Os estudantes começaram a semana mobilizados e em preparação para o Dia Nacional em Defesa da Educação, na quarta-feira (15), quando serão realizadas manifestações em todas as capitais do país e inúmeras cidades onde há universidades públicas. Segundo a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, a
expectativa é de que – além dos próprios estudantes, professores, pais e trabalhadores das instituições de ensino – a sociedade como um todo apoie e participe dos atos. “Estamos fazendo uma manifestação de todos os setores. Temos expectativa muito positiva porque a gente acha que Bolsonaro precisa entender que não é simples ignorar o clamor das ruas”, diz. “Ele vai provar o gosto da pressão popular nessa quarta-feira.”
Para a dirigente, os atos de quarta-feira, que darão o caráter nacional à mobilização, podem desencadear uma série de outras manifestações. “Bolsonaro pode achar que isso não o pressiona, mas teremos essas manifestações do dia 15 e coisas que estão por vir.” O movimento ganhou força e cresceu após o anúncio do corte, pelo governo Bolsonaro, de 30% nos recursos das universidades e institutos federais.
Marianna afirma ser importante que as pessoas levem livros às passeatas. “A gente quer que essa seja uma marca forte das manifestações. Que as pessoas possam empunhar livros, tendo em vista que estamos num processo de ataque à educação e ainda tem esse debate sobre armas. Queremos o livro como símbolo de um país melhor.”
Segundo ela, não se trata de um protesto simplesmente “por gostar ou não do governo, mas trata-se do futuro do país”. “A educação é algo muito sério e tem reunido muitas pessoas que votaram no Bolsonaro ou apoiam algumas medidas do governo, mas acham um absurdo esse ataque à educação”.
A vice-presidenta da UNE, Jessy Dayane, disse em vídeo enviado à RBA que o Dia Nacional em Defesa da Educação “deve envolver todos os setores da sociedade, e não só os que atuam na educação. As universidades públicas são responsáveis por 90% das pesquisas do país, por isso é importante que a gente envolva o conjunto da sociedade. Tudo indica que será a maior mobilização desde que B foi eleito”.
De acordo com Jessy, as universidades já passam por dificuldades devido aos cortes que aconteceram com a Emenda Constitucional 95, do governo de Michel Temer, além da queda drástica no número de bolsas de estudo. Sintoma da situação, afirma, é a paralisação de diversas obras e laboratórios. Algumas universidades já declararam que, com o corte agressivo de 30%, não terão condições de funcionar até o final do ano. “E algumas universidades correm o risco de fechar as portas. A luta é muito maior, é para que a universidade pública exista, resista. Todo mundo tem que se envolver.”
No fim de semana, o cantor Lulu Santos enviou um vídeo à União da Juventude Socialista declarando apoio às manifestações de quarta-feira. “Entre a educação e qualquer outra coisa eu fico com a educação”, disse o cantor (veja o vídeo).
Nesta segunda-feira, assembleia realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) reuniu mais de 5 mil estudantes, técnicos administrativos e professores no Centro de Eventos do Campus Samambaia.
As manifestações já ocorrem desde a semana passada, como, entre outras, em São Paulo e Salvador, promovidas pelos estudantes da USP e Universidade Federal da Bahia (UFBA), e em Niterói, em defesa da Universidade Federal Fluminense. Um ato em frente ao Colégio Militar reuniu no Rio de Janeiro alunos e comunidades ligadas a várias instituições.
Estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Floriano, e da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFPAR) também fizeram manifestações na semana passada, entre outras instituições.
Em nota que divulgou no início do mês, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmou que o governo bloqueou 41% das verbas destinadas à manutenção da instituição. A obstrução orçamentária de R$ 114 milhões “impactará no funcionamento da UFRJ, atingindo diretamente despesas ordinárias de custeio, como consumo de água, energia elétrica, contratos de prestação de serviços de limpeza e segurança”, afirmou o comunicado. Isso sem falar no prejuízo ao desenvolvimento de obras e compra de equipamentos utilizados em instalações como laboratórios e hospitais.