
Útero é a primeira incursão pelo ambiente virtual do Coletivo Teatro da Crueldade e estreia no dia 25 de setembro, com sessões até o dia 12 de outubro, sempre às 20 horas, aos sábados, domingos, segundas e terças-feiras. O espetáculo solo de Karine Paz, tem direção de Marcelo Restori, produção de Fábio Cunha e criação audiovisual de Fredericco Restori e aborda a elaboração das memórias e fantasias de uma mulher em isolamento, confrontada por seus desejos e dores, diante de sua cama, paredes e tecnologias do mundo contemporâneo. Os ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla, com valores de R$ 10,00 a R$ 80,00 e não é recomendado para menores de 18 anos.
A proposta é transpor a linguagem original do Coletivo numa ousada experimentação audiovisual executada em plataforma online ao tratar do universo feminino através de um espetáculo de arte, híbrido e performático, que mescla teatro, performance, dança, audiovisual e ambiente virtual numa coreografia dramática gerada pela fluidez dos movimentos de uma narrativa simbólica, criada a partir da fisicalidade da atriz e diretora de teatro Karine Paz.
Um quadro em movimento, engendrado por uma delicada erupção de sentimentos, concebidos como teatro\dança, decupados e filmados como cinema pela lente criativa do premiado cineasta e ator Fredericco Restori para ser exibido em plataforma online. O diretor, Marcelo Restori e seu grupo, que nos anos 90 e 2000 promoveram uma das investigações cênicas mais profícuas do teatro gaúcho, ao revelar inúmeros espaços alternativos com inovadoras encenações, agora se aventuram em experimentar o potencial da extensão tecnológica para fomentar arte em plataforma virtual.
O útero representa todas as mulheres, porque é, simbolicamente, a casa da alma feminina, capaz de parir a própria mulher, gestando sonhos e concebendo projetos. Uma morada na qual todas as mulheres podem se acolher, por ser o lugar de onde todos viemos.

FOTO: Márcio Garcia
FICHA TÉCNICA Elenco: Karine Paz. Direção: Marcelo Restori. Direção de fotografia e montagem: Fredericco Restori. Fotos: Márcio Garcia. Produção: Fábio Cunha.
COLETIVO TEATRO DA CRUELDADE É um grupo que realiza espetáculos e performances com uma estética surpreendente, provocando arrebatamento por onde passa. Formado por artistas históricos do teatro de rua de Porto Alegre, ex-integrantes do lendário Falos & Stercus, precursores do teatro performático e reconhecidos por suas inovações de linguagem, resultado da ruptura e subversão ao teatro tradicional com sua hibridez e estética original. Através de suas encenações encontraram formas diversas de invadir o cotidiano com fortes e poéticas imagens para dialogar com o imaginário da cidade. Foi escalando prédios para dançar sobre as fachadas da cidade ou parando o trânsito numa via de grande fluxo apenas para exercitar suas presenças cênicas ou, ainda, se desnudando em plena rua que transformaram em palco: ruas, parques, telhados, esgoto, estádio de futebol, manicômio, cemitério, ilhas, entre outros. Uma proposta dionisíaca, reelaborada por uma mitologia contemporânea com a intenção de dialogar, de forma sensorial, com o imaginário da cidade através de sua linguagem original e estética ousada. O nome do grupo vem de uma referência ao Teatro da Crueldade de Artaud: Para o qual o Teatro da Crueldade é um conjunto de ideias teatrais propostas pelo ator, diretor, poeta e teórico francês Antonin Artaud (1896-1948) que deram origem ao teatro contemporâneo. O Teatro da Crueldade rejeita não somente as características do teatro tradicional, mas também, de modo geral, o racionalismo da sociedade ocidental. O termo "crueldade" se refere aos meios pelos quais o teatro pode abalar as certezas sobre as quais está assentado o mundo ocidental - a começar pela própria linguagem. Entre os elementos teatrais mais combatidos estão a visão do teatro como entretenimento; a caracterização psicológica dos personagens; a valorização exagerada do enredo; e o predomínio da dramaturgia em relação à encenação. A base é o teatro físico, centrado na experiência corpórea dos atores e, por conseguinte, também do público; a interação entre atores e espectadores; o fim da divisão entre palco e plateia, com a encenação ocupando todo o espaço; um espaço teatral não tradicional (espaços adaptados, galpões, igrejas, hospitais ou quaisquer outros lugares que a encenação demande); e, sobretudo, o teatro visto como experiência ritualística, destinada à cura das angústias e à reintegração do homem à sua totalidade física e espiritual. HISTÓRICO DO COLETIVO TEATRO DA CRUELDADE Nesses vários anos atuando dependurados nas fachadas de grandes prédios, os integrantes do Coletivo Teatro da Crueldade ficaram reconhecidos por suas inovações de linguagem resultado da ruptura e subversão ao teatro tradicional com sua hibridez e estética original. O Coletivo Teatro da Crueldade nasceu em 2016, como resultado das oficinas de Marcelo Restori no Fórum Social e das pesquisas que se desenvolveram desde 1987, quando o diretor iniciou a criação de seus espetáculos e performances, reconhecidos pela crítica internacional especializada por seu caráter original e inovador. O processo de investigação do Despindo a Cidade dos Preconceitos ampliou a ideia que o diretor já havia apresentado em Ilha dos Amores, considerado o evento cênico de 2013 pelo jornal Zero Hora, ao intervir no fluxo da cidade, fazendo brotar sexualidade de dentro do esgoto do Arroio Dilúvio em Porto Alegre. O Despindo foi apresentado inicialmente na entrada do túnel da Conceição e na rua dos Andradas em frente à Casa de Cultura Mario Quintana, gerando diálogo com o imaginário da cidade sobre o prazer e provocando os tabus da sexualidade humana. Com esse propósito foram realizadas a seguinte sequência de apresentações: Em 2016, no fechamento da Ponte de Pedra no Largo dos Açorianos; no Festival Cultura pela Democracia; no Sarau Elétrico Bela, Recatada e do Lar, no Bar Ocidente; no Largo Vivo da Escolas Independentes, em frente à Prefeitura; no evento Rebuliço Cultural. Em 2017, em frente ao Santander Cultural no manifesto contra a censura à exposição Queermuseu. Em 2018, na nova orla do Guaíba. No início, eram provocações dionisíacas, contudo, as experiências trazidas por Karine Paz, atriz e diretora de teatro formada na UFRGS e ex-integrante do Grupo Experimental de Dança de POA, com sua pesquisa de teatro de rua e estética do teatro/dança, além das questões sobre o abuso feminino, deram origem ao Despindo o Abuso, versão do Despindo com o tema da violência de uma sociedade machista e misógina, o qual causou forte impacto em 2019, na apresentação de abertura do III Congresso Estadual de Cultura no teatro Casa das Artes, em Bento Gonçalves. A proposta do Coletivo Teatro da Crueldade com a pesquisa e sequência de intervenções foi subverter o cotidiano da cidade e seu caos urbano através de uma releitura contemporânea do rito dionisíaco.
As variantes de suas investigações partem do teatro físico e sensorial, buscando despertar a cumplicidade ativa com a participação do público.
Uma forma de transformar a rua e o palco num fórum simbólico potencializado de afetos para provocar a estranheza capaz de desencadear processos de libertação sobre as amarras moralistas e propiciar a humanização do imaginário da cidade, criando uma mitologia contemporânea gerada sob a perspectiva da arte.
Com o objetivo de atingir um diálogo mais profundo com o imaginário da população, o rapel no trabalho dos integrantes do Coletivo nasceu de uma longa inquietação por efetivar o uso da arquitetura vertical das cidades e a memória de sua paisagem nas encenações do coletivo.
Foi a partir da sugestão do ator Fábio Cunha e sua experiência com rapel na aeronáutica, em 1998, que o diretor e dramaturgo Marcelo Restori resolveu inserir elementos dramáticos e de linguagem que justificassem essa pesquisa em O Clã Destino, espetáculo encenado pelo Falos & Stercus, enquanto os dois faziam parte do grupo.
O Rapel Cênico foi uma das técnicas que melhor se adaptou à linguagem do grupo, após ser aperfeiçoado com o criador da técnica, o francês Stepháne Girard, do Circo de Archaos, e, em anos de experimentações do Coletivo em performances, espetáculos e oficinas realizadas pelo grupo no país e no exterior.
Com as técnicas do rapel cênico, o grupo realizou inúmeros espetáculos, performances e oficinas, como: a abertura do show do músico franco-espanhol Manu Chao, em 2000, no Auditório Araújo Viana/POA. a performance da 3ª Bienal de Artes do Mercosul, em 2001, no Hospital Psiquiátrico São Pedro. a performance do evento multimídia Freezone, em 2001, realizado no Galpão A7 no Cais do Porto/POA. a performance de abertura da exposição de obras do pintor Catalão Joan Mirò no Santander cultural em POA, em 2005. a performance da decisão do campeonato goiano no estádio Serra Dourada para mais de 30 mil pessoas, em 2011. o espetáculo In Surto, eleito pela revista Cult como um dos dez espetáculos da década no Brasil, de 2000. a Ópera Açoriana apresentada na frente do palácio Piratini em Porto Alegre e no teatro Micaelense nos Açores, em 2014. o videoclipe da performance O Amor Sobre o Concreto da Cidade, representante do Brasil na abertura do COP21 de Paris, em 2015 e, que já tem mais de 100 mil visualizações no YouTube. entre outras tantas. Fredericco Restori e Marcelo Restori são formados em Cinema na PUCRS. Marcelo, na primeira turma, em 2006, e Fredericco, na turma de 2019, com sua parceira Natália Pimentel, que juntos formam a Oito e Meio Filmes, responsável pelas obras audiovisuais do Coletivo. A cena de rappel cênico criada pelo coletivo para o Filme Yonlu de Hique Montanari, com direção da performance de Marcelo Restori, preparação de rapel cênico de Fábio Cunha e atuação de Fredericco Restori e Ju Coutinho, foi citada pela crítica Maria do Rosário Caetano, no Festival de Cinema de Gramado de 2018, como a cena mais impactante do cinema brasileiro.
Enfim, o Coletivo Teatro da Crueldade, apesar de ser relativamente novo, conta com integrantes com vasto currículo de feitos e prêmios por sua obra referencial na história do teatro brasileiro e, com reconhecimento internacional pelo caráter inovador e único de sua ousada estética.
Abaixo comentários sobre alguns trabalhos do diretor do Coletivo Teatro da Crueldade, enquanto diretor do lendário Falos & Stercus e outras criações:
O Falos & Stercus abalou Londres como uma tempestade. A Inglaterra nunca tinha visto um espetáculo como esse. Para uma fria e úmida Londres, o grupo trouxe fogo e excitação que acenderam a comunidade teatral. Seus ingressos foram os mais vendidos na cidade e em todas as noites formaram-se filas de espera. A plateia ficou incrédula, chocada, aturdida, excitada, maravilhada e deleitada pelo que viu. Suas apresentações e oficinas foram apreciadas por artistas de diversas partes do mundo. O circuito teatral londrino nunca mais será o mesmo. (Luke Dixon, diretor de teatro, curador do International workshop festival e dr. em teatro).
Para escritor Moacyr Scliar: Quando se fala em imaginação, em fantasia, inevitavelmente está se falando no Falos & Stercus, que tem assombrado Porto Alegre com espetáculos que reúnem beleza, inteligência, audácia e uma espantosa criatividade(...); para o crítico teatral gaúcho Antonio Hohlfeldt (...)
O Falos & Stercus, graças a Marcelo Restori, está sempre surpreendendo seu público fiel.(...);para o filósofo especialista em estética, Gerd Bornheim (...) é uma originalidade inovadora como a do Falos & Stercus, que revigora a estética teatral(...);para o diretor de teatro e psicanalista Júlio Conte(...) Marcelo Restori e Falos & Stercus redimem o fazer teatral em Porto Alegre(...);para o escritor Charles Kiefer(...) O Falos foi o maior vento de renovação do teatro gaúcho. Só pela revolução que produziram na província já terão o seu nome assegurado na história.(...); para o escritor e crítico Paulo Hecker Filho(...) Marcelo Restori dá vida a telhados(...); para Peter James, diretor de fotografia americano e presidente do corpo de jurados da fase internacional do prêmio Kodak: Os premiados de 2007 são de primeira classe, e Placebo, um filme provocativo que traz um olhar Felliniano em ousados ângulos de câmera. Um Caravaggio em movimento.