Rodrigo Campos Dilelio, atual presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Porto Alegre, completou dois anos de mandato. Aos 37 anos, completados exatamente no dia em que concedeu a entrevista para o www.esquinademocractica.com (24 de abril), Rodrigo fez um balanço sobre o trabalho que vem sendo feito, em âmbito municipal, com ênfase para a construção de uma unidade política junto aos partidos considerados de esquerda. Eleito em maio de 2017 com 599 votos (59%) contra os 419 votos (41%) da candidata Laura Sito, Rodrigo Dilelio teve apoio de nomes importantes do PT de Porto Alegre, como do ex-governador Olívio Dutra e do ex-prefeito da capital Raul Pont. Mestre e Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Dilelio chama a atenção pela forma simples com que exerce a função de presidente da sigla e no engajamento junto às questões do dia-a-dia da base do partido. Natural de Porto Alegre, Rodrigo é o mais velho entre os três filhos da dona Olanda Campos e do seu José Luiz Becker Dilelio. Casado há três anos com Carolina e morador do bairro Petrópolis, Rodrigo contou ao jornalista Alexandre Costa como tem sido o desafio de presidir o PT na capital gaúcha, falou sobre uma eventual possibilidade de reeleição e alguns aspectos da política na sua vida: vitórias, derrotas, alegrias, desilusões, o cenário em âmbito nacional e local, a prisão de Lula e o futuro do PT em Porto Alegre.
Esquina Democrática – Rodrigo como tem sido a experiência de ser presidente do PT de Porto Alegre? Pode fazer um rápido balanço do teu mandato?
Vivemos os últimos dois anos sob fogo cerrado. Embora o avanço da "nova" direita tenha sido alcançado tomando espaços da direita tradicional, suas energias estiveram e estão totalmente concentradas na destruição do PT. Não conseguiram e provavelmente não conseguirão, apesar da prisão de Lula. Sem isso, jamais teriam alcançado a relevância que hoje possuem. Isso contou com a providencial ajuda de setores da mídia, do judiciário e do apoio militante de 9 em cada dez "empresários". A classe média foi iludida nesse contexto e com isso perdemos muito do nosso poder de contra-ataque.
Isso tem implicações no ambiente político no qual estou responsável pela liderança do partido; me refiro especificamente a Porto Alegre, agora. Fizemos o suficiente para nos mantermos vivos, com altos e baixos, em termos de grandes mobilizações. Mobilização não se produz por decreto e nem por força de vontade, mas uma dosagem entre voluntarismo, senso de oportunidade e trabalho de base real, sem o que as organizações políticas acabam sendo meros expectadores. Não perdemos a nossa capacidade de iniciativa e isso, até aqui, foi fundamentalmente o resultado de termos muitas lideranças legitimadas em mandatos e história pregressa de bons governos.
A eleição de 2018 mostrou que permanecemos fortes nas regiões central e leste da cidade, com um importante crescimento na região centro/sul. Somos o maior partido da cidade e o melhor organizado, embora a direita em seu conjunto tenha demonstrado contar com uma nova geração de líderes reacionários e com alguma popularidade. O prefeito Nelson Marchezan Júnior tenta produzir entendimentos, mas o que conseguiu foi apenas relativizar os efeitos, que são muito negativos, nos seus dois primeiros anos de mandato; e que estão diretamente relacionados ao colapso dos serviços. Suas vitórias foram apenas contra os servidores, tomados como bode expiatório pelo mandatário do Paço. Ele depende do PT para, eventualmente, atualizar a planta do IPTU e concluir seu mandato com alguma dignidade, após ter iniciado seu governo servindo como estafeta do bando do MBL.
O PT é importante para a cidade, mas ainda não possui um contra projeto bem acabado de governo. A solução dos problemas atuais de Porto Alegre requer mais do que inversão de prioridades, transparência e participação. A dimensão do déficit no planejamento das ações no campo econômico e a piora na prestação dos serviços públicos são os principais desafios a serem enfrentados.
Esquina Democrática – Como está a correlação de forças no PT, os apoiadores e os adversários?
O PT é o maior partido de Porto Alegre e os nossos aliados mais importantes são o PC do B, hoje sem representação parlamentar, e o PSOL, com quem atuamos de forma conjunta na Câmara de Vereadores, sob a liderança do Roberto Robaina. Embora vivamos um tempo onde a direita tenha um repertório mais diversificado de lideranças ativas, cada uma delas têm, individualmente, baixíssima capacidade de liderar o seu campo de atuação. Já a esquerda tem cinco ou seis líderes que podem facilmente assumir esse papel sem comprometer a representação do conjunto dos partidos. É isso que torna 2020 um cenário em aberto; aberto a quem quer e pode exercer a liderança no campo da esquerda para fechar o péssimo ciclo de governantes incapazes, que foram eleitos na esteira do golpe, em 2016.
Esquina Democrática – Como você entrou para a política, quais as influências que teve?
Comecei a participar por influência dos meus pais. Principalmente da minha mãe, Olanda Campos, que foi dirigente do PT e participou ativamente da luta das mulheres pela aprovação da Lei Maria da Penha, junto com um grupo que apoiava a Maria do Rosário. Mas também tive influência do meu pai, José Luiz Becker Dilelio, que era brizolista e que sempre proporcionou um ambiente de debates com meus irmãos mais novos, o Renato e o Ronaldo. A partir da militância da minha mãe, me aproximei do PT e comecei a militar. Como meu pai era Químico, fomos morar em Canoas, então comecei a participar da Juventude do PT. Em 1999, com 17 anos, me filiei e passei a militar de forma orgânica.
Esquina Democrática – Rodrigo, qual foi a alegria, maior vitória ou conquista em termos políticos; e, da mesma forma, qual sua maior derrota ou decepção?
Minha maior alegria desde que entrei na política, com certeza, foi a vitória do Olívio Dutra, na eleição para Governo do Estado, em 1998. Me lembro como se fosse hoje, chovia muito naquele dia e eu estava com minha mãe. Nos emocionamos e choramos de felicidade, abraçados. Eu guardava uma lembrança triste em função da derrota do próprio Olívio Dutra, quatro anos antes, quando havíamos perdido a eleição por uma pequena margem de votos para o candidato do PMDB, o ex-governador Antônio Britto. A vitória do Olívio foi muito significativa para as minhas decisões pessoais e foram importantes para as minhas escolhas de vida. O modelo do PT que possibilitava a participação das pessoas nas decisões do governo e as influências do Orçamento Participativo na vida das pessoas, com interferência positiva em vários aspectos foram marcantes.
Por outro lado, um fato negativo, foi a crise gerada pelo financiamento de campanha, conhecido como mensalão, entre 2005 e 2006. Foi um terremoto, do ponto de vista pessoal, em função das questões éticas e morais. Fiquei muito abalado, mas em momento algum pensei em sair do PT. Mas realmente aquele episódio selou um momento político. Muita gente no PT correu riscos e ficou vinculada àquela fórmula de fazer campanha. Por pouco não pegou mais pessoas. A crise da prisão do Lula também foi um golpe duro e difícil. Porém, os elementos que foram reunidos no episódio da prisão do Lula, em comparação ao mensalão, demonstram claramente que houve a maquinação de um golpe, clássico.
Em 2005, com o mensalão, era uma tristeza diferente. Nas minhas reflexões, muitas vezes eu ficava me perguntando sobre até onde poderíamos ficar ocupando o lugar de paladinos da ética e da moral e isso ganhou um outro status na minha cabeça. Antes de acusar alguém, em relação a estes aspectos de conduta, moral e ética, eu penso bem, porque não é possível ter uma conduta moral e ética flexível, com pesos e medidas diferentes. Esse episódio me levou a acreditar que conduta, ética e moral não diferenciam direita e esquerda. Isso diferencia as pessoas e não esquerda e direita.
Esquina Democrática – Rodrigo, você pretende dar continuidade ao projeto frente ao PT de Porto Alegre, apresentando seu nome para a reeleição?
Ainda é muito cedo para esta discussão, pois o processo começa apenas em setembro, quando serão eleitos os membros do Diretório Municipal, dos Diretórios Zonais e dos delegados que participarão do 7º Congresso Estadual. Portanto, é precoce a discussão. Mas me orgulho muito de ter sido eleito e de representar o Partido.
Esquina Democrática – Na tua opinião, sendo você ou outro candidato para presidente do PT de Porto Alegre, quais são os desafios para o próximo período?
Sem dúvida o desafio do próximo mandato é manter a unidade do partido, ao passo que devemos assumir a nossa participação na construção da unidade do conjunto da esquerda na cidade. PT, PC do B, PSOL, PDT e PSB juntos equivalem a uma poderosa força capaz de mudar o rumo atual da nossa cidade, uma cidade de consumidores empobrecidos e cada vez com maior dificuldade em produzir empregos qualificados. O PT hoje tem como prioridade a luta pela liberdade do Lula, o combate à Reforma da Previdência e, finalmente, o partido em Porto Alegre está priorizando a busca de ideias que componham um programa que unifique a esquerda.
Esquina Democrática – A eleição para presidente terá influência na escolha do candidato a prefeito e na política de alianças e de que forma?
Sim, terá. Nos movimentamos basicamente entre uma vanguarda bem instruída e muito combativa, e círculos praticamente autônomos de lideranças zonais, algumas de abrangência municipal mesmo. É este o colégio de pessoas e suas respectivas influências que decidirá quem vai compor a direção e quem será o presidente do partido em Porto Alegre. Eu diria que esses dois aspectos contribuem para que a militância tenha ciência das dificuldades que enfrentamos. Todos sabem que para termos uma atuação condizente com a nossa importância e a nossa representação, deveremos ter também unidade. É por meio dela que o partido enfrentará o maior desafio, que é unificar o campo da oposição ao Governos Marchezan, Leite e Bolsonaro.
Esquina Democrática – Quando e como será o processo eleitoral, formato e processo?
A eleição da nova direção se dará no bojo do 7° Congresso do PT. O processo inicia em 8 de setembro, no qual todos os filiados aptos votam para a eleição da presidência e do Diretório Municipal, dos Diretórios Zonais e delegados ao Congresso Estadual. Assim, a eleição para presidência e direção municipal é feita por meio do voto direto dos filiados e filiadas.
Esquina Democrática – Quem estará apto a votar?
Estarão aptos todos os filiados e filiadas, sendo que para os novos filiados é necessário que tenham entrado no partido até o dia 8 de junho e que estejam em dia com a sua contribuição.