A notícia da apreensão de 39 kg de cocaína e a prisão de um sargento da Aeronáutica que integrava a comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em Sevilha, na Espanha, vai além das manchetes dos jornais. Além de manchar a imagem do Brasil mundo afora, o fato demonstra que os carteis de drogas estão cada vez mais próximos das estruturas de poder. O nome do militar foi divulgado nesta quarta-feira(26/6) pela imprensa da Espanha. Trata-se do segundo-sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues. Desde 2011, o militar fez ao menos 29 viagens no Brasil e no Exterior, sendo várias delas com o staff presidencial. Porém, em algumas destas viagens o sargente não acompanhou a comitiva presidencial.
Rodrigues atua no Grupo de Transportes Especiais da FAB como comissário de bordo e, de acordo com informações da imprensa espanhola, o militar brasileiro não passou pelo aparelho de Raio-X, de uso obrigatório, da Base Aérea da FAB em Brasília. O escândalo já repercute em todo o mundo. A edição global do jornal El País destacou nesta quarta-feira (26) a prisão e informou que o caso fez Bolsonaro mudar plano de voo a Tóquio. A escala foi alterada sem explicação oficial, passando de Sevilha para Lisboa.
Segundo o general vice-presidente, Hamilton Mourão, no exercício da Presidência, o segundo sargento, preso nesta terça-feira (25/6) no aeroporto de Sevilha, embarcaria a bordo do avião presidencial no retorno do presidente Jair Bolsonaro ao Brasil, depois da viagem à reunião do G-20 no Japão. "É óbvio que, pela quantidade de droga que o cara tava levando, ele não comprou na esquina e levou, né?", disse Mourão.
Rodrigues recebe salário bruto de R$ 7.298, segundo o Portal da Transparência, que lista o histórico das viagens.
Em nota, a assessoria da Presidência afirmou que "o militar não trabalha na Presidência da República e não estaria na comitiva presidencial".
"Ele pertence ao Grupo de Transportes Especiais da Força Aérea Brasileira e exerce função de comissário de bordo", disse.
SARGENTO PRESO COM COCAÍNA NA COMITIVA DE BOLSONARO FEZ VIAGENS COM DILMA E TEMER
O sargento estava entre os militares que seguiram Bolsonaro em viagem de Brasília a São Paulo, quando da realização de exames médicos, no dia 27 de fevereiro deste ano. Também fez parte de uma missão de transporte do escalão avançado da Presidência, no período de 18 a 20 de março. O sargento embarcou em Brasília rumo para São Paulo, de onde seguiu para Porto Alegre. O avião fez novamente o trecho Porto Alegre-São Paulo-Porto Alegre, retornando para Brasília. Naqueles dias, Bolsonaro esteve nos Estados Unidos. Em 24 de maio deste ano, o militar fez bate-volta de Brasília a Recife, acompanhando o presidente, que passou todo o dia em Pernambuco.
O militar também cumpriu outros 14 roteiros entre 2016 e 2018, período em que o presidente era Michel Temer. Em janeiro do ano passado, por exemplo, Rodrigues estava no grupo que acompanhou o emedebista na Suíça para o Fórum Econômico Mundial.
Houve também ao menos quatro missões quando o país era governado por Dilma Rousseff. Em 6 de maio de 2016, o militar estava no séquito da petista em viagem a Juazeiro do Norte (BA) e Cabrobró (PE) para visitar as obras de transposição do São Francisco.
Em 2011, o sargento também foi designado para agendas de representantes do Itamaraty em Washington, nos Estados Unidos, e Saint John's, em Antígua e Barbuda, no Caribe. No final da tarde, Bolsonaro exigiu "investigação imediata e punição severa".