Considerada a “bala de prata” contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a delação do empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, só foi aceita depois que ele decidiu mudar sua versão para incriminar o ex-presidente. O petista é apontado como o candidato com maior potencial de votos em pesquisa Ibope e o vencedor, se as eleições presidenciais fossem hoje, em pesquisa Vox Populi.
Em junho do ano passado, segundo reportagem de Bela Megale e Mario Cesar Carvalho, na Folha de S.Paulo, a delação “travou” depois que ele inocentou Lula.
Também no ano passado, em agosto, a delação foi suspensa quando vazaram trechos que incriminaram o senador Aécio Neves (PSDB-MG), e não Lula. Logo depois, a revista Veja publicou um suposto trecho envolvendo o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, o que levou o procurador-geral Rodrigo Janot a pedir a anulação do acordo.
Agora, em depoimento em Curitiba, Léo Pinheiro teria afirmado que o petista seria o proprietário “oculto” do apartamento tríplex na Praia do Guarujá, a respeito do qual as investigações entram em uma fase decisiva. Além disso, teria dito que o ex-presidente o orientou a destruir provas do pagamento de propina ao PT. A sugestão teria ocorrido em uma conversa em 2014, dois meses após o início da Operação Lava Jato.
Segundo Pinheiro, as obras que a OAS fez no apartamento tríplex do Guarujá (SP) e no sítio de Atibaia (SP) foram uma forma de a empresa agradar a Lula, e não como contrapartidas a algum benefício que o grupo tenha recebido.
Pinheiro narrou que Lula não teve qualquer papel na reforma do apartamento e nas obras do sítio, segundo a Folha apurou. A reforma do sítio, de acordo com o empresário, foi solicitada em 2010, no último ano do governo Lula, por Paulo Okamotto, que preside o Instituto Lula. Okamotto confirmou à PF que foi ele quem pediu as obras no sítio.
Já a reforma no tríplex do Guarujá, pela versão de Pinheiro, foi uma iniciativa da OAS para agradar ao ex-presidente. A empresa gastou cerca de R$ 1 milhão na reforma do apartamento, mas a família de Lula não se interessou pelo imóvel, afirmou ele a seus advogados que negociam a delação, em versão igual à apresentada por Lula.
No processo que está nas mãos de Moro, Lula é acusado de receber o triplex no Guarujá da OAS de maneira velada, porque o imóvel permanece em nome do grupo. Em troca, o governo do petista teria garantido à OAS três contratos com a Petrobras, por obras nas refinarias REPAR e RNEST.
Até agora, nenhum dos executivos da OAS ouvidos por Moro no processo apontaram Lula como o dono do triplex.
Em nota divulgada no portal oficial de Lula, a equipe do presidente destacou a pressão em torno de Leo Pinheiro. "É neste contexto que o empresário vai falar a Sérgio Moro na próxima quinta. Preso, dentro de um processo em que também é réu e, segundo seus advogados, negociando uma delação para sair da cadeia, que caberá a Sérgio Moro decidir se ele será ou não merecedor."
"Independentemente do que vier a dizer Léo Pinheiro", acrescentou, "fato é que a Polícia Federal grampeou o celular do empresário, derrubou seus sigilos fiscal, bancário e de correspondência, leu todos os seus emails e mensagens trocadas por telefone celular. Em nenhum desses locais encontrou informação de que o tríplex seria de Lula, tampouco sobre o dito caixa geral mantido pela construtora para fazer pagamentos indevidos ao PT. Que a verdade prevaleça."