"Querem saber de onde vem uma parte do ÓDIO ao MAIS MÉDICOS?", indagou Thiago Silva, antes de detalhar esquema de "Plantão Ilegal" feito por secretários de saúde para subcontratar estudantes de medicina. Após detalhar a participação dos profissionais cubanos no programa Mais Médicos, Thiago Silva, médico recifense radicado em São Paulo, denunciou em uma nova sequência de tuítes, publicados na sexta-feira (16) um esquema corrupto de contratação de estudantes de medicina por secretarias municipais de saúde.
“Alguns secretários de saúde, que eram médicos, forneciam o CARIMBO com o CRM para que estes estudantes dessem o plantão e carimbassem receita. Com o dinheiro que deviam pagar para 1 médico formado, botava uns 2 a 3 estudantes de plantão. As vezes nem isso, colocava apenas um”, tuitou.
Segundo ele, a prática era comum durante sua época de graduação e era chamada de “PI = Plantão Ilegal”. “O cara estava no meio da graduação em medicina (que dura 12 sem.) e começava a trabalhar como “médico” no interior, dando plantões em cidades que – surpresa – não tinham médicos. Absurdo não? Pois é. Como funcionava o esquema?”, indaga ele, antes de detalhar todo o processo.
Leia abaixo a sequência de tuítes, estruturada em texto pela Fórum:
“Querem conhecer uma história desse problema de falta de médicos no Br? Querem saber o que faziam secretários de saúde e estudantes de medicina igualmente CORRUPTOS para perpetuar o problema? Querem saber de onde vem uma parte do ÓDIO ao MAIS MÉDICOS?
Querem saber o que fizeram parte das lideranças médicas quando souberam o tamanho do problema? Segue aí o fio.
Preventivo: tudo que for falado aqui não é passível de generalizar. Em todo lugar há gente honrada e gente corrupta, não só na política, né? Só que os corruptos fazem um estrago danado, em todo canto. Então, nem me venham acusar de generalizar.
1 – Quando eu era estudante de Medicina, havia uma prática muito comum entre estudantes a partir do 6º-7º sem. do curso que era a prática – chamada no “submundo da faculdade”, de PI = plantão ilegal. É exatamente isso! O cara estava NO MEIO DA GRADUAÇÃO em medicina (que dura 12 sem.) e começava a trabalhar como “médico” no interior, dando plantões em cidades que – SUPRESA – NÃO TINHAM MÉDICOS. Absurdo não? Pois é. Como funcionava o esquema?
Alguns secretários de saúde, que eram médicos, forneciam o CARIMBO com o CRM para que estes estudantes dessem o plantão e carimbassem receita. Com o dinheiro que deviam pagar para 1 médico formado, botava uns 2 a 3 estudantes de plantão. As vezes nem isso, colocava apenas um.
As vezes a turma falsificava número de CRM na cara dura de outros colegas. Daí os colegas eram chamados por problemas, quando via, nunca tinha trabalhado naquele local! É meu velho, o buraco é bem embaixo viu?
Aí a gente começava a ver uns colegas de turma de Roupa chique, comprando carro importado, etc. Você também tá achando tudo isso um Absurdo? Segura que tem mais. Íamos contestar isso com a galera. Sabe o que eles diziam?
“Se não for eu, não ia ser ninguém! Melhor que eu esteja atendendo lá”. Vejam só quanto altruísmo, destes Médicos sem fronteiras nordestinos! #sqn.
Estão percebendo? Olhem o ciclo: por um lado o sec de saúde tinha problemas de fato para contratar médicos, seja pela falta de estrutura, pelo salário não poder ser alto (tinha que respeitar o teto municipal, o salário do prefeito), etc. Os honestos ficavam SEM médico os corruptos contratavam ESTUDANTES! Claro que na época fizemos denúncias ao CRM que originaram fiscalizações. Há relatos de filme policial: colega nosso pulando a janela do consultório e fazendo inveja a USAIN Bolt!
Mas a gente, que é do debate, tentava dialogar e convencer os amigos a não fazerem isso. Na época escrevi um texto chamado “A arte de colocar em risco a vida da mãe… dos outros!”, pra tentar pelo convencimento que não fizessem isso. Não teve jeito.
Até e-mail anônimo pelo e-mail da turma recebi, dizendo que se não parasse ia acordar com a boca cheia de formiga. Pra vocês verem o nível.
2 – Pois é. Essa historinha de antes foi só para demonstrar como o problema da falta de médicos era evidente. E há muitos anos. E qual era a saída que muitos municípios achavam?
Contratar estudante, ficar sem médico ou se submeter a chantagem dos poucos colegas que topavam trabalhar lá. E como era essa chantagem? O colega chegava e dizia “ó, eu trabalho, mas só trabalho X horas”.
É logico que essas “X” horas não seriam as 40horas do contrato que ele assinava, né? Pois então. Os caras faziam o mesmo com VÁRIOS municípios, passavam 2 a 4h em cada município por SEMANA e recebiam o salário de 40h de TODOS eles.
Em 2011 o Ministério da Saúde decidiu dar um basta nesse negócio. Queriam colocar um limite de 2 vínculos públicos, algo que eu achava bastante razoável, visto que os contatos em sua maioria eram de 24 a 40 horas por vinculo.
Eu era Presidente da Associação Pernambucana dos Médicos residentes e estive numa reunião onde vi com meus olhos (ninguém me disse) algumas lideranças médicas tentarem dissuadir a equipe do ministério, dizendo que geraria CAOS na SAUDE tirar estes colegas (vejam bem, ESTES colegas) dos postos de trabalho. Ao que o Ministério disse: “Caos já existe, só que os números estão mascarados! A gente precisa saber realmente a dimensão do problema pra saber o quer fazer”. Pois bem. Saí abismado.
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