PROGRAMA DO BIAL ABORDA A GUERRILHA DO ARAGUAIA
- Alexandre Costa
- 16 de mai. de 2018
- 3 min de leitura

A Guerrilha do Araguaia, um dos episódios mais brutais da história do Brasil, foi tema do #ConversaComBial desta terça-feira (15/5), com Belisário Franca, Raimundo Pereira de Melo, Hugo Studart e Matias Spektor.
matéria publicada pelo site https://omelete.com.br
Apelidada de "Vietnã Brasileiro", por ter mobilizado regiões rurais do Centro Oeste contra o governo militar, nos anos 1970, a Guerrilha do Araguaia gerou traumas psicológicos, sociais e morais em toda uma geração de combatentes. Lançado nesta quinta-feira (22), o filme Soldados do Araguaia, de Belisário Franca (Menino 23), explora os traumas de quem participou do conflito, como vítima ou algoz.
Omelete: Que linha comum liga os homens elencados em Soldados do Araguaia e o que eles representam como censo demográfico do Brasil?
Belisário Franca: Durante a pesquisa nos detivemos em soldados de baixa patente e oriundos da região do Araguaia.Suas famílias viviam de atividade rurais, do extrativismo e da caça. Faziam parte da população ribeirinha da região amazônica. Em comum, eles tinham o contato com a natureza e uma visão idealizada do Exército como uma possibilidade de futuro diferente dos seus familiares.
Qual foi o maior saldo da Guerrilha do Araguaya para nossa noção de Democracia?
Considero difícil fazer esta avaliação, até porque o saldo de um acontecimento não está dado de uma vez por todas e depende, antes, do que cada um de nós e nossa sociedade conseguimos fazer daquele acontecimento. Pelo testemunho dos soldados, podemos ver que a guerrilha do Araguaia foi aterrorizante para todos que estiveram envolvidos. Soldados, população ribeirinha, indígenas e os militantes do PC do B sofreram os horrores de uma guerra que se encontram gravados na memória e nos relatos.
Qual foi o saldo do conflito?
Passadas décadas do conflito, porém, vivemos ainda um tempo em que muitos alimentam a ideia de que "o melhor para a sociedade é dirigir o olhar para o futuro", fazendo do silêncio sobre o passado, uma norma e quase uma obrigação. Essa postura hipoteca os nossos destinos no barco furado das versões edulcoradas da realidade brasileira. E, no entanto, constatamos todo dia, que o Brasil que saiu da ditadura à toda, na direção do "pra frente Brasil" , sem que o tempo de violações tenha sido suficientemente elaborado, se encontra hoje, mais do que nunca, entre os países que mantêm os níveis de violência mais altos e aberrantes. Fazer a escolha de negar sistematicamente o racismo, a expoliação, o machismo, o extermínio das populações indígenas, e as variadas formas de violência que praticamos enquanto nação, permite a perpetuação dessas práticas e, se não impede, ao menos desafia diariamente, nossa democracia. Resta, no entanto, a cada um, e à nação, a tarefa de produzir algum saldo, de fazer valer o real – por mais terrível e complexo - que está implicado nos acontecimentos e impasses de nossa história remota ou recente.
Sua obra sempre primou pela diversidade, porém percebe-se agora um rasgo recorrente de interesse pela questão da intolerância e pela opressão. Essa dimensão é clara já para você? Como? Qual é o norte do seu cinema hoje?
Mais do que a intolerância, tenho me interessado pelo silenciamento das histórias do Brasil. Ando desconfiado “do país do futuro”. Uma sociedade que produz historicamente e ativamente amnésia de suas práticas violentas e que não entra em contato com esse traço ,tem poucas chances de virar o jogo para uma sociedade mais justa.
O cinema pode pouco para transformar uma sociedade. Mas o pouco que pode, me interessa.
Tenho procurado jogar luz sobre essas histórias silenciadas num esforço de me conectar com o tempo presente.
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