PRESIDENTE DA OAB REAGE A DECLARAÇÃO DE BOLSONARO E QUESTIONA-O PELA CRUELDADE DE UM HOMEM QUE SE DI
- redação www.esquinademocratica.com / Foto: Cláudio
- 29 de jul. de 2019
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Em resposta à fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, divulgou uma manifestação nas redes sociais na tarde desta segunda-feira (29/7). Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, pai de Felipe, desapareceu em fevereiro de 1974, aos 26 anos, depois de ser preso com um amigo por agentes do DOI-CODI no Rio de Janeiro. Ele estudava Direito, trabalhava para o Departamento de Águas e Energia Elétrica, em São Paulo, e era integrante do grupo Ação Popular Marxista-Leninista. A declaração de Bolsonaro é extremamente grave, pois até então o relatório da Comissão da Verdade apontava que não existiam registros de participação de Fernando na luta armada. Pelo contrário, destacou que ele tinha emprego e endereço fixos quando desapareceu, o que configura que não estava clandestino ou foragido. O presidente da OAB tinha dois anos quando o pai desapareceu.

Elzita Santa Cruz, avó de Felipe, passou mais de 40 anos buscando informações sobre a morte do filho | Foto: Arquivo Pessoal
“Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por ‘vivência’, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais ‘desaparecidos’, nossas famílias querem saber”, escreveu Felipe Santa Cruz.
Confira a íntegra da nota de Felipe Santa Cruz:
Como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro. O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão. Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos.
Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por “vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber.
A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas.
O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre estiveram – e sempre estarão – sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do Brasil.
Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente.