Após acordo com o site The Intercept, o jornalista Reinaldo Azevedo revelou na quinta-feira (20/6) que o ex-juiz Sergio Moro cometeu mais um crime, ao escolher os procuradores que fariam a acusação contra o ex-presidente Lula. Os diálogos revelam as críticas do ex-juiz Sérgio Moro a Laura Tessler e a interferência junto aos procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, visando a alteração da escala do MPF em audiências da operação Lava-jato.
Moro violou diversos artigos do Código de Ética da Magistratura. O artigo 8º diz que: "O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito".
Após compartilhar o conteúdo, Deltan teria argumentado: "Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela". Em sequência, Santos Lima responde: "Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No [depoimento] do Lula não podemos deixar acontecer". O atual procurador aposentado teria dito que apagaria a conversa de seu celular, a pedido de Deltan.
Dois meses depois da data que teria ocorrido o diálogo, em maio de 2017, o primeiro depoimento de Lula como réu em Curitiba acontece sem a presença de Tessler, mas com a participação do próprio Santos Lima, além de Júlio Noronha e Roberson Pozzobon, citados pelo colega nas mensagens.
Na última quarta-feira (19), Moro compareceu a uma audiência no Senado Federal, onde foi questionado sobre a orientação relacionada a Laura Tessler, e argumentou, dizendo se tratar de um factóide e que não se lembrava da mensagem específica. O Ministério da Justiça, atual pasta comandada por Moro, disse que não reconhece a autenticidade do diálogo e que, mesmo se for verdadeiro, não há nada de ilícito ou de antiético; e que o ex-juiz não pediu a troca da procuradora Tessler. A força-tarefa da Lava Jato no Paraná afirmou que não vai comentar o assunto.
"Em nenhum momento no texto, há alguma orientação de substituição daquela pessoa [Tessler]. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais até hoje dentro da Operação Lava Jato. Um juiz eventualmente recomendar para um advogado na audiência ou para um procurador: 'Olha, profissionalmente, vou te dar um conselho, faça assim, não faça assado…' Como isso pode ser considerado alguma coisa ilícita?", supôs o ministro.
Confira o diálogo obtido pelo site The Intercept e publicado pelo jornalista Reinaldo Azevedo:
Deltan Dallagnol: Recebeu a mensagem do Moro sobre a audiência também?
Carlos Fernando: Não, o que ele disse?
Deltan Dallagnol: Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegrama não está aberto aí no computador, e que outras pessoas não estão vendo por aí que falo. Você vai entender porque estou pedindo isso
Carlos Fernando: Ele está só pra mim, depois apagamos o conteúdo
Deltan Dallagnol: (reproduzindo a mensagem do moro) - Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
Carlos Fernando: Vou apagar, ok?
Deltan Dallagnol: Apaga sim
Carlos Fernando: Apagado
Deltan Dallagnol: vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão dois e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição sem mencionar ela
Carlos Fernando: Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer
Carlos Fernando: Apaguei