou a elogiar a forma como a PM tem atuado. A nota da Associação dos Juristas adverte para o fato de que o incentivo a um policiamento repressivo e ostensivo, acaba por aumentar a violência policial e a letalidade em ocorrências que deveriam ser trabalhadas com a prevenção.
Para justificar a ação que vitimou os jovens Marcos Paulo Oliveira dos Santos, Bruno Gabriel dos Santos, Eduardo Silva, Denys Henrique Quirino da Silva, Mateus dos Santos Costa, Dennys Guilherme dos Santos Franca, Gustavo Cruz Xavier, Gabriel Rogério de Moraes e Luara Victoria de Oliveira, a PM alega que dois homens trafegando em uma motocicleta teriam atirado contra policiais do 16º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) que realizavam uma operação na região. Os agentes teriam perseguido os dois até o baile funk, causando tumulto generalizado entre as mais de cinco mil pessoas presentes.
A ABJD destaca, no entanto, que essa versão da polícia “não pode ser aceita nem tolerada como justificativa para o ocorrido”. De acordo com a entidade, os moradores das regiões periféricas têm sido criminalizados e reduzidos a um estereótipo de criminosos, que, por sua vez “resultam em ações violentas e repressivas por parte do Estado e vitimiza a população periférica que segue sendo exterminada por quem deveria garantir a sua proteção”, afirma a entidade.
De acordo com levantamento do portal UOL, apenas nos primeiros sete meses do ano, 626 pessoas foram mortas pela polícia. Cabe ressaltar que Paraisópolis é a segunda maior favela do Brasil e que o Baile da 17 é uma das raras opções de entretenimento da população.
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